Na Casa Branca

Analistas destacam importância econômica e política da viagem de Dilma aos EUA

Apesar de boicote da imprensa e da oposição, viagem oficial aos Estados Unidos e diálogo com presidente Barack Obama são necessários e economicamente positivos

Roberto Stuckert Filho/PR

“Encaramos o Brasil como um poder mundial, e não regional”, disse presidente dos Estados Unidos

São Paulo – Questões ideológicas à parte, a visita da presidenta Dilma Rousseff aos Estados Unidos se justifica pelos números e também politicamente. Com US$ 9,7 bilhões de janeiro a maio de 2015, os Estados Unidos de Barack Obama são atualmente o segundo maior comprador de produtos brasileiros, atrás apenas da China, que importou do Brasil US$ 13,7 bilhões este ano. Mas as exportações brasileiras aos norte-americanos caíram cerca de 8% em relação ao mesmo período de 2014, quando chegaram a U$ 10,5 bilhões. Nos primeiros cinco meses deste ano a balança comercial entre os dois países foi desfavorável ao Brasil em U$ 2 bilhões.

Segundo analistas, a viagem de Dilma aos Estados Unidos é não apenas necessária como política e economicamente positiva, apesar de deliberadamente encoberta por manchetes ligadas a novas denúncias relacionadas à Operação Lava Jato.

“Com certeza você vai ver a oposição boicotar ou pelo menos diminuir essas iniciativas. Mas realmente é vital para o governo dela, abrir novas possibilidades, se reaproximar dos Estados Unidos, nesse caso”, avalia Thomas Heye, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense.

Ele lembra que a reaproximação com os Estados Unidos, que ficaram azedas depois das rusgas iniciadas com as denúncias de espionagem em 2013, feitas pelo ex-agente da NSA Edward Snowden, não é um gesto isolado. “Alguns meses atrás Dilma estava fazendo acordos com a China. Isso mostra uma postura pragmática por parte do governo na política externa. O que é positivo, porque Dilma está também tentando buscar no exterior meios de resolver alguns dos nossos problemas domésticos.”

Na opinião da professora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) Maria Antonieta Del Tedesco Lins, “dada a crise pela qual estamos passando, qualquer possibilidade de novos negócios é muito bem-vinda”. “Independentemente do ajuste fiscal e das políticas levadas adiante, o governo tem que continuar funcionando.”

Para ela, com os altos preços das commodities, que beneficiaram o país principalmente na década passada, o Brasil “de certa forma se acomodou”, já que mantinha superávits comerciais, com base em produtos primários ou semi-industrializados.

Mas hoje a crise econômica é inegável e não deve haver grandes expectativas de reversão de indicadores negativos tão cedo. Mais um motivo para as relações Brasil-Estados Unidos se desenvolverem. “Acho muito positiva a visita aos Estados Unidos e não acho que seja uma forma de fugir da questão nacional, de forma nenhuma. A presidente tem que tocar todas as questões, política externa e interna igualmente. A crise (econômica) está aí, é muito séria, e ainda vamos receber anúncios de indicadores econômicos muito negativos. Mas esperamos que as políticas postas em prática vão dar algum resultado no futuro, que não vai ser tão próximo.”

Mas, por outro lado, a professora não vê uma crise política nas proporções que têm sido alardeadas por opositores e imprensa. Nesse sentido, a ida de Dilma aos Estados Unidos, com a consequente aproximação de investidores, é um dado relevante. “É extremamente importante esse passo de aproximação, encontros com empresários nos Estados Unidos etc. Claro que, se tivesse uma situação política muito adversa, o que, na minha opinião, não é o caso nesse momento, as empresas não viriam. Acho que não estamos vivendo uma crise política ao ponto de afugentar investimento estrangeiro, de forma nenhuma. A imprensa aumenta muito”, diz Maria Antonieta.

Apesar da importância estratégica e do potencial de atrair investimentos, por motivos ideológicos, há quem, do campo progressista, tenha se manifestado nas redes sociais contra a visita da brasileira ao colega norte-americano. “Acho um erro (essas críticas). Os Estados Unidos são o maior mercado consumidor do mundo. Eles têm dinheiro e gostam de consumir. As relações devem ser com os Brics e ao mesmo tempo com os Estados Unidos”, afirma Heye.

Na opinião da professora da USP, o momento conturbado, com a crise econômica, a dificuldade de diálogo entre Legislativo e Executivo, além da Operação Lava Jato, têm um aspecto positivo. “Nossas instituições estão aí, funcionando perfeitamente. Não foram atacadas, pelo contrário.”

Afagos

Num contexto de afagos mútuos, depois de reunião com Obama na Casa Branca, Dilma disse que a intenção é dobrar a corrente do comércio entre os dois países em dez anos.  Segundo ela, foi estabelecida uma agenda bilateral “robusta” em várias áreas, como comércio, energia, educação, defesa, ciência e tecnologia e inovação.

O presidente Obama elogiou o país governado pela colega. “Nós encaramos o Brasil como um poder mundial, e não regional. Em termos de fórum econômico para coordenar relações e negociações, como o G20, por exemplo, o Brasil tem uma voz muito forte.”