CONFISSÃO

Bolsonaro ‘veste a carapuça’ ao atacar STF após artigo de Barroso sobre fake news

“Bolsonaro vive da paranoia e da luta contra algum inimigo imaginário”, aponta advogado Roberto Tardelli, integrante do grupo Prerrogativas. “O TSE sabe que as eleições serão terríveis com as fake news e tenta torná-las menos poluídas”

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Roberto Tardelli, integrante do Grupo Prerrogativas, afirma que a reposta de Jair Bolsonaro mostra que ele "vestiu a carapuça" de um texto que não havia direcionamento

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), na quarta-feira (12). O chefe do Executivo acusou os dois magistrados de ameaçarem as “liberdades democráticas” com o objetivo, segundo ele, de beneficiar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em entrevista ao site Gazeta Brasil, Bolsonaro foi perguntado sobre um recente artigo em que Barroso defende a regulação das redes sociais e cita o “aparecimento de verdadeiras milícias digitais, terroristas verbais que disseminam o ódio, mentiras, teorias conspiratórias e ataques às pessoas e à democracia”. Em seguida, ele questionou: “Quais foram as fake news que eu pratiquei?” e negou a existência do chamado “gabinete do ódio”.

Em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, o advogado criminalista e ex-procurador de Justiça Roberto Tardelli, integrante do Grupo Prerrogativas, afirma que a reposta de Jair Bolsonaro mostra que o presidente “vestiu a carapuça” sobre um texto no qual não havia menção específica a ele. “Bolsonaro vive da paranoia e da luta contra algum inimigo imaginário. Ele veste a carapuça antes de ser acusado. O texto do Barroso é genérico e consensual, mas Bolsonaro assume o crime. O TSE sabe que as eleições serão terríveis com as fake news e tenta torná-las menos poluídas”, afirmou.

Ataque de Bolsonaro ao STF

Na entrevista ao site, Bolsonaro também atacou Moraes e lembrou o julgamento, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que rejeitou a cassação da sua chapa presidencial por participação em esquema de disparo em massa de fake news nas eleições de 2018. “Eu fui julgado no TSE, a chapa Bolsonaro-Mourão, no final do ano passado; e lá foi a vez do senhor Alexandre de Moraes falar claramente: ‘houve sim fake news, houve disparo em massa, sabemos’. Eu sempre joguei dentro das quatro linhas. Não se pode falar em terrorismo digital. Que terrorismo é esse? É o que ele acha que é? Quem são os checadores de fake news no Brasil?”, questionou o presidente.

Bolsonaro também criticou a decisão do TSE de cassar o mandato do deputado estadual Fernando Francischini (PSL-PR) pela disseminação de notícias falsas. No dia da eleição de 2018, o ex-parlamentar divulgou vídeo afirmando que as urnas eletrônicas haviam sido fraudadas para impedir a votação no então candidato Bolsonaro. O presidente alegou que Francischini “disse a verdade” no vídeo.

O advogado do Grupo Prerrogativas aponta que Bolsonaro não tem nenhuma mediação com a realidade e prefere apostar no caos ao ver sua reeleição ameaçada. “Nós temos que colocar as coisas nos seus devidos lugares. A liberdade de pensamento existe, mas você não pode mentir e tentar destruir o sistema eleitoral. A mesma urna que ele ataca, o elegeu por 30 anos. Nunca houve alguma evidência de fraude no sistema de urnas eletrônicas. Quando ele chancela a opinião de um deputado antidemocrático, Bolsonaro comete um crime contra a democracia”, afirmou.

Confira a íntegra da entrevista