Sem brigas

Dilma e Temer discutem pautas, diretrizes e sugestões do PMDB

Encontro, que durou uma hora e meia, foi marcado por ‘cordialidade, sigilo e conversas que tendem a melhorar o relacionamento entre ambos’, segundo assessores

PMDB

Atividade legislativa neste ano é um dos temas centrais do entendimento necessário entre governo e PMDB

Brasília – Não foi exatamente um encontro de “reconciliação”, mas a presidenta Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer, que hoje (20) se reuniram pela primeira vez este ano, no Palácio do Planalto, passaram uma hora e meia juntos. E, embora tenham evitado fazer qualquer comentário sobre o que conversaram, entre os peemedebistas e assessores do Planalto as informações são de que predominaram assuntos como a inclusão, na agenda do semestre, de propostas do programa para o país lançado pelo PMDB no ano passado e iniciativas que busquem maior aproximação do Executivo com a sociedade.

Alguns parlamentares também disseram que pediram ao vice para incluir na pauta da conversa temas como a indicação do nome que poderá ocupar a Secretaria de Ação Civil (SAC), cargo que “pertence” ao PMDB, e falar sobre o seu posicionamento nos trabalhos para a sucessão da liderança do partido na Câmara. Mas nem a assessoria de Temer, nem o Palácio do Planalto confirmaram se esses assuntos foram mesmo discutidos.

Em declarações feitas desde o início do ano, Dilma e Temer já tinham demonstrado que pretendiam deixar rusgas de lado e buscar uma boa relação institucional. Os acenos foram vários. Na semana passada, ela, afirmou a jornalistas ter “grande admiração” pelo vice. E ele tem pregado “mais harmonia” tanto dentro do PMDB como na aliança do partido com o governo, embora continue adotando um discurso por vezes contraditório.

Com o pretexto de trabalhar pela sua recondução como presidente nacional da executiva da legenda, Temer vai viajar por todo o país em fevereiro. Para muitos políticos, inclusive do Planalto, o objetivo real é preparar o terreno para se entrosar mais com os diretórios nos estados no caso de vir a assumir o governo – se for aprovada a abertura do processo de impeachment da presidenta.

No último encontro, em dezembro, os dois acertaram que Temer não iria interferir em qualquer discussão ou questão relativa ao processo de impeachment, atendo-se a ter, com Dilma, uma relação “institucional”. “Mas a aliança PT e PMDB, mesmo em meio a todas as fragilidades continua, e os acertos e definições sobre cargos e programas de governo precisam ser definidos”, acentuou um político ligado ao vice-presidente e que também trabalha para uma maior aproximação entre ambos.

Conforme essas informações, Temer, que atua para negociar com os caciques peemedebistas no Senado um acordo para se manter na presidência nacional da sigla, teria dito ontem ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que não vai interferir na questão que envolve a liderança do partido na Casa. Sua posição tem como justificativa o fato de que a negociação passa, apenas, pela recondução à executiva nacional. No caso do apoio a algum candidato para líder da Câmara, ele estaria, de certa forma, interferindo no processo de impeachment – motivo pelo qual quer se manter distante.

Inclusão de propostas

Na prática, o governo trabalha para que seja reconduzido à liderança, o atual líder, deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), que tem relacionamento mais próximo com o Palácio do Planalto e ajudaria a puxar o partido, sempre muito dividido, para uma postura mais governista na tramitação e apreciação das propostas de interesse do Executivo. Segundo assessores, outro ponto que teria ajudado na melhoria do relacionamento entre Dilma e Temer foram anúncios públicos feitos pelos ministros nos últimos dias sobre as discussões da agenda deste ano para o país, referente a propostas e sugestões apresentadas pelo PMDB.

O documento intitulado “Uma Ponte Para o Futuro” foi lançado no ano passado. O ministro Jaques Wagner (Casa Civil) chegou, inclusive, a considerar a possibilidade de alguns trechos serem discutidos como itens iniciais da pauta do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CNDES), o chamado “Conselhão”, após o retorno dos trabalhos do órgão – programado para acontecer nas próximas semanas.

A crise entre Dilma e Temer teve como ponto forte a carta enviada pelo vice à presidenta em dezembro passado, vazada na imprensa, na qual ele reclamou de não ter protagonismo no governo e atuar, durante todo esse tempo, como um vice decorativo, além de afirmar que ela nunca tinha confiado nele. Nos bastidores, correm notícias de que o vice teria se arrependido pelo vazamento da carta e por considerar que a forma de reclamação adotada por ele foi intempestiva, o que não costuma fazer parte do seu estilo.

‘Cordial e institucional’

Com o encontro de hoje, organizado por Jaques Wagner e que contou com a presença do secretário de Governo, ministro Ricardo Berzoini, os dois deram sinal de que, ao menos, continuarão seguindo com esse relacionamento considerado “cordial e institucional”. E demonstram intenção de evitar novos atritos. Ou, ao menos, tentar manter um bom relacionamento até que outra crise volte a ameaçar a conturbada aliança PT e PMDB.

Já quanto à vaga na Secretaria de Aviação Civil, o Planalto tinha sondado na última semana o deputado Mauro Lopes (MG), mediante acordo segundo o qual, ele seria indicado se a bancada do PMDB mineiro concordasse em apoiar Picciani.

Mas além da negociação não ter ido adiante, há suspeitas de ligação do parlamentar com nomes envolvidos nas apurações da Operação Lava Jato, sem falar que a postura de Lopes de anunciar em alto e bom som que tinha sido sondado irritou a presidenta – adepta à indicação de integrantes mais reservados em sua equipe.

Independentemente de o assunto ter sido tratado ou não, um deputado do PT observa: “Ninguém espera que eles (Dilma e Temer) fiquem próximos daqui por diante. Mas, ao menos, que mantenham uma boa convivência”.

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