Presidente fake news

Após três meses, PF passa a apurar mentiras de Bolsonaro sobre vacina

Determinada por Alexandre de Moraes a partir da CPI da Covid, investigação apura crimes de epidemia, infração de medida sanitária preventiva e incitação ao crime

Nelson Jr./SCO/STF / Clauber Cleber Caetano/PR
Nelson Jr./SCO/STF / Clauber Cleber Caetano/PR

São Paulo – A Polícia Federal anunciou hoje (3) que está tomando as “medidas iniciais” sobre o inquérito que apura a conduta do presidente Jair Bolsonaro em uma live, no final de outubro, em que fez associação mentirosa da vacina contra a covid-19 com a aids. A fake news, com efeitos desastrosos em meio à pandemia, levou o Facebook e o Youtube a tirar o vídeo do ar. Na semana seguinte, o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, reforçou que os imunizantes aprovados no Brasil são seguros e que nenhum aumenta a chance de a pessoa vacinada desenvolver outras doenças.

A delegada Lorena Nascimento, responsável pelo caso, anunciou que é necessário checar no Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido se o país teria divulgado em seus sites oficiais a a mentira dita pelo presidente brasileiro. Ela também quer conferir no Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid), dos Estados Unidos, se existe alguma publicação de profissionais do instituto, especialmente do médico imunologista Anthony Fauci, segundo a qual a maioria das mortes da gripe espanhola tenha acontecido devido a uma pneumonia bacteriana secundária, e que a proliferação dessa bactéria estaria associada ao uso de máscaras.

A PF vai apurar também a confiabilidade de sites basearam as informações replicadas pelo presidente Bolsonaro em sua live.

Crimes de Bolsonaro

A apuração foi determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes em 3 de dezembro. O ministro levou em consideração manifestação do então presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM), e também o relatório da comissão.

Em seguida, o procurador-geral da República, Augusto Aras, ingressou com recurso, alegando que a CPI da Covid, autora do pedido, não tem legitimidade para fazê-lo. Além disso, afirmou que a Advocacia do Senado não tem capacidade para atuar no caso e que o ministro relator, Alexandre de Moraes, não tem competência ante a ausência da alegada prevenção. No pedido, Aras sustenta ainda que, ao contrário do afirmado na decisão pela abertura do procedimento, “jamais existiu qualquer inércia ministerial” em relação aos fatos apontados.

Moraes, no entanto, ordenou o trancamento da investigação da PGR e manteve a investigação contra Bolsonaro. Na PF, no âmbito deste inquérito, o presidente é investigado pelos crimes de epidemia, de infração de medida sanitária preventiva e de incitação ao crime.