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Lula quer pressa em anúncio de realizações antes dos 100 dias. ‘Quatro anos passam rápido’

Presidente afirma que não quer propostas de ministros, mas de governo. Por isso, “em nome da coesão e da unidade”, todo projeto deve ir à Casa Civil e Presidência antes de ser anunciado

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
“Antes de anunciar é importante fazer uma reunião com a Casa Civil", diz Lula ao lado de Rui Costa

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu 19 de seus 37 ministros na manhã desta terça-feira (14) para pedir agilidade na retomada de políticas públicas, sobretudo na área social. Lula disse aos ministros pretende ter várias medidas em andamento ou realizadas antes de completar 100 dias de governo – já se passaram 73.

O presidente observou que a comissão de transição já havia determinado como meta ter a primeira grande avaliação do governo ao final dos primeiros 100 dias. “Mesmo o que não foi anunciado a gente vai anunciar em breve. Não temos muito tempo, o mandato é muito curto”, disse. “Mandato de quatro anos, para quem está no governo, passa muito rápido. Demora muito para quem está na oposição, mas para quem está no governo é rapidíssimo.”

Em outra reunião ampliada, na sexta-feira (10), Lula já havia abordado a necessidade da eficiência diante do aperto orçamentário. E também da importância de o país retomar o crescimento, tanto para incluir as pessoas na economia quanto para o governo arrecadar mais. “Dinheiro bom é dinheiro transformado em melhoria da qualidade de vida do povo”, disse.

A imprensa teve acesso à abertura da reunião, no Palácio do Planalto, que depois continuou fechada. No encontro, todos fizeram um minuto de silêncio em homenagem de Marielle Franco e Anderson Gome, executados há cinco anos.

“Hoje, ao lado da companheira Anielle Franco, reforcei o compromisso já firmado pelo ministro Flávio Dino de somarmos todos os esforços para descobrirmos quem mandou matar Marielle Franco. #JustiçaPorMarielleEAnderson”, postou Lula ao divulgar o vídeo da homenagem.

Confira quem participou da reunião

  • Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e vice-presidente)
  • Rui Costa (Casa Civil)
  • Fernando Haddad (Fazenda)
  • Camilo Santana (Educação)
  • Margareth Menezes (Cultura)
  • Luiz Marinho (Trabalho e Emprego)
  • Carlos Lupi (Previdência Social)
  • Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome)
  • Nísia Trindade (Saúde)
  • Simone Tebet (Planejamento e Orçamento)
  • Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos)
  • Ana Moser (Esporte)
  • Cida Gonçalves (Mulheres)
  • Anielle Franco (Igualdade Racial)
  • Silvio Almeida (Direitos Humanos e Cidadania)
  • Sônia Guajajara (Povos Indígenas)
  • Márcio Macêdo (Secretaria-Geral)
  • Alexandre Padilha (Relações Institucionais)
  • Paulo Pimenta (Comunicação Social)

Propostas de governo

Lula observou que o anúncio das ações deve ser centralizado a partir da Casa Civil, liderada pelo ministro Rui Costa. “Não queremos propostas de ministros, mas propostas de governo”, afirmou,. Desse modo, a proposta só estará efetivada como de governo “quando todo mundo souber” o que for decidido. “Ou seja, antes de anunciar é importante fazer uma reunião com a Casa Civil para esta discuta com a Presidência da República”, determinou. Segundo Lula, o objetivo é “manter a unidade e coesão do governo”.

Tanto ele como o vice-presidente Geraldo Alckmin falaram das realizações já em andamento, apesar de apenas 73 dias de gestão. Lula mencionou que, na educação, já foi feito o anúncio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e da merenda, e ressaltou que o governo trabalha “na perspectiva de anunciar o programa de escola integral”, assim como a retomada da escola técnica, universidades, “novo modelo de escola pública”.

Também destacou que o Bolsa Família, já em operação, “é uma novidade extraordinária, pela maneira que está colocado”. Segundo ele, “quem não estiver dentro do programa é porque não tem o direito”.

Alckmin destaca “ritmo impressionante”

Alckmin destacou que em apenas dois meses e meio “é impressionante o ritmo forte em todas as áreas” de atuação governamental. Também falou de “fidelidade”, em referência aos compromissos de campanha. Citou o salário mínimo, já anunciado, e a nova tabela relativa à isenção do Imposto de Renda.

O também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, mencionou ainda, na saúde, a retomada do programa de vacinação. E também o trabalho para zerar as filas do SUS, assim como a “firmeza na questão econômica”.

Lula ponderou que a agilidade na execução das ações dos 100 primeiros dias tem de ser acompanhada de responsabilidade. E que os ministros terão todo apoio, desde que “combinando com (Fernando) Haddad e Simone (Tebet)”, os responsáveis pela área econômica. “Para que a gente não erre, não prometa aquilo que não pode cumprir, e faça o que está dentro das possibilidades.”

Evitar riscos

Desse modo, o presidente acrescentou que, se houver necessidade de correr riscos, deve-se “arriscar com viés de acerto acima de 80%”, para “não correr risco de anunciar o que não vai acontecer”. Antes de fechar a reunião para a imprensa, voltou a dizer que não é permitido anunciar “nada que seja novo sem passar pela Casa Civil” e que citaria na reunião fechada casos nesse sentido “que já aconteceram e não pode se repetir”.

O caso mais conhecido se deu ainda em janeiro, quando o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que ao assumir o Ministério da Previdência havia defendido uma revisão da reforma de 2019.  Autorizado por Lula, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, desautorizou Lupi a abordar o tema antes de tratar com o Planalto.