'Abin Paralela'

Entidades entram na Justiça pela divulgação de nomes de jornalistas espionados por Bolsonaro

Escândalo envolvendo espionagem ilegal da chamada “Abin paralela” tem jornalistas alvos de ilegalidades cometidas pelo governo Bolsonaro

Cris Faga/Folhapress
Cris Faga/Folhapress
"Acreditamos que, ao abrir as informações e sabermos a dimensão do número de profissionais ilegalmente espionados, poderemos precisar o dano causado pelo bolsonarismo"

São Paulo – O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), juntamente com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), formalizaram pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para a divulgação dos nomes dos jornalistas que foram alvo de espionagem ilegal pela denominada “Abin paralela”. A revelação do esquema criminoso de monitoramento de jornalistas pelo governo Bolsonaro veio à tona em janeiro.

À época, a Operação Vigilância Aproximada, conduzida pela Polícia Federal (PF), executou 21 mandados de busca e apreensão. Todos em endereços vinculados aos suspeitos de integrarem uma estrutura paralela dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro. Entre os alvos, estavam, inclusive, familiares do ex-presidente inelegível.

Pedido de Informacoes Ao STF Assinado PUBLICACAO by Gabriel Valery on Scribd

Espionagem ilegal

O presidente do sindicato, Thiago Tanji, justificou a iniciativa com base na necessidade de esclarecer os eventos relacionados à “Abin paralela”. E, então, compreender a extensão da espionagem direcionada a jornalistas. “Acreditamos que, ao abrir as informações e sabermos a dimensão do número de profissionais ilegalmente espionados, poderemos precisar o dano causado pelo bolsonarismo à democracia, à livre circulação de informações e ao livre exercício profissional de nossa categoria”, afirmou.

Ele ressaltou a importância de revelar os crimes cometidos pelo governo Bolsonaro, que visavam a perpetuação do poder de forma antidemocrática. Fato evidenciado pelas ações estimuladas por membros do gabinete bolsonarista que culminaram nos atos do 8 de janeiro.

O pedido também busca entender os motivos pelos quais os jornalistas foram ilegalmente monitorados e os objetivos dos responsáveis por essa prática. Já a presidenta da Fenaj, Samira de Castro, destacou a violação do direito constitucional ao sigilo da fonte no exercício do jornalismo e a ameaça à privacidade dos cidadãos brasileiros. “Certamente o objetivo era ter acesso às fontes de informações desses jornalistas, e se isso se comprova é uma grave violação ao direito constitucional do sigilo da fonte”, disse Samira.

Jornalistas pela democracia

O presidente da ABI, Octávio Costa, enfatizou que as atividades da “Abin paralela” constituíram um ataque à liberdade de imprensa, com o propósito de intimidar profissionais que denunciavam crimes e abusos do governo Bolsonaro. “O objetivo da espionagem e das escutas era um só. Intimidar jornalistas que apontavam os crimes e os abusos do desgoverno Bolsonaro. Ao quebrar sigilo das fontes e fazer devassa nos dados pessoais, o que se queria era ameaçar e calar os profissionais de imprensa. E sem imprensa livre não há democracia”, completou Costa.

O embasamento jurídico do pedido está centrado no direito constitucional ao sigilo da fonte e à privacidade individual. Este é o primeiro documento conhecido que solicita especificamente a divulgação dos nomes de jornalistas espionados pela “Abin paralela”. Anteriormente, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o Grupo Prerrogativas haviam solicitado a divulgação da lista completa de alvos da operação, mas com foco em parlamentares.

Assim, a presidente da Fenaj recordou o Inquérito 4.874, que investiga as milícias digitais. Ela ressaltou que o governo Bolsonaro atentou contra a liberdade de imprensa, buscando desacreditar o trabalho jornalístico. Ela apontou a existência de uma conexão entre a “Abin paralela” e o gabinete do ódio, cujo objetivo era desacreditar a imprensa profissional.


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