De Battisti a aposentadorias, incluindo eleições, Lula garante manchetes do dia

Sequência de eventos coloca o presidente para discutir eleições, Distrito Federal, salário mínimo e outros temas

Lula e o ministro da Secretaria de Comunicação Soical, Franklin Martins, tomam café da manhã com jornalistas que cobrem a Presidência (Foto: Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil)

Em três momentos desta segunda-feira (21), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre diversos assuntos e garantiu o noticiário do dia. O programa semanal na “Café com o Presidente”, na Rádio Nacional, seguido por um café da manhã com jornalistas, e um evento de anúncio do Programa Nacional de Direitos Humanos permitiram que Lula discursasse sobre praticamente todos os assuntos da pauta, das conferências do clima em Copenhague e da Comunicação em Brasília, passando por eleições, crise no Distrito Federal e salário mínimo.

Na lista de notícias da Agência Brasil, 11 das 30 notícias publicadas no dia até às 16h05 referiam-se a declarações do presidente. Em outros portais, a participação era inferior, mas garantida em temas sensíveis, como a disputa presidencial em 2010.

Pela manhã, o presidente havia falado sobre a 15° Conferência das Partes (COP-15), promovida em Copenhague, Dinamarca, pelas Nações Unidas para discutir Mudanças Climáticas. Havia também feito um balanço sobre a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada de 14 a 17 de dezembro, em Brasília.

No início da tarde, ao receber jornalistas, foi o momento de outros temas, como a eleição. Ele disse que a relação com o PMDB está tranquila mesmo depois do mal-estar causado pela declaração de que o partido teria de elaborar uma lista tríplice com nomes de candidatos à vice do PT nas próximas eleições. Ele defende que a escolha cabe à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata às eleições de 2010. “Não acredito que o PMDB vá com [José] Serra. Mas respeito a autonomia do partido. O PMDB é o maior partido da base aliada. Tem todo direito de indicar o vice”, comentou.

“No momento certo o PT e o PMDB vão sentar, e espero que eu não esteja presente. Sou presidente até 31 de dezembro de 2010. Depois disso, rei morto, rei posto. De ex-presidente, nem vento bate nas costas”, afirmou. O presidente ainda evitou falar em nomes para a vice. Não quis confirmar nem negar que o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), será o candidato.

Lula afirmou ainda não estar preocupado com os índices de rejeição de Dilma nas pesquisas de opinião. “Não estou preocupado com a rejeição da Dilma. Rejeição é algo que se trata com carinho, mas ainda é cedo. A fotografia só será tirada em março”, declarou.

“Desde que começou o meu segundo mandato, o Serra está na frente das pesquisas. Pesquisa é igual a campeonato. O Palmeiras sempre esteve na frente. Aí apareceu o Flamengo”, comparou.

O presidente defendeu as viagens da ministra Dilma para inaugurar obras financiadas pelo governo federal enquanto estiver no cargo. “Até o afastamento (para se dedicar à campanha eleitoral), Dilma é ministra e exercerá até o limite legal o seu cargo. E vai inaugurar obra, vai viajar. Ela coordenou (o programa, agora) vai viajar”, defendeu.

Lula afirmou que vai trabalhar para transferir votos para Dilma, algo que, segundo ele, só aconteceu nas eleições de 1989, quando Leonel Brizola e Mário Covas transferiram para ele seus votos.

Segundo o presidente Lula, a desistência do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, da candidatura à presidência pelo seu partido, o PSDB, é de “razão interna”. “Não sei se é definitivo ou não. Se foi uma forma de pressão ou se foi um gesto para dentro do PSDB. Tinha uma força muito grande para o Serra ser candidato”, afirmou.

O presidente adiantou que vai conversar com José Serra ainda nesta semana e no início de janeiro com Aécio Neves.

Quanto à possibilidade de Serra e Aécio fazerem uma chapa-pura, Lula voltou a fazer comparações com o futebol: “Não sei se uma chapa Tostaõ-Tostão, Coutinho-Coutinho, seria a melhor coisa. Não sei se daria certo”.

Lula também comentou uma possível candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) à presidência. “É um companheiro de primeira hora. Tenho profundo respeito por ele. Se o Ciro achar que tem de ser candidato, tem todo direito. Agora, se o jogo político não comportar mais de uma candidatura da base, tenho de ser leal e discutir com ele”, disse.

São Paulo e DF

No pleito paulista, o alvo da crítica foi o PT. “O PT cometeu um erro histórico de não repetir candidato em São Paulo. Isso não é bom, porque o candidato começa hoje com 5% nas pesquisas, chega a 30%. Na próxima, poderia começar perto do que ele tinha e não com 5% de novo”, explicou.

Lula ainda defendeu que o partido faça alianças para vencer a eleição ao governo do estado. Segundo ele, o PT vencia eleição quando não havia segundo turno, mas agora é preciso mais da metade dos votos. “Se 30% elegessem não precisaria de aliados. Se agora precisam de 50% mais um, é preciso procurar os outros 20%”, comentou. “A palavra é aliança política”, disse.

De acordo com Lula, o partido precisa buscar alianças em outros setores. “Precisamos discutir com os partidos e saber quem tem esses 20% complementares, não sei se partido, empresário ou personalidade. O PT precisa procurar um José Alencar. Sempre fez aliança pela esquerda, que é a soma do zero com o zero. Não agrega segmento novo”, explicou.

