Opositor acusa fraude na eleição do Afeganistão

Observadores europeis relatam ameaças e denúncias de violência atribuídas ao Talebã. Apesar das críticas, Abdullah Abdullah e Hamid Karzai prometem aceitar o resultado oficial

Eleitoras votam em Kandahar, ao sul do Afeganistão (Foto: Omar Sobhani/Reuters)

Abdullah Abdullah, principal opositor de Hamid Karzai, presidente do Afeganistão, declarou no domingo ter evidência de que a votação de quinta-feira (20) foi manipulada. Observadores da União Europeia classificaram o processo como justo porém não livre. O resultado oficial ainda não foi divulgado.

“Os relatórios iniciais que nós recebemos são alarmantes”, disse o ex-ministro do exterior Abdullah Abdullah que pode levar as eleições a um segundo turno. “Deve ter havido milhares de violações em todo o país, nenhuma dúvida a respeito disso”, sustenta.

Com os dois lados alegando vitória, o enviado de Washington à região, Richard Holbrooke, disse que tanto Karzai quanto Abdullah prometeram respeitar o resultado. Duas pesquisas realizadas antes das eleições previram que Karzai ganharia, mas não com margem suficiente para evitar um segundo turno contra Abdullah.

O início do mês de Ramadã e uma relativa acalmada na violência tenha ajudado a aliviar as tensões. Autoridades ocidentais e do Afeganistão se mostraram aliviadas que a violência não impediu a eleição de acontecer na quinta-feira passada depois que militantes do Talibã prometeram parar o processo e realizar ataques esporádicos no país todo na manhã da eleição.

Ainda assim, ao menos nove civis afegãos e 14 membros das forças de segurança foram mortos no dia da eleição, quando bombas choveram sobre as cidades, especialmente na região sul. Milhares de pessoas enfrentaram ameaças de violência do Talibã para votar, no que é apenas a segunda eleição presidencial do país.

Em um comunicado, o grupo nacional de observação das eleições afirmou estar lidando com um grande número de reclamações, mas que não há nenhum sinal de que estas afetariam diretamente o resultado das eleições. A Comissão para Reclamações Eleitorais (ECC, na sigla em inglês) disse ter recebido 225 reclamações, das quais 35 foram classificadas como prioritárias.

A UE, como outros grupos ocidentais que acompanharam o processo eleitoral, teve poucos funcionários que conseguiram chegar às violentas províncias do sul.

A eleição é crucial para o presidente dos Estados Unidos Barack Obama e para o primeiro-ministro britânico Gordon Brown. Ambos sofrem críticas pela ocupação do Afeganistão desde 2001 e pelos planos de levar mais soldados americanos para derrotar o Talibã e seus aliados islâmicos e estabilizar o Afeganistão. É também um importante teste para Karzai depois de oito anos no poder.

Críticos do processo alertam que três quartos do território afegão está sob o controle do Talibã – banido de participar da eleição – e que a votação ocorreu com proteção apenas em áreas urbanas, onde tropas internacionais estão presentes.

Abdullah é visto como alinhado ao Irã e apoiado pela Rússia. Sua origem é metade pasthun e metade tajique. Karzai é o preferido por Washington e Londres. É de etnia pasthun do sul.

 

Com informações da Agência Reuters