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Fernández e Milei fazem reunião para iniciar processo de transição na Argentina

Após eleição de domingo, posse do extremista de direita autodenominado “libertário” acontecerá no próximo dia 10 de dezembro. Ele venceu Sergio Massa por cerca de 11 pontos de diferença

Télam
Télam
Na foto oficial, nesta segunda-feira, atual governante e presidente eleito aparecem com fisionomia severa

São Paulo – O presidente Alberto Fernández e o eleito, Javier Milei, se reuniram nesta terça-feira (21) na Quinta de Olivos, residência oficial da Presidência da Argentina, em Olivos, subúrbio de Buenos Aires. A previsão anterior era que a reunião acontecesse ainda na segunda, dia seguinte à eleição de domingo (19) que colocou a extrema-direita no lugar do peronismo para governar o país. Milei teve votação que surpreendeu suas próprias expectativas, vencendo por 55,7% contra 44,3% do peronista Sergio Massa.

Na foto divulgada pela Télam, a agência pública de notícias argentina, Fernández e Milei aparecem com fisionomia severa. Em comunicado de poucas linhas, o governo informou que o objetivo da reunião foi “iniciar o processo de transição institucional entre as equipes designadas por ambos nas diferentes áreas do governo”. A posse do extremista acontecerá no próximo dia 10 de dezembro.

Segundo a imprensa argentina, nas últimas horas foi confirmado que o agora ex-candidato da Unión por la Patria, o Ministro da Economia Sergio Massa, permanecerá no cargo até o final do mandato de Fernández. Massa montou um gabinete de transição que atuará coordenado com as equipes do eleito. Aparentemente, não haverá mudanças significativas até a troca de comando do país.

Mercosul

Uma das principais incógnitas com a vitória de Milei é o futuro do Mercosul. Como candidato, o agora presidente eleito chegou a declarar que o país deixaria o bloco, se ganhasse. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que pretende concluir as negociações para o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) até 7 de dezembro, data que marca o fim da presidência rotativa do Brasil no bloco (leia mais aqui).

Ontem, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, disse que Lula não deverá participar da cerimônia de posse do presidente de Milei, mas ressalvou que “o Estado brasileiro estará representado”.

Apreensão ante rumos da economia

Segundo aponta o jornal conservador Clarín, é esperado pelo mercado financeiro um “ajuste abrupto e profundo” na economia argentina, que passa por grave crise e inflação estratosférica. Nesse quadro, