São Paulo – Em encontro fora da agenda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), na manhã desta segunda-feira (5) no Palácio da Alvorada, residência oficial do chefe do governo, em Brasília. Eles conversaram por cerca uma hora. Lira deixou o local às 9h20, segundo o g1. O teor da conversa não foi revelado.

Foi o primeiro encontro entre os presidentes do Executivo e da Câmara depois da tensão da semana passada, quando a Câmara aprovou a MP dos Ministérios, que estrutura formalmente o governo Lula. A medida provisória correu sério risco de ser rejeitada ou nem mesmo ser votada, o que faria com que a  organização da Esplanada voltasse a ser a do governo Jair Bolsonaro.

Depois da reunião com Lula, o presidente da Câmara – em entrevista exclusiva à CNN Brasil – comentou que o esforço do Planalto para ter uma base na Casa vai se intensificar. “O governo vai, a partir de hoje, com a presença e a participação do presidente Lula, ter uma participação mais efetiva na construção dessa base mais sólida”, disse. Ele voltou a fazer cobrança. “O governo precisa se mobilizar e a articulação precisa estar mais atenta.”

Parlamento é “liberal e conservador”

O deputado destacou ainda que o parlamento eleito nas últimas eleições presidenciais é “reformador, liberal e conservador”. “Nós sabemos que a dinâmica hoje é outra. Através das redes sociais, os parlamentares sofrem influência direta dos seus eleitores. A realidade fática de um Congresso de hoje não é igual ao de um Congresso de 20 anos atrás”, acrescentou Lira.

Em entrevistas no dia da votação, quarta-feira (31), ele havia dado recados diretos. “Venho alertando o governo dessa inanição, dessa falta de ação, da falta de pragmatismo na resolução dos problemas dos deputados, na falta de atenção”, disse.

A reunião desta segunda foi também a primeira depois que a Polícia Federal desencadeou uma operação contra aliados de Lira em Alagoas, em investigação sobre desvios em contratos de compra de kits de robótica com dinheiro do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Lira ficou desconfiado da coincidência, já que a ação da PF se deu no dia seguinte à tensa votação da MP e os alertas de Lira sobre a articulação do Planalto. No dia seguinte, o ministro da Justiça, Flávio Dino, foi à residência oficial da Câmara para conversar com o presidente da Casa, quando negou que a operação tivesse o intuito de atingir Lira como retaliação ou ameaça.

Articulação política em pauta

No final da tarde de hoje, Lula se reúne com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, alvo de pesadas críticas de Lira. Na semana passada, o deputado alagoano apontou diretamente a articulação política do governo e disse que havia uma “insatisfação generalizada” dos deputados federais.

No dia da votação da MP dos Ministérios um deputado do PT relatou à RBA que, de fato, a reclamação na Câmara contra o governo era “geral” na Casa, devido à falta de repasses de valores de emendas parlamentares e lentidão no  preenchimento de cargos de segundo e terceiros escalões.

Na sexta-feira (2) Padilha afirmou que o governo iria melhorar a articulação. “Vamos sempre trabalhar para melhorar. O que não muda é a disposição do diálogo”, garantiu.