Contra a liberdade de expressão

Família Bolsonaro faz 331 ataques à imprensa em seis meses

Maior parte dos ataques (51,3%) tem como alvo as mulheres jornalistas, mostra pesquisa da ONG Repórteres Sem Fronteira

Reprodução / RSF
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Ataques à imprensa, em especial às mulheres, faz parte do dia a dia do presidente que não respeita as regras de decoro

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro e seus filhos promoveram 331 ataques à imprensa no primeiro semestre deste ano. Sozinho, o presidente fez 87 ataques no período, número que é 74% maior do que suas investidas no primeiro semestre de 2020. O dado faz parte do novo levantamento da ONG Repórteres Sem Fronteiras.

Atrás do pai, vem o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), com 85 ataques. Em seguida, Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro (Republicanos), com 83 ataques. A equipe de pesquisa considera que o total de 331 ataques foi realizado pelo que chama de “sistema Bolsonaro”.

Laurindo Lalo Leal Filho, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), vê o aumento dos ataques à imprensa como uma consequência da queda de popularidade de Bolsonaro.

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“A queda de popularidade é comum em governos autoritários. Quando a margem de apoio começa a se reduzir, eles vão buscar alguns adversários para tentar se sustentar na base do contra-ataque”, afirma Lalo.

Não só a família Bolsonaro tem sido extremamente violenta com a imprensa brasileira, como também a ala dos ministros do governo. Ao menos seis deles atacaram jornalistas e veículos de comunicação no último semestre. Onyx Lorenzoni, agora à frente do recriado Ministério do Trabalho e Previdência, se destaca com 18 ataques.

O professor da USP explica que a violência contra jornalistas e veículos de comunicação também influencia apoiadores a repetirem o mesmo comportamento.

“As consequências dos ataques à família tendem a levar que seus apoiadores passem também a atacar jornalistas, fisicamente. É muito grave, e o presidente e seus filhos serão responsáveis por qualquer tipo de violência mais grave que os jornalistas venham a sofrer”, afirma.

O levantamento da ONG Repórteres Sem Fronteiras aponta ainda um cenário de 2020 que se repete este ano: as mulheres são as principais vítimas dos ataques do sistema Bolsonaro: 51,3% das agressões foram feitas a elas, sendo 16 ataques promovidos pelo presidente e sua família.

Para Giuliano Galli, coordenador da área de jornalismo e liberdade de expressão do Instituto Vladimir Herzog, o cenário deve estar no foco das políticas públicas e de ações promovidas por organizações da sociedade civil.

“É urgente que as políticas públicas e iniciativas da sociedade civil que defendem a liberdade de expressão não percam de vista essa particularidade do país, a de que os ataques à liberdade de expressão no país têm nas mulheres o seu alvo preferencial”, diz.

Galli ressalta ainda que as agressões contra a imprensa devem se intensificar no próximo ano, em razão do período eleitoral. “Os ânimos ficam mais acirrados e as pessoas com recursos e interesses diretos nos resultados das eleições ficam mais dispostas a tomar ações para garantir seus objetivos”, afirma, ao destacar a influência do poder econômico sobre as eleições.

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