Milhares protestam contra austeridade grega, criticada pelo próprio FMI

São Paulo – Milhares de aposentados e pensionistas ocuparam hoje (15) as principais ruas de Atenas, capital da Grécia, em protesto contra as medidas de austeridade adotadas pelo governo, na […]

São Paulo – Milhares de aposentados e pensionistas ocuparam hoje (15) as principais ruas de Atenas, capital da Grécia, em protesto contra as medidas de austeridade adotadas pelo governo, na tentativa de conter os efeitos da crise econômica internacional no país. As medidas incluem cortes no funcionalismo público, aumento de impostos e redução nos valores dos salários de servidores, aposentadorias e pensões.

A chuva em Atenas não impediu a manifestação, que se dirigiu ao Ministério do Trabalho. “Nós não estamos falando apenas de alguns problemas simples. Eles (os integrantes do governo) estão nos matando com essas medidas”, reagiu Dimos Koumbouris, da associação que representa aposentados e pensionistas no país.

“Não podemos pagar nossas contas. Não há como pagar impostos de emergência. Não temos dinheiro suficiente para os nossos medicamentos. Nossas vidas estão em perigo”, acrescentou.

Sindicatos convocaram greve geral para 20 de fevereiro, em protesto contra novos aumentos de impostos e a decisão do governo de cortar acordos coletivos de salário no setor público como parte de uma revisão das rendas desse tipo de funcionário.

Austeridade contra a crise

Nos últimos meses, a Grécia se transformou em um dos principais focos da crise na zona do euro e pelo sexto ano seguido permanece em recessão. Há três anos, o país recorrendo a empréstimos internacionais e desde então seu PIB caiu 25%.

Em janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou um novo empréstimo para os gregos sob a condição de o país impor mais medidas de austeridade. Em novembro, o Parlamento havia aprovado mais ações nesse sentido para serem executadas nos próximos dois anos.

No mesmo mês, os economistas chefes do FMI Oliier Blanchard e Daniel Leigh, publicaram o relatório “Erros na Previsão de Crescimento e Multiplicadores Fiscais”, em que dizem que a instituição fez projeções extremamente mal calculadas sobre como a austeridade prejudicaria a economia grega em vez de ajudá-la. Segundo eles, os estudos da agência erraram em cerca de 300%.

Olli Rehn, comissionário da União Europeia para assuntos monetários, no entanto, escreveu a oficiais da UE dizendo que a Grécia será forçada a manter as medidas austeras mesmo que os números mostrem que estejam falhando. A arrecadação de impostos, por exemplo, está em menor que o esperado com o aumento nas taxas.

O comissionário disse ao jornal Kathimerini que era “um erro fundamental de registros históricos” sugerir que o programa grego mudou de direção porque teria sido mal estruturado e porque economistas do FMI não estariam bem informados. Segundo ele, outros fatores afetaram o país, como “incerteza persistente e problemas com implementação”, culpando sucessivos governos de falharem em implementar reformas como privatizações mais rapidamente.

Pobreza e desemprego

O maior sindicato do país, GSEE, publicou nesta semana uma projeção de que 3,9 dos 11 milhões de gregos estarão oficialmente vivendo na pobreza, comparados aos 3,1 milhões em 2011. A linha de pobreza grega se define em €7,200 (R$ 18,8 mil) anuais por pessoa.

Ioannis Kouzis, professor do departamento de políticas sociais da Universidade de Panteion e conselheiro do GSEE, afirmou que a taxa de desemprego atingiria 30% ao fim do ano. “Há 470 mil casas sem ninguém trabalhando”, disse à rede televisiva Skai.

“Quando as medidas de austeridades começaram, o desemprego estava a 9%. Desde então, rendas têm ruído e o desemprego aumentado… Então a ideia de que salários menores impulsionarão o emprego se proou totalmente falsa”, acrescentou.

De acordo com dados da Elstat, agência de estatísticas local, o desemprego na Grécia chegou a 27% em novembro de 2012, um aumento de 0,4 ponto percentual em relação ao mês anterior e acima do índice da zona do euro, na mesma época, de 11,7%.

30 mil gregos perderam seus emprego nesse mês e os mais afetados são os jovens entre 15 e 24 anos, dos quais 61,7% estão desempregados. No final de novembro, o número de empregados era de 3,6 milhões; desempregados, 1,35 milhão; e pessoas inativa, 3,3 milhões.

Em novembro de 2011, o nível de desemprego no país era de 20,8%. A contração anual da economia no último trimestre de 2012 correspondeu a 6%, acompanhada de 6,7%, 6,4% e 6,7% nos trimestres anteriores.

Salário mínimo

Além disso, existem especulação de que o salário mínimo, atualmente em €500 (R$1,311), seria reduzido mais uma vez. O secretário-geral do Ministério do Trabalho, Giorgos Mergos, disse nesta semana que a renda mínima “se encontra em altos níveis, e temos que ter cuidados com isso no nosso curso para o desenvolvimento”.

A declaração causou insatisfação do maior partido opositor grego, Syriza, cuja ala jovem ocupou o escritório acadêmico ontem (14) – uma forma comum de protesto no país. O partido acusou a polícia de usar força contra manifestantes. O governo, porém, negou que planeja reduzir o salário mínimo ou que isso tenha sido uma demanda dos inspetores da dívida nacional.

Olli Rehn mencionou que o acordo entre Grécia e credores prevê “uma revisão do sistema de salário mínimo para 2014”. Seu porta-voz disse que “não há, explícita ou implicitamente, tratos para que haja novos cortes”.

Com agências