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América Latina deve se unir para democratizar vacinas e combater desigualdade, defende Grupo de Puebla

“Que unida, a América possa avançar”, disse o argentino Alberto Fernández. Para o espanhol José Luis Zapatero, “as palavras que preocupam são acesso à vacina”

Reprodução (YouTube) - Divulgação
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Da esq. para a dir., o presidente argentino, Alberto Fernández, o espanhol Zapatero e o ex-chanceler Celso Amorim

São Paulo – Na quinta reunião do Grupo de Puebla, nesta sexta-feira (29), líderes políticos defenderam a unidade dos países da América Latina como principal instrumento para enfrentar os desafios geopolíticos e superar a “onda” de direita e extrema-direita que invadiu o continente nos últimos anos. “Que unida, a América possa avançar”, disse, por exemplo, o presidente da Argentina, Alberto Fernández. Segundo ele, a região passou por quatro anos difíceis com a gestão de Donald Trump nos Estados Unidos.

A vitória de López Obrador no México, em 2018, “nos abriu caminho” para uma retomada na direção de uma visão progressista, anotou o argentino. “É essencial que a América Latina volte a se unir, como um todo. Unidos, podemos conseguir muito mais.” Segundo Fernández, a unidade dos países latino-americanos poderia facilitar a negociação conjunta de vacinas contra a Covid-19.

Pandemia no continente

Para José Luis Zapatero, ex-presidente do governo da Espanha de 2004 a 2011, no cenário atual do mundo “as palavras que preocupam são acesso à vacina”. O socialista apresentou duas propostas para serem colocadas na pauta do fórum. A primeira, que o Grupo de Puebla reivindique à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) uma “radiografia” permanente para monitorar e atualizar a questão das vacinas. Também para acompanhar a imunização em cada país da região e fazer a comparação com países desenvolvidos. “Para que se faça evidente a desigualdade. Informar semana a semana como vai a vacinação, denunciando”, defendeu.

“Na linha da unidade, tem que haver uma reflexão sobre por que a democracia perde atrativo hoje, com movimentos sísmicos.” Zapatero exemplificou tais movimentos perturbadores com a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, no início do mês, por grupos extremistas apoiadores do agora ex-presidente Donald Trump. O líder propôs também que o Grupo de Puebla mantenha diálogo com a União Europeia, segundo ele, “mais autônoma”, se os países se resumirem à polarização EUA versus China.

Nações Unidas

Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores brasileiro, elogiou a mensagem enviada ao fórum por António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. Nela, o ex-primeiro ministro de Portugal exortou os países que deem proteção “aos mais vulneráveis” do mundo diante da pandemia de covid-19. Também defendeu que a “vacina seja acessível a todas as pessoas”. De acordo com Guterres, “não se pode permitir que as dificuldades ampliem as desigualdades e é preciso evitar que a crise de liquidez (mundial) “se converta em nova década perdida”.

“É muito importante que o secretário-geral da mais importante organização do mundo se dirija a nós, porque é um sinal de abertura que temos que aproveitar (neste momento de pandemia)”, disse Amorim. Para o ex-chanceler, os acontecimentos recentes nos Estados Unidos, com a eleição de Joe Biden e a invasão do Capitólio representam “o fim de uma era”. Ele acrescentou: “Não sei se da era Trump ou da era da hegemonia norte-americana. Mas o fim de uma era. Felizmente não ganharam os reacionários da extrema-direita”, concluiu.

Os ex-presidentes brasileiros Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff participaram da reunião do Grupo de Puebla. “A América Latina precisa definitivamente encontrar o seu caminho. Nós não podemos ficar entre a grandeza americana e a chinesa, na nossa pequenez”, disse Lula (leia aqui).