No Distrito Federal, onde um escândalo abala o universo político desde o fim de novembro, o presidente descartou a possibilidade de intervenção federal. Ele insistiu que as denúncias que envolvem o governador José Roberto Arruda (sem partido), do vice, Paulo Octávio (DEM), e de diversos deputados distritais precisa ser investigada e punida.

“Como cidadão comum, tenho a exata noção do que diria em um caso desses. Mas como presidente sou uma figura institucional. Acho que tem de ser julgado e punido quem comete esse crime”, afirmou. Lula acrescentou que enviou ao Congresso o projeto que torna inafiançável o crime de corrupção justamente para constranger aqueles que cometem esse tipo de crime.

Mais COP-15

 

Ainda na conversa com jornalistas, Lula voltou a discutir a COP-15. Garantiu que o brasil fez mais do que se esperava e atribuiu grande importância para a falta de acordo formal na conferência pontos sugeridos pelos países ricos de redução dos valores no fundo de ajuda aos países pobres, a verificação dos limites para redução de emissão de CO2 e a intenção de considerar a China como país desenvolvido.

“Se a gente tivesse negociado um mês antes, teríamos feito um acordo. Fizemos o melhor projeto, mas os países não evoluíram porque estavam reféns da proposta americana”, comentou. “Quando vemos que os países ricos estão dispostos a dar US$ 10 bilhões até 2020, pensamos que é muito. Se for calcular, dá menos de US$ 330 milhões para cada um. E os países ricos achavam que estavam fazendo um gesto magnânimo aos pobres”, reclamou.

“Queremos que os governos assumam a responsabilidade de dar dinheiro com o aval do Tesouro. Se o mercado quiser contribuir é lucro”, completou. O presidente disse esperar que no encontro do México, no ano que vem, um acordo seja fechado. “Desde que cada país continue empenhado nesse objetivo”, afirmou.

Economia e salário mínimo

O governo pode estudar incentivos a outros setores produtivos além dos que já foram beneficiados, segundo Lula. Além disso, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e outras medidas de combate à crise econômica podem se tornar definitivas desde que a economia brasileira tenha condições para isso.

Lula assegurou que não haverá arrocho salarial no próximo ano e prometeu um 2010 “estupendo” aos brasileiros, com mais contratação de profissionais em áreas como educação e saúde, em resposta aos que criticam o crescimento do funcionalismo público. “Os funcionários públicos de alto escalão estavam porcamente remunerados. A máquina pública estava totalmente desmontada e atrofiada. Vamos contratar mais professor, mais médico, para melhorar cada vez mais”, avaliou.

Lula lembrou que o controle da inflação é uma política da qual o governo não abdicará. “Já convivi com inflação de 80% ao mês. Para mim, (o combate à) inflação é uma coisa preciosa”.

Na questão da remuneração dos trabalhadores, Lula acredita que o reajuste das aposentadorias será analisado “sem nervosismo e sem trauma”, quando a proposta estiver pronta. “Todo mundo sabe que a Previdência tem um limite, que a Previdência tem uma arrecadação. A gente não pode pagar o que a gente não tem. Ou você pensa que tem algum brasileiro que gosta mais do trabalhador do que eu?. Agora, não posso fugir do limite do bom senso”, ponderou Lula.

Em relação ao salário mínimo, a promessa é de manter o reajuste com base de inflação mais o PIB de dois anos atrás. “Cada vez que a gente aumenta o salário mínimo, do jeito que estamos aumentando, significa a gente colocar R$ 20 bilhões a mais na economia, por ano”, disse. A proposta de reajuste do mínimo em 2010 tem de ser encaminhada ao Congresso até o fim deste mês para entrar em vigor em 1º de janeiro.

Battisti

Sobre a polêmica decisão de dar abrigo político e não extraditar o italiano Cesare Battisti, Lula declarouq ue aguarda o acórdão do Supremo Tribunal Federal, que decidiu pela extradição do ativista, para tomar a decisão final.

Lula  disse que vai tomar a melhor decisão para o país independente do entendimento do STF de que o presidente poderá ser responsabilizado caso não acompanhe a decisão da Suprema Corte. “Não me importa o que disse o STF. Ele teve a chance de fazer e fez. Eu não dei palpite. A decisão é minha. Até lá não tenho comentários a fazer”, disse.

Condenado à prisão perpétua na Itália por quatro assassinatos ocorridos entre 1977 e 1979, Battisti é alvo de pedido de extradição feito pelo governo italiano quando que ele foi preso no Brasil, em março de 2007. Desde então, está na Penitenciária de Brasília. O Supremo decidiu pela extradição de Battisti. Cabe agora ao presidente Lula confirmar ou rejeitar a decisão.

Leis de direitos humanos

Em outro evento, durante o anúncio do Programa Nacional de Direitos Humanos, Lula afirmou que a elaboração de leis e de políticas públicas são resultado da maturidade política que a sociedade está construindo e não “coisas” de sua cabeça ou de ministros.

“Estamos caminhando a passos extraordinários. Estamos quase atingindo a perfeição”, disse Lula ao citar instrumentos como o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, a Constituição Federal e até o Protocolo de Kyoto (documento da Organização das Nações Unidas do qual o Brasil é signatário).

“Obviamente nunca vamos conseguir tirar o sofrimento do coração de uma mãe por não ter enterrado um filho, mas temos que ter consciência de que valeu a pena (a luta dos perseguidos e presos políticos durante a Ditadura Militar)”, afirmou.

Com informações da Agência Brasil