Para ex-presidente da Petrobras, críticas do PSDB representam luta política

José Eduardo Dutra afirma que setores estão descontentes com nova política de regulação do petróleo, por isso criticam atual gestão da empresa

Para Dutra, atual diretor corporativo da Petrobras, tucanos travam luta política pelo descontentamento com novo marco regulatório do petróleo (Foto: Antônio Milena/Agência Brasil)

São Paulo –  Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o ex-presidente e atual diretor corporativo da Petrobras, José Eduardo Dutra, contestou as críticas do PSDB à atual gestão e às contas da companhia. Para ele, os tucanos travam uma luta política devido ao descontentamento com o novo marco regulatório do petróleo.

“O Congresso Nacional, a partir de um projeto encaminhado pelo poder Executivo, aprovou que nessas áreas do pré-sal não teria mais o modelo de concessão, seria o modelo de partilha de produção. Ou seja, a empresa exploradora descobre o petróleo e o o petróleo não seria só da empresa. Uma parte significativa, em torno de 50%, iria para a União”, disse.

De acordo com ele, este modelo foi bombardeado pelos setores que defendem os interesses de grandes empresas de petróleo. Além de introduzir o modelo de partilha, ficou estabelecida a obrigatoriedade de a Petrobras ter participação mínima de 30% nos campos de pré-sal.

“Agora estes setores querem convencer a sociedade que tem que mudar a lei, que a Petrobras não pode ter essa participação mínima, porque ela não teria a capacidade de operar e desenvolver a produção do petróleo do pré-sal. O que é um absurdo, porque a Petrobras é reconhecidamente uma das empresas mais competentes em termos de desenvolvimento e tecnologia em águas profundas. O que observamos é uma mistura de oportunismo político com interesses de grandes grupos econômicos”, explicou.

Um aspecto revelador da competência da empresa, destaca Dutra, é o índice exploratório da Petrobras em 2012, que foi de 64%. Isso quer dizer que em cada dez poços perfurados, foi encontrado petróleo em pouco mais de seis.

“Na área do pré-sal, o risco de não achar petróleo é muito menor, e o índice de sucesso foi de 82%. Ou seja, a cada dez postos que a Petrobras perfurou no pré-sal, ela achou petróleo em oito postos. Isso demonstra a capacidade do corpo técnico da empresa, e nos revolta ao vermos pessoas tentando desqualificar sua competência.”

Outro aspecto que revela a gestão de competência de gestão da Petrobras no governo do PT é quanto à produção de gás, defende o diretor. Quando assumiu a presidência da empresa, em 2003, um dos principais problemas a enfrentar era o contrato com o governo boliviano, que forneceria gás natural através do gasoduto Bolívia-Brasil.

O acordo previa o fornecimento de 30 milhões de metros cúbicos de gás por dia e a Petrobras era obrigada a pagar esse valor, mas pelo consumo menor, de 11 milhões de metro cúbicos. “O contrato é assim. Quando você faz um contrato de longo prazo, você estabelece uma cláusula de obrigação do comprador em consumir o gás. Não consome, tem de pagar. Hoje essa realidade mudou totalmente. Hoje os 30 mil são consumidos, porque desenvolvemos um mercado de gás, desenvolvemos um mercado de geração de energia elétrica.”

Reajuste de preços

O diretor da Petrobras vê contradição no discurso do PSDB, ao afirmar que o governo federal prejudica a empresa porque não pratica uma política de reajuste de preços dos combustíveis com base do aumento do valor do petróleo no mercado externo.

“Eu gostaria muito de ver essas pessoas defendendo no palanque que deveria haver aumento de preço da gasolina uma vez por mês. Gostaria de ver o candidato do PSDB defender isso. Mas sei que não vai acontecer. O Brasil é um mercado aberto, e como o petróleo é uma commoditie, você tem de levar em consideração o preço internacional.”

Ele defende, entretanto, que a empresa não deve “fazer toda e qualquer oscilação que acontece nos preços do mercado internacional nos preços do Brasil”. Ele explica que a Petrobras busca praticar preços do Brasil em linha, no longo prazo, com os preços do mercado internacional.

Ele ainda ressalta importância de novas condições de renda da população. Assim, o aumento do consumo de combustível já não se dá nos mesmo patamares do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), como historicamente é registrado, afirma.

“O ano passado o PIB do Brasil cresceu em torno de 1% , ainda não saiu o número oficial, mas vai ficar em torno disso. No entanto, o mercado subiu 6%, porque você tem hoje um grande volume de mercadorias que circulam e impulsionam o aumento do comércio em função da distribuição de renda, em função de pessoas que passam a consumir uma série de coisas que antes não consumiam.”

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