Reingresso do Paraguai e novos membros pautarão a Cúpula do Mercosul

Evento será realizado no Uruguai a partir de amanhã (11). Na sexta (12), vai ocorrer a cúpula dos chefes de estado

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Apesar da eleição de Horacio Carte, entraves continuam e paraguaios exigem a presidência do Mercosul

Montevidéu – Os esforços para restaurar as rachaduras causadas pela suspensão do Paraguai e as possíveis incorporações da Bolívia e do Equador como membros de pleno direito darão o tom da reunião de chanceleres do Mercosul que começa amanhã (11) no Uruguai como passagem prévia à Cúpula presidencial.

Os ministros das Relações Exteriores do bloco analisarão e tentarão oferecer uma saída para o conflito criado com o governo paraguaio afastado do grupo durante o último ano e a negativa do país de se reintegrar ao Mercosul se a Venezuela chegar à Presidência do Mercosul sem seu sinal verde, como está previsto.

Essa complicada situação política será abordada nesta 45ª Reunião do Conselho do Mercado Comum, o que deixará para segundo plano assuntos como a ampliação do bloco à Bolívia e Equador, que deveria avançar sem maiores contratempos, e outros temas de índole comercial e econômico que aparecem muito diluídos na agenda.

As decisões dos chanceleres serão finalmente aprovadas na sexta-feira (12) na Cúpula de chefes de Estado e de governo do bloco, onde a Venezuela assumirá a presidência temporária após o Uruguai.

Sem a presença de representantes paraguaios, os chanceleres do Brasil, da Argentina, do Uruguai e da Venezuela deverão esclarecer qual é o futuro no bloco do país, suspenso após a destituição parlamentar do presidente Fernando Lugo em 2012, entendida como um golpe de Estado pelos outros membros.

Após a eleição democrática de Horacio Cartes como presidente nas últimas eleições paraguaias, que tomará posse no dia 15 de agosto, os impedimentos apresentados para a suspensão do país deveriam ser eliminados.

Agora, no entanto, são os paraguaios que exigem a presidência do bloco em vez da Venezuela, cuja presença no Mercosul não conta com a aprovação obrigatória do Senado paraguaio.

Para Assunção, o Mercosul deveria tomar “uma decisão sensata” nesse sentido e cumprir com o pedido de que a Venezuela não seja sua presidente, para garantir a “dignidade” de seu país, segundo disse seu chanceler, José Félix Fernández Estigarribia.

A resposta dos membros é categórica e os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Antônio Patriota, e do Uruguai, Luis Almagro, ratificaram que a Venezuela assumirá a presidência já que até 15 de agosto, “o Paraguai continua suspenso”.

A reincorporação do Paraguai também obrigaria a considerar as relações entre Assunção e Caracas, depois que os primeiros declararam ao atual presidente do país caribenho e então chanceler Nicolás Maduro como persona non grata por “ingerências” em sua política interna durante a destituição cassação de Lugo.

Quanto à incorporação da Bolívia e do Equador a situação é muito menos complicada e esperam-se passos positivos nesse sentido, particularmente no caso boliviano.

Além disso, certamente o caso da retenção do voo do presidente Evo Morales na Europa, na semana passada, fará parte da pauta e espera-se que o bloco demonstre seu apoio ao líder boliviano e sua rejeição às atitudes do Velho Continente.

Assim, os chanceleres do Mercosul seguirão com o desafio de superar seus persistentes conflitos e assimetrias comerciais e avançar no acordo largamente discutido com a União Europeia (UE).

Isso sem contar com a entrada em cena da Aliança do Pacífico, aposta comercial formada pelo Chile, Colômbia, Peru e México que ameaça pôr em risco sua liderança regional e que atrai com força os membros menores do Mercado Comum do Sul, Uruguai e Paraguai, interessados em abrir novos caminhos para seus produtos.

De fato, o Uruguai já transmitiu publicamente sua intenção de não ser apenas observador, mas também “protagonista” na Aliança do Pacífico.

Os chanceleres, além disso, terão como pano de fundo os fortes protestos e a profunda indignação social que veio à tona no Brasil durante as últimas semanas, mostrando as debilidades da maior economia do Mercosul e na autêntica locomotiva econômica da associação.

O ministro Patriota referiu-se há semanas ao Mercosul reconhecendo sua importância “estratégica”, mas também seu esgotamento como instrumento para a integração sul-americana.

Patriota insistiu que faltam agora avanços em temas não comerciais, onde quase não há espaço “para avançar”, como a ciência, a tecnologia, a saúde e a educação.

Nesse sentido, Brasil e Uruguai assinaram nesta semana um acordo bilateral para simplificar os trâmites de mudança de residência de um país para o outro, entendido como um “primeiro passo” para garantir a livre circulação de pessoas entre os dois territórios.

Turismo gay

O incentivo ao turismo “gay friendly” e a integração regional das atividades turísticas estão entre os interesses dos empresários do Mercosul, que debaterão o assunto no fórum. No encontro empresarial, que terá um painel temático sobre turismo dirigido a profissionais da região, serão buscadas estratégias para potencializar o turismo “gay friendly” por ser “um dos maiores setores de crescimento”, explicou à Agência Efe o subsecretário de Turismo e Esporte do Uruguai, Antonio Carámbula.

“A região continua se adaptando às novas exigências do mercado turístico e profissionalizando seus serviços para cada objetivo”, destacou Carámbula em relação ao turismo gay.

A legalização do casamento de pessoas do mesmo sexo no Brasil, na Argentina e no Uruguai colocou os três países na lista de destinos preferidos entre os homossexuais.

Assim, na semana passada aconteceu em Buenos Aires a 6ª Conferência Internacional de Negócios e Turismo LGBT (Lésbicas, Gays, Transexuais e Bissexuais) para analisar o mercado.

Além desse tema, Carámbula destacou que a reunião empresarial tentará responder a diferentes necessidades regionais, como “uma maior cooperação em capacitação e conscientização turística, a realização de intercâmbios de grupos para o aperfeiçoamento de idiomas e uma maior interação de experiências entre países”.

Apesar de já haver ações conjuntas de turismo nos países integrantes do Mercosul, como uma rede técnica que se reúne “frequentemente” para coordenar políticas e trabalhar em ações conjuntas, o subsecretário uruguaio disse que existem temas “que ficam permanentemente na agenda”.

Entre eles, “a facilitação da passagem nas fronteiras da região, a integração de circuitos turísticos e a homogeneização de dados”, relatou.

O subsecretário também destacou a existência, desde 2004, de um projeto conjunto para o mercado japonês que conta com um escritório de promoção em Tóquio para “promover atividades promocionais no mercado asiático, assim como a presença conjunta do Mercosul na feira de turismo Jata”.

Segundo ele, em 2012 os países do bloco, com a exceção da Venezuela e incluindo o Paraguai, receberam 14,5 milhões de turistas de todo o mundo e a renda global por esta atividade rondaram os US$ 14 bilhões.

No mesmo ano, o Brasil teve um crescimento de 5,5% no receptivo de turistas em relação a 2011, com 5,7 milhões de visitantes.

Por outro lado, Argentina teve uma queda de 4,6% em seu turismo receptivo, chegando a 5,5 milhões de visitantes.

Além disso, ressaltou que para o Uruguai o turismo é atualmente a “principal atividade econômica individualmente considerada”, ao representar “7% do PIB e ingressos da ordem de US$ 2 bilhões anuais”.

No ano passado chegaram ao país cerca de 3 milhões de turistas, praticamente a mesma quantidade de habitantes do Uruguai (3,3 milhões).

“Os países que integram o Mercosul e as empresas turísticas são conscientes de que é indispensável construir pilares sólidos para uma indústria que, além das conjunturas, continuará crescendo e precisará dos esforços de toda a região para continuar se desenvolvendo”, opinou.

 


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