Mordaça

Milei fecha agência de notícias argentina, dispensa funcionários e manda lacrar a sede

Sede da Télam, criada em 1945, amanheceu fechada e cercada pela polícia

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São Paulo – Atacada durante a ditadura argentina e em governos como os de Carlos Menem, Fernando de la Rua, e Mauricio Macri, a agência de notícias Télam amanheceu fechada nesta segunda-feira (4) e com todos os funcionários dispensados pelo governo de Javier Milei. Um interventor foi nomeado. “Testemunha chave da história recente nas últimas oito décadas”, como definiu o jornal Página 12, a agência saiu do ar. Quem acessa o site lê apenas “página em reconstrução”.

A Télam foi criada em 1945 pelo então secretário do Trabalho, Juan Domingo Perón – que se tornaria presidente no ano seguinte. O objetivo, segundo se falou na época, era pôr fim à hegemonia das agências estrangeiras United Press International (UPI) e Associated Press (AP).

Assim, a sede de uma das maiores agências de língua espanhola do mundo amanheceu lacrada e cerca pela polícia. Os aproximadamente 700 funcionários foram dispensados, a princípio por uma semana. Na última sexta (1º), Milei havia dito que pretendia fechar a Télam, sob pretexto de redução de custo, além de ver conteúdo “kirchnerista” em seu conteúdo. Os trabalhadores foram avisados por e-mail.

Acesso à informação

Entrevistado pela Agência Brasil, o diretor do escritório da organização Repórteres Sem Fronteiras para a América Latina, o brasileiro Artur Romeu, considerou a medida um desrespeito com a sociedade argentina. “A comunicação pública é um aspecto essencial do direito ao acesso de informação, na medida em que fortalece o pluralismo no horizonte midiático, que na Argentina é historicamente marcado por uma alta concentração”, afirmou. “A Télam e a Radio Nacional são os únicos meios públicos com correspondentes em todas as províncias do país.”

A Prensa Madres, da Associação Mães da Praça de Maio, defendeu o direito à comunicação e disse não ao fechamento da Télam. Além disso, várias entidades já se manifestaram em defesa da agência, e também parlamentares do Congresso argentino. A Télam produzia mais de 500 notícias por dia, e pelo menos 200 fotografias.