Para Erundina, já seria hora de uma mulher comandar o país

Chances reais de três mulheres vencerem eleições presidenciais em 2010 é comemorada pela deputada federal e ex-prefeita de São Paulo. Mas falta muito para haver equilíbrio entre gêneros

Erundina, prefeita de São Paulo de 1989 a 1992, acredita ter contribuído para o quadro atual (Foto: ABr/Arlindo Cruz)

Para a deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSB-SP), o fato de haver mulheres em condições de disputar e vencer as eleições presidenciais em 2010 é um avanço da sociedade. Em entrevista à Rede Brasil Atual, ela sustenta que “é importante corrigir a distorção do sistema político que exclui mais da metade da população brasileira” de uma representação adequada. 

Luiza Erundina foi prefeita de São Paulo de 1989 a 1992. Ela conta que nem mesmo seu partido à época, o PT, acreditava na possibilidade de uma mulher de origem nordestina vencer a eleição municipal. “Só saí candidata porque disputei a primeira prévia na cidade com Plínio de Arruda Sampaio, e tive apoio das bases partidária, então muito fortes”, sustenta.

Como não havia previsão de viabilidade de sua vitória, os outros candidatos que apareciam na frente nas pesquisas, Paulo Maluf e João Leiva, não se preocuparam. “O resultado foi inusitado, mas foi fruto de um processo social.”

Nesse contexto, Erundina se diz orgulhosa de ter contribuído, como prefeita, parlamentar e dentro da luta do movimento de mulheres, para haver três candidatas com condições reais de disputar e ganhar o cargo maior do país. “Quem sabe? Já era hora de uma representante de mais de 50% da população comandar o país”, reflete.

Ela lembra que o contexto era muito diferente do atual, porque a sociedade estava organizada na luta pelo fim da ditadura militar e durante a Constituinte. “Nos movimentos pela redemocratização, por direitos humanos, direitos políticos e outros, as mulheres tiveram uma importância grande”, aponta.

Após 20 anos, ela lamenta que ainda não haja condição de igualdade para a disputa e lembra, como exemplo, que apenas 9% dos mandatos da Câmara dos Deputados são de mulheres. “Não podemos dizer que haja uma democracia de gênero, como não temos plenamente democracia racial, social nem política”, alerta.

Erundina atribui o cenário à luta de todas as mulheres nos últimos 20 ou 30 anos em toda a sociedade, com avanços nas universidades, no mercado de trabalho e com a elevação da formação. “Quanto mais as mulheres ocuparem espaços de decisão na sociedade, mais se revertem os desequilíbrios em outros campos”, defende.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres possuem, em média, mais anos de estudo do que os homens – sete contra seis. Se no mercado de trabalho elas têm rendimentos 30% inferiores aos homens por cargos equivalentes, nos espaços de poder político da sociedade ocorre uma subrepresentação.

Novos avanços, na visão da deputada, passam por mudanças culturais em instituições como partidos, a família e a Igreja, onde o conservadorismo prevalece.

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