impeachment

Ex-ministro Luiz Dulci vê jogo em aberto e aposta na volta de Dilma

“A luta é para que ela volte', afirmou o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, em debate na USP. Ele destacou que a presidenta deverá cumprir o programa que a elegeu

Antônio Cruz / ABr

Dulci: “É importante que ela volte com outra atitude, tem de dialogar com o parlamento”

São Paulo – “Ela deve voltar e a luta é para que ela volte. Ou prevalece o golpe, ou ela volta”, afirmou nesta segunda-feira (23) o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República Luiz Dulci, ao debater com estudantes e professores da Universidade de São Paulo (USP) as alternativas de luta do campo progressista diante do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em andamento no Senado.

Pouco debatida até agora, a tese do retorno não conquista espaço na mídia tradicional que, segundo Dulci, faz uma “operação-abafa”, como se a questão já estivesse resolvida. “Não é verdade que esse jogo já estava jogado, que não haveria chance de Dilma retornar”, disse. “Nós queremos que ela volte, mas para cumprir o programa com o qual ganhou as eleições. Ela é uma mulher de grande qualidade, nenhum presidente homem estaria sofrendo essa desqualificação pessoal, com ataques pessoais. Ninguém foi tratado dessa maneira pelas elites e pela imprensa. E a dignidade pessoal dela está intacta”, defendeu.

Dulci também comentou a revelação de uma gravação que resultou na exoneração de Romero Jucá do Ministério do Planejamento – em conversa gravada em março pelo ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, Jucá afirmou que uma mudança no governo possibilitaria parar a sangria da Operação Lava Jato. “Agora vai ficando evidente que aos mais de 200 deputados da Câmara citados na Lava Jato foi prometido afastar a operação”, disse.

Ele também acredita que a partir do clima que o país está vivendo, com mobilizações nas ruas frente ao ataque a direitos orquestrado pelo governo interino de Michel Temer, existe chance real de o Senado votar contra o impeachment. Para aprovar o afastamento de Dilma são necessários dois terços dos 81 senadores (54 votos), o que significa que o processo pode ser derrubado por 28 votos. Na admissibilidade do impeachment, 22 senadores votaram contra. “Nós precisamos de mais seis votos e tem senadores que são sensíveis à sociedade. Tem senadores que foram eleitos com apoio da esquerda e vão se renovar nas eleições de 2018.”

Para o ex-ministro, o movimento de resistência está crescendo não só contra o processo político que resulta no golpe, mas mostra para onde o país pode avançar. “A resistência vai além dos partidos de esquerda”, disse, ao destacar que Dilma foi recebida por 30 mil pessoas neste fim de semana em Belo Horizonte. “E a PM diz que havia mil pessoas. Mas eram seis ou sete quarteirões lotados.”

Dulci acredita que a possível volta de Dilma será a oportunidade para colocar a reforma política no centro do debate. “É importante também que ela volte com outra atitude, tem de dialogar com o parlamento, mas não tem de ceder aos conservadores”, defendeu. O ex-ministro acha ainda que o PT precisa resgatar suas causas libertárias, como a luta contra a homofobia.

Crimes impunes

Antes de Dulci, o ex-deputado estadual Adriano Diogo fez uma retrospectiva da história de fundação do PT, em 1980, como um marco importante da história da esquerda no país. Ele criticou a Constituição de 1988, no que tange aos crimes políticos da ditadura. “A Constituição dizia que os torturadores serão perdoados e os crimes não serão investigados. A consequência disso criou um modelo de composição política que coloca todos na mesma esfera”, afirmou, destacando a questão da impunidade entre os políticos que foram agentes da ditadura. “Esse erro aflora agora de uma forma impressionante”, disse. Ele também destacou que o programa neoliberal de Temer “não passaria em nenhuma urna”.

Diogo disse que acredita numa saída do golpe, e que se isso acontecer será necessário resgatar princípios e rever os crimes políticos. “Todos os que mataram e torturaram, o que gerou a PM, o genocídio da juventude tem de ser revisto. É como se o Terceiro Reich tivesse sido perdoado”, criticou. Disse também que o povo não vai aceitar esse golpe que se torna a cada dia mais evidente. “O povo vai reagir contra as forças fascistas, o golpe não é contra um partido, mas contra todo o povo.”

Leia também

Últimas notícias