voz das ruas

Executivo e Legislativo buscam formas de se comunicar melhor nas mídias sociais

Governo e Câmara dos Deputados se esforçam para estreitar diálogo com organizações da sociedade civil, principalmente a juventude, por meio de novas ferramentas na internet

elza fiúza/abr

Carvalho: Participatório deve ser ambiente virtual e interativo com dinâmica integrada às redes sociais e blogs

Brasília – Em um esforço para ficar mais sintonizado com a população e sobretudo com os jovens, principais usuários das mídias sociais no país, duas iniciativas estão sendo implementadas esta semana por parte do Executivo e do Legislativo. No Executivo, foi lançado oficialmente nesta quarta-feira (17) o projeto do chamado Observatório Participativo da Juventude, ou simplesmente “Participatório”, que vinha sendo desenvolvido desde 2011. Já no Legislativo, a Câmara dos Deputados anunciou a criação de portal na internet com o objetivo específico de receber propostas dos cidadãos sobre a reforma política.

Embora com características diferentes, os dois anúncios mostram a intenção destes Poderes em se comunicar mais com a massa que foi às ruas nos últimos meses. E a ampliação do debate é apenas uma das reivindicações feitas nas manifestações. Durante a solenidade de abertura do Observatório, realizada no Palácio do Planalto, com a presença do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, a secretária nacional da Juventude, Severine Macedo (órgão responsável pelo desenvolvimento da nova mídia) explicou que o Participatório tem a proposta de vir a ser um ambiente virtual e interativo com dinâmica integrada às redes sociais e blogs.

A ideia é estimular, por meio de debates e mobilizações, a participação da sociedade nas discussões das políticas públicas e propostas de governo. “Queremos que o espaço se destaque como um ambiente de comunicação e interação entre jovens, gestores, pesquisadores, formadores de opinião e articulares das políticas públicas de juventude”, afirmou a secretária. “Esse foi um dos compromissos assumidos pelo governo para que, por meio do aprofundamento do diálogo a juventude possa também apontar quais são as melhorias concretas que quer ver nas políticas socias e em relação à sua participação política e social”, acentuou.

Ao ser questionado sobre o tema, o ministro Gilberto Carvalho negou que o surgimento do Participatório tenha ocorrido em razão das manifestações. Carvalho acentuou que o projeto já estava em execução. “Claro que ele é oportuno neste momento, mas, de forma alguma foi planejado a partir das manifestações. Não teríamos condição de lançar uma ferramenta com esta qualidade em um mês”, ressaltou o ministro.

O Participatório será aberto a consultas para os jovens brasileiros sobre os temas que foram colocados nas ruas e pela sociedade, e também ajudará na produção de conhecimento e divulgação de conteúdos relacionados a políticas públicas, uma vez que reunirá em seu bojo publicações, acervos referentes a temas variados, além de todo o conteúdo do Núcleo de Comunicação e Mobilização do governo (responsável pela divulgação de conteúdos nas redes sociais e pelas ações de mobilização presencial do Executivo). Desenvolvido nos últimos dois anos, foi montado por meio de parceria das universidades federais do Paraná (UFPR) e do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Queremos que o Participatório seja um espaço para que qualquer jovem cidadão, militante ou mesmo um jovem que não seja militante de movimentos sociais, mas que deseje fazer sugestões ao governo, possa dialogar e saber as opiniões do governo sobre as políticas que impactam a sua vida, que estão sendo construídas ou que precisam ter um olhar mais forte por parte do Estado brasileiro. É um espaço que esperamos que seja privilegiado com debates, interação, intercâmbio e produção de conteúdo de jovem para jovem”, destacou Severine.

Reforma política

Na Câmara dos Deputados, por sua vez, a intenção do portal específico sobre a reforma política é ampliar os sistemas já existentes para que a população possa dar seu recado em relação à propostas e temas que pretende ver discutidos. “Todos sabem da necessidade de uma reforma política para o país, mas ninguém consegue chegar a um consenso. As reivindicações dos brasileiros chegaram em boa hora e as sugestões populares serão igualmente bem-vindas”, disse o presidente da Casa, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-AL).

Na prática, enquanto o sistema do Executivo prevê a criação de uma mídia social, que permitirá a realização de chats e várias outras ferramentas, o sistema da Câmara corresponde apenas a um link que ficará hospedado no site da Câmara dos Deputados, podendo vir a ser ampliado. Mas contou com a simpatia de parlamentares e comunicólogos.

“As duas opções são bem diferentes e é inegavel a sofisticação do projeto do governo, que partiu de todo um conhecimento acadêmico adquirido nas universidades. Mas tratam-se de boas pedidas nestes tempos que necessitam de maior interação entre os poderes da República e as pessoas, principalmente os jovens”, comentou o professor em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Alfredo Fernandes.

Já a professora de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) Márcia Marques, que atualmente conclui doutorado sobre mídias sociais na Universidad Complutense de Madrid, alertou para a necessidade de o próprio governo interagir nessa ferramenta.

“Abrir diálogo com a população é sempre bom e desejável, mas criar uma rede e não participar do diálogo, não resolve. Em geral, o que as pessoas, no senso comum, chamam diálogo, é apenas um desejo de concordância. Creio que os profissionais de comunicação que trabalham para o Estado deveriam começar a discutir o que é fazer comunicação pública. A discussão, hoje, vai muito além das verbas milionárias, é verdade, da comunicação. Trata-se de abrir canais de boa informação para os cidadãos, que são os que bancam toda a história e diálogo, é conversar sobre as diferenças”, disse Márcia Marques, que está estudando um modelo de ação comunicativa e de informação para a cidadania em redes sociais no meio digital.

Qualquer brasileiro pode fazer parte do Participatório, contanto que entre no site do programa e se cadastre. A versão lançada nesta quarta-feira funciona experimentalmente – ainda não foi marcada a data de lançamento da versão definitiva.

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