Caminho do dinheiro

CPMI do 8 de Janeiro terá dados de empresário do setor de armas beneficiado por medidas de Bolsonaro

Comissão já aprovou quebra de sigilos de Franco Giaffone, um dos principais fornecedores de armas para o governo do ex-presidente e representante da Glock no Brasil

Carolina Antunes/PR
Carolina Antunes/PR
O governo Bolsonaro colocou mais de um milhão de armas no país, mas boicotava as vacinas contra covid

São Paulo – A CPMI do 8 de Janeiro tem um trunfo que pode complicar em muito a situação de Jair Bolsonaro em relação a um tema extremamente sensível: negócios com armamentos. A comissão já aprovou a quebra de sigilos bancário, fiscal e telemático de Franco Giaffone, um dos principais fornecedores de armas e coletes de marcas estrangeiras para o governo do ex-presidente.

O empresário venceu licitações que, somadas, chegam a R$ 331 milhões entre clientes de produtos de defesa e segurança pública federais e estaduais. As vendas para o Ministério da Justiça e para a Polícia Rodoviária Federal (PRF) chamaram a atenção da CPMI do 8 de Janeiro, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

Tanto que, além das quebras dos sigilos, o colegiado pediu também, ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), relatórios de movimentações de Giaffone, em que haveria registros de operações atípicas e incompatíveis.

Ele é representante no Brasil da poderosa empresa austríaca Glock, conhecida marca de pistolas, da indiana MKU, que fabrica coletes, e da norte-americana Axon, indústria de armas de choque.

Seguindo o caminho do dinheiro

No pedido ao Coaf, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que assina o requerimento, destaca que “é fundamental que a CPMI siga o caminho do dinheiro, a fim de identificar os financiadores dos atos antidemocráticos” (leia aqui). Já no pedido de quebra de sigilos fiscal e bancário, a senadora diz que a medida “é necessária para o bom andamento dos trabalhos” da comissão, porque Giaffone “é representante no Brasil da Glock”.

A Glock é uma marca que parece ser da predileção dos Bolsonaro. Em julho passado, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o “zero 3” do ex-presidente, estava tentando recuperar o porte de uma pistola dessa fabricante cuja renovação ele perdeu. Segundo se comenta, a Glock é a favorita do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Giaffone foi um dos mais beneficiados empresários do setor armamentista com os decretos de Bolsonaro, que não só facilitaram ao extremo a venda e disseminação de armas como prejudicaram as empresas brasileiras, já que as estrangeiras foram beneficiadas por medidas tributárias extremamente benéficas a elas.

Entre as movimentações suspeitas constantes dos relatórios do Coaf estão transações de Giaffone com Edimar Pereira da Silva, ex-vereador de Curionópolis (PA), conhecido como Junior da Mariona, e com “histórico de atividade garimpeira no sudeste do Pará”, de acordo com o Estadão.

De agosto de 2021 a julho de 2022, Edimar transferiu R$ 120 mil para Giaffone, diz o jornal. No período, o ex-parlamentar movimentou R$ 40 milhões, entre saques, depósitos e transferências em transações consideradas suspeitas pelo Coaf.

Armas sim, vacinas não

Em 9 de dezembro de 2020, enquanto a pandemia de covid matava cada vez mais pessoas no país e o governo boicotava vacinas, o próprio Bolsonaro comemorou nas redes sociais a isenção da alíquota do imposto de importação de pistolas e revólveres, aprovada na ocasião pela Câmara de Comércio Exterior (Camex). O então mandatário postou a notícia com foto dele em um estande de tiro.

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