Derrotar o fascismo

Joaquim Barbosa e economistas ampliam lista de apoios a Lula

Bolsonaro é descrito como “abjeto” e “desprezível” em vídeos gravados pelo ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa. Um dos formuladores do plano real defende voto em Lula no primeiro turno para “trazer de volta o Estado democrático civilizado”

Campanha Lula/Reprodução
Campanha Lula/Reprodução
"Reconhecemos no ex-presidente Lula a única liderança capaz de derrotar o atraso maior representado pelo atual governo", declaram economistas da FGV, Insper, PUC-Rio e universidades estadunidenses

São Paulo – A menos de uma semana do primeiro turno da eleição presidencial, a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da coligação Brasil da Esperança, recebeu ao menos 12 vídeos enviados pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa em apoio à volta do petista à Presidência da República. Em uma das peças que gravou, pedindo votos a Lula para o próximo domingo (2), o magistrado fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Não é um homem sério, não serve para governar um país como o nosso, não está à altura e não tem dignidade para ocupar um cargo dessa relevância”, afirma Barbosa. O vídeo foi divulgado nesta terça-feira (27) pela colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo. Na mesma publicação, o ministro aposentado abre o material, advertindo que, ainda em 2018, na disputa entre Bolsonaro com o então presidenciável Fernando Haddad (PT), ele já havia alertado que o candidato do PL “seria uma péssima escolha”. 

Já à época, Barbosa declarou apoio ao petista, apesar das críticas que tinha ao partido. O magistrado foi o relator da ação penal do chamado “mensalão” que atingiu membros do PT. Ele foi indicado ao cargo por Lula, em 2003 e deixou a corte em 2014. Mas, apesar das divergências, o ex-ministro observa no vídeo que, “nas grandes democracias, Bolsonaro é visto como um ser humano abjeto, desprezível, uma pessoa a ser evitada”, comenta. “Esse isolamento é muito ruim para o nosso país. Nós perdemos muitas oportunidades com isso. É preciso votar já em Lula no primeiro turno para encerrar essa eleição no próximo domingo”, conclui. 

Economistas estão com Lula

Ainda em agosto, diante dos ataques de Bolsonaro ao processo eleitoral, o ex-ministro foi um dos nomes signatários da Carta às brasileiras e brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”. Barbosa também se soma à lista de críticos do PT que têm declarado apoio a Lula nos últimos dias. Como o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, autor do pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). Ainda hoje, o economista André Lara Resende, um dos formuladores do Plano Real, também declarou apoio ao ex-presidente em evento ao lado de Lula. 

“Está claro para mim que o apoio e o voto em Lula já no primeiro turno é importantíssimo. É trazer de volta o estado democrático civilizado”. À Folha, André Lara acrescentou que o Brasil “está caminhando para ser terra arrasada se continuar o governo atual”. E que a vitória de Lula seria o restabelecimento do país no cenário internacional do ponto de vista ambiental, da democracia e cultural. O entendimento em torno da eleição de Lula também é compartilhado por um grupo de economistas de instituições como FGV, Insper, PUC-Rio, USP, UFF e UFPE. 

Com ao menos 38 assinaturas, o grupo divulgou hoje carta-manifesto defendendo o voto útil em Lula no primeiro turno. A iniciativa visa a atrair também os eleitores indecisos e de candidatos como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). O documento também conta com afiliações de economistas de Yale, nos Estados Unidos, e Cambridge, na Inglaterra.

Leia a íntegra da carta-manifesto “Economistas defendem voto em Lula no primeiro turno”

“Neste momento crítico da história brasileira, nós, abaixo-assinados/as, economistas que sempre nos posicionamos em favor da estabilidade econômica, do fortalecimento das instituições e da justiça social, nos manifestamos em apoio à candidatura do ex-presidente Lula, já no primeiro turno.

As ações e a inépcia do atual governo causaram um desastre no processo de desenvolvimento institucional e socioeconômico do país, afetando dramaticamente o bem-estar da população brasileira.

O presidente promoveu o desmonte do aparato de fiscalização de crimes ambientais, incentivando o desmatamento acelerado e causando uma grave deterioração do meio-ambiente e a depreciação de nosso capital natural.

A política de saúde foi calamitosa, o governo federal não coordenou os esforços do SUS e a gestão da pandemia contribuiu para dezenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas. O presidente, ainda nesse contexto, demonstrou total falta de empatia com as pessoas que sofriam com a morte de entes queridos pela Covid-19.

Não houve qualquer avanço na política educacional, que passou a ser pautada por ideologia, ocasionando retrocesso no aprendizado de crianças e adolescentes, em particular durante a pandemia e principalmente entre os mais vulneráveis.

A política de segurança pública se pautou por estimular a resolução de conflitos de forma individual e violenta: o acesso a armas de fogo e munições pela população foi extremamente facilitado e buscou-se estabelecer uma salvaguarda para policiais matarem, com a tentativa de aprovação da excludente de ilicitude.

Na economia, desmontou-se o orçamento federal e foram criados gastos direcionados a grupos de eleitores e interesses específicos meses antes da eleição – uma afronta às instituições eleitorais. Apesar da retórica, houve um desmonte da capacidade institucional de combate à corrupção, e várias denúncias envolvendo o atual governo, o próprio presidente e seus familiares não foram esclarecidas.

Por fim, e ainda mais importante, o atual presidente fez e continua a fazer reiteradas ameaças à democracia, agredindo o judiciário, afirmando que não respeitará os resultados da eleição e fomentando um clima de profunda instabilidade e o risco real de ruptura institucional.

Em que pesem sérias discordâncias a respeito de políticas implementadas no passado por governos do PT, reconhecemos no ex-presidente Lula a única liderança capaz de derrotar o atraso maior representado pelo atual governo. Viabilizar a sua vitória em primeiro turno nos parece a resposta mais contundente, segura e efetiva de proteção à democracia no Brasil, aumentando assim o compromisso do futuro governo com políticas que unifiquem o país. Votamos em Lula em prol da união de um amplo espectro de forças políticas em defesa da democracia, na esperança de que possamos ter um governo para todas e todos os brasileiros.

  • Amanda de Albuquerque
  • Bernard Herskovic
  • Bernardo Silveira
  • Bruno Giovannetti
  • Carlos Góes
  • Carolina Grottera
  • Cláudio Considera
  • Claudio Ferraz
  • Daniel Cerqueira
  • Diana Moreira
  • Dimitri Szerman
  • Emanuel Ornelas
  • Fernanda Estevan
  • Filipe Campante
  • Francisco Costa
  • Gabriel Ulyssea
  • Joana Monteiro
  • Joana Naritomi
  • João Ramos
  • José Tavares de Araújo Jr
  • Laura Karpuska
  • Laura Schiavon
  • Marco Bonomo
  • Marcos Ross Fernandes
  • Mayara Felix
  • Octavio de Barros
  • Otaviano Canuto
  • Paula Pereda
  • Paulo Corrêa
  • Paulo Furquim de Azevedo
  • Rafael Costa Lima
  • Raphael Corbi
  • Ricardo Dahis
  • Rodrigo R. Soares
  • Rudi Rocha
  • Sergio Firpo
  • Thomas Fujiwara
  • Tiago Cavalcanti

Afiliações

FGV, George Washington University, Insper, Johns Hopkins University, London School of Economics, PUC-Rio, Princeton, UFF, UFPE, University of British Columbia, University of California – Davis, University of California – Los Angeles, University of California – San Diego, University of Cambridge, University College London, University of Delaware, USP, Yale”