Trama desfeita

Para líder do PT, ‘farsa foi por água abaixo’. Psol pedirá prisão de Jucá à PGR

Para parlamentares, gravações de Jucá revelam que articulações para derrubar Dilma e colocar Temer tinham como objetivo blindar políticos do PMDB e PSDB da Lava jato

Câmara dos Deputados e Agência Senado

Florence (esq.) observa que Jucá, como Delcídio, cita Aécio. Ivan Valente (dir.) exige: PGR e STF têm de se pronunciar

Brasília – O vazamento de uma conversa gravada em março passado entre o ministro interino do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), e o ex-diretor da Petrobras e ex-senador Sérgio Machado (PSDB) repercutiu como uma bomba. “A farsa política deles finalmente foi por água abaixo”, disse o líder do PT na Câmara, deputado Afonso Florence (PT-BA).

O presidente nacional do Psol, Luiz Araújo, afirmou em nota não reconhecer Michel Temer como presidente “nem os corruptos” que o acompanham no governo interino. “O mínimo que a PGR (Procuradoria-Geral da República) deve fazer é pedir a prisão de Jucá. E o mínimo que O STF (Supremo Tribunal Federal) deve fazer é acatar o pedido”, diz a nota. Segundo o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP), o partido ingressará com ação na PGR nesta segunda-feira (23), pedindo a prisão de Jucá.

Na conversa, o ministro interino do Planejamento dá sinais de envolvimento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no esquema de propinas da estatal, fala em pacto para parar a operação Lava Jato e, ao mesmo tempo, destaca a importância do afastamento de Dilma Rousseff do cargo para Michel Temer assumisse. Para Afonso Florence, a gravação deixa nítida a existência de um golpe para tirar a presidenta.

“Esses fatos todos não são novidade para nós, mas foram muito bem manipulados para passar uma imagem de que o PMDB estava querendo limpar o Brasil da corrupção. São denúncias que vinham sendo antecipadas por nós, de que havia uma articulação em curso para dar um golpe no país, obstruir as investigações da Lava Jato e blindar estes políticos, principalmente os do PMDB e do PSDB”, disse o líder do PT.

De acordo ainda com Florence, as gravações comprovam que todo o movimento para levar Michel Temer à presidência da República teve como prioridade esse objetivo – que não teria ido adiante sem a cumplicidade da imprensa comercial“É importante destacar que Romero Jucá cita o nome do senador Aécio Neves, também já citado pelo senador cassado Delcídio do Amaral. E sabemos que Delcídio vinha de uma articulação formada lá atrás, pelo PSDB. Todos sabem que ele teve uma vida como executivo e entrou na política vinculado ao PSDB”, acentuou.

O líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), sugere que Jucá renuncie. “Acho que ele poderia dar uma demonstração e sair do governo, para que possa se explicar. É uma situação muito complicada a manutenção dele no governo”, disse Pauderney em entrevista a uma emissora de rádio.

Na mesma emissora, a colunista Mônica Bergamo revelou que próprio Temer tinha medo de que o ato de dar uma pasta ao senador fosse interpretado como uma tentativa de bloquear a Lava Jato. Segunda a colunista a cúpula do partido tinha esperança de “estancar a sangria” com o afastamento de Dilma Rousseff, deixando a operação focada no PT, com respingos no PMDB.

Direito à defesa

Afonso Florence afirmou, ainda, que deseja que todos eles, tanto Jucá, como Aécio Neves – “e até Michel Temer, que não foi citado neste caso. mas tem o nome mencionado em várias investigações da Lava Jato” – sejam investigados com o devido direito à defesa e ao processo legal. E acrescentou que essas prerrogativas não foram concedidas à presidenta Dilma Rousseff nem têm sido aplicadas nas investigações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“É estranho vermos que, quando surge algo contra o ex-presidente Lula, que nem sequer foi comprovado, é feito um escarcéu. Então, desejo que todos sejam investigados com todas as prerrogativas a que têm direito, assim como Lula e Dilma também sejam tratados com as prerrogativas asseguradas a eles pela Constituição, e não de forma diferenciada”, reclamou.

Florence acrescentou que, além de estar confiante de que o impeachment não será ratificado pelo Senado, o PT e os partidos que faziam a base aliada do governo afastado continuarão “perseverando na defesa do Ministério Público da União e da Polícia Federal”.

No Congresso Nacional, é grande a expectativa em relação à chegada de senadores e deputados, uma vez que vários deles encontram-se em trânsito. Muitos têm enviado mensagens por meio de redes sociais. Lindbergh Farias (PT-RJ) escreveu na sua conta no Facebook: “A casa caiu” (numa referência a Jucá e ao governo Temer).

Nos bastidores, informações são de que uma reunião estaria sendo realizada entre o presidente interino Michel Temer e ministros da área de articulação política para decidir sobre o destino de Romero Jucá.

No início da manhã, o ministro disse que não há nas gravações nada que o incrimine. Afirmou que, quando falou em pacto na conversa, referiu-se a uma forma de serem aceleradas as investigações da Lava Jato e não em tentativas de obstruir as investigações. Jucá afirmou que seu cargo “pertence a Michel Temer” e respeitará qualquer decisão a ser tomada, mas não renunciará.

Entre políticos da “tropa de choque” de Temer, a discussão é justamente se será possível manter o ministro.

A notícia mexeu também com a agenda de Temer. Estava prevista sua ida às 16h ao Senado para entrega do novo projeto da meta fiscal do governo ao presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). E às 17h, a realização de uma entrevista coletiva do presidente em exercício no Palácio do Planalto ao lado, justamente, dos seus ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, que é Jucá.

Não se sabe ainda se esta agenda será cumprida. A assessoria de imprensa da Presidência não confirmou a realização dos eventos, nem qualquer cancelamento a respeito.

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