Eleições 2014

Em Minas, Júlio Delgado admite pré-candidatura e dispara contra PSDB

Deputado federal e presidente do partido de Eduardo Campos em MG rebate acusação de que sua legenda descumpriu acordo: 'Eles vão cuidar do PSDB deles, nós vamos cuidar do nosso PSB'

Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados

Deputado do PSB deve ser lançado pré-candidato do partido de Eduardo Campos em Minas

São Paulo – O PSB e o PSDB estão cada vez mais distantes em Minas Gerais e Pernambuco. Depois de o partido do ex-governador Eduardo Campos, segundo a versão tucana, romper em Minas o chamado “pacto de não agressão” com a legenda do senador Aécio Neves, o PSDB deve lançar candidatura própria em Pernambuco. Nas Alterosas, o PSB deve sacramentar nos próximos dias a candidatura do deputado federal e presidente estadual Júlio Delgado ao governo mineiro. Delgado admite a quase certa definição de seu nome como pré-candidato: “não estou saindo de uma candidatura tranquila, de deputado federal, que é muito provável, para ir a um desafio muito improvável, se não acreditasse na causa das pessoas”.

Em entrevista à RBA por telefone, Delgado rebate as acusações de que seu partido rompeu o acordo com o PSDB de Aécio em Minas.  “O pacto de não agressão foi rompido quando, em Pernambuco, saíram falando que ‘pau que dá em Chico também dá em Francisco’.” Delgado se refere à fala do deputado federal e presidente do PSDB de Pernambuco, Bruno Araújo, que na semana passada citou o ditado popular para dizer que seu partido lançaria nome próprio em Pernambuco como consequência de o PSB desrespeitar o acordo em Minas.

O presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana, acusou os socialistas no estado de não cumprirem a palavra e o acordo. “Palavra dada é coisa sagrada para nós e acordo é para ser cumprido”, afirmou Pestana ao jornal Folha de Pernambuco na segunda-feira (19). “Essa composição foi feita aí no Recife, na casa de Eduardo, e com um aperto de mão, que para o mineiro tem um significado muito especial.”

Segundo Júlio Delgado, o PSB não vai ser “pau mandado”. Ele disse também que o candidato do PSDB ao governo estadual – o deputado federal Pimenta da Veiga – não agrada nem aos próprios tucanos. “Ele (Pestana) que cuide das insatisfações do PSDB com relação ao candidato que eles apresentaram, porque nós vamos continuar a nossa caminhada”, aconselhou.

Leia a entrevista de Júlio Delgado:

O senhor será candidato ao governo do estado?

Vamos conversar justamente para poder afunilar isso. Vamos conversar com as lideranças, com deputados estaduais e federais do partido. Estamos colhendo o sentimento da maioria para poder dizer para onde vai ser o caminhar. Há um sentimento muito forte hoje no PSB pela candidatura própria, que tem se consolidado através do nosso nome.

O sr. era considerado aliado de Aécio em Minas, não?

Sou presidente do PSB em Minas. O partido tem assento no governo Aécio, temos uma secretária no governo de Minas (a secretária de Estado de Educação de Minas Gerais, Ana Lúcia Gazzola, é do PSB). Tenho boas relações com Aécio. Agora, se Eduardo (Campos) não confiasse em mim para conduzir o processo em Minas, ele teria colocado outro nome. Ele sabe que, se perguntarem com quem ele conta em Minas pra levar o projeto dele à frente, não tenho dúvidas de qual vai ser a resposta.

Eu sei muito bem distinguir quais são minhas relações pessoais do meu projeto político. Não estou saindo de uma candidatura tranquila, de deputado federal que é muito provável, para ir a um desafio muito improvável, se não acreditasse na causa das pessoas.  Estou trocando o muito certo pelo muito duvidoso porque acredito em causa, numa forma diferente de ver e fazer política de alguns políticos. O normal é o cara se acomodar e esperar aquilo que é mais fácil pra ele. Eu não procuro o que mais fácil e tranquilo para mim.

Então podemos entender que seu nome para o governo de Minas é certo…

É um sentimento muito forte e está se consolidando cada vez mais. Estamos construindo isso para chegar num forma de consenso que possa caminhar a ma candidatura que agregue o sentimento do PSB e possa garantir um palanque a Eduardo e Marina em Minas Gerais.

E como fica o chamado “pacto de não agressão” entre PSB e PSDB em Minas?

Olha, o pacto de não agressão foi rompido quando em Pernambuco saíram falando que ‘‘pau que dá em Chico também dá em Francisco’’. Depois vem o presidente do PSDB falando em traição, quando eles mesmos foram responsáveis, de certa forma, pelo nome que apresentaram e que não tem empolgado o eleitorado mineiro.

Eles vão cuidar do PSDB deles, nós vamos cuidar do nosso PSB. Política é dinâmica. E essas diferenças em algum momento iam precisar ser marcadas, iam aparecer. Eu sempre disse isso lá atrás quando assumi a presidência do PSB em Minas, que íamos participar como protagonistas do processo de Minas e do Brasil, estamos participando e vamos participar.

O deputado Marcus Pestana teria dito que “palavra dada é coisa sagrada para nós e acordo é para ser cumprido”, e que o PSB rompeu o acordo…

Primeiro, ele tem que dizer o seguinte: “Palavra dada é para ser cumprida quando é dos dois lados”. Segundo, não teve acordo. Existiu uma intenção que foi quebrada e nada proíbe que a gente, que é um outro partido, que em Minas tem comando, condução e independência, nós não somos pau mandado de ninguém.

O PSB tem tradição de ouvir suas bases e quando fomos ouvir colhemos outro sentimento. Aí ele vem dizer isso? Ele cuide do PSDB dele, que sabe que tem gente lá que não se empolgou e inclusive tentou trocar a candidatura do Pimenta da Veiga. Isso não foi uma atitude do PSB, foi uma atitude interna deles.

Ele que cuide das insatisfações do PSDB com relação ao candidato que eles apresentaram, porque nós vamos continuar a nossa caminhada. Não houve acordo pré-estabelecido, não houve assinatura de ato e contrato feito, não houve distrato, houve uma intenção de simbiose em alguns estados que não estão correspondendo.

No Paraná, por exemplo, correspondeu, e vamos em frente; no Rio Grande do Sul não deu certo, porque o Aécio foi lá e pegou o apoio do PP, da senadora Ana Amélia. Ou a máxima só vale pra eles, e não vale pra nós? Essa consideração coloca o Eduardo e o PSB como uma sub-legenda deles, o que não somos. Somos uma opção para a sociedade que está sendo colocada em nível nacional, e esses ventos de mudança que estão soprando no Brasil não podem passar pelo Brasil sem passar por Minas Gerais.