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Artistas, políticos e sindicalistas lamentam a condução do processo de impeachment

Ao justificar seus votos contra a legalidade democrática, parlamentares raramente citam o mérito da denúncia do impeachment

Antonio Augusto/ Câmara dos Deputados

Deputados contra impeachment, no início da sessão da Câmara: opositores agora ‘retribuirão’ apoios

São Paulo – Presente na vigília pela democracia em Goiânia, o presidente da CUT Goiás, Mauro Rubens, disse que as manifestações populares devem crescer a partir de amanhã (18), independentemente do resultado da votação do processo de impeachment em curso na Câmara dos Deputados. “O povo que está na rua vai continuar. Tomou gosto e está entendendo. O processo de mobilização cresce nesta nova fase, seja qual for o resultado”, disse, em entrevista para a Rádio Brasil Atual.

Rubens teme o avanço do conservadorismo no país, apoiado pela mídia tradicional. “Eu mesmo respondo processo da Rede Globo. Temos uma onda conservadora de ataques a movimentos sociais. Precisamos acompanhar com atenção, também a questão da tirania de Curitiba”, afirmou, em referência ao processo da Operação Lava Jato.

O sindicalista alerta para os dias que sucedem o processo de impeachment na Câmara. “O próprio Cunha disse que, assim que votar o impeachment, vai votar a terceirização. Vai pagar os empresários pelo apoio ao golpe”, afirma sobre o projeto de lei que retira direitos dos trabalhadores, fragilizando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em benefício da classe patronal (cuja representação em São Paulo fica por conta da Fiesp e seu forte apoio ao impeachment).

Aldo Fornazieri, coordenador da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), acredita que as pautas de ataques à direitos são base no plano de governo do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), e do seu companheiro de partido, capitão do impeachment, Eduardo Cunha (RJ). “Quem leu o programa do PMDB, chamado de Ponte para o Futuro, eu digo Ponte para o Inferno, estão ali ataques aos direitos trabalhistas (…) Isso que vai vir, ataques aos trabalhadores para que eles paguem de forma brutal o pato que a Fiesp (que apoiou a ditadura) não quer pagar.”

Fornazieri, em contrapartida, entende também que “surgiu uma nova militância combativa, à margem do Partido dos Trabalhadores, que se acovardou e reagiu tardiamente ao processo. Setores populares devem lutar muito. Se vier este governo Temer, que deve se tirar dinheiro dos pobres para dar para os ricos, lugar de povo que quer garantias e direitos será na rua.”

Já o ator Celso Frateschi, presente no ato pela democracia em São Paulo, lamenta a natureza do Congresso. “Não se tira uma linha produtiva. Nos votos, dizem que estão em nome da família, do neto, bisneto e avô. Nenhuma acusação tem a ver com o processo de impeachment. É muito grave o que está acontecendo. Não tem outra palavra para descrever. É golpe”, diz.

Frateschi também segue na linha argumentativa de que as mobilizações em defesa da democracia devem continuar. “Qualquer seja o resultado, a batalha continua. Seria muito bom que este espetáculo patético das declarações de voto perdesse. Parece realmente um terceiro turno eleitoral, sem a participação do povo.”

O ex-senador e pré-candidato a vereador pela cidade de São Paulo Eduardo Suplicy lamentou o caráter de “terceiro turno” da votação de hoje. “É importante respeitar a democracia e o resultado das eleições de outubro de 2014. Dilma não cometeu qualquer crime de responsabilidade. É injusto o comportamento dos que votam pelo impedimento”, afirma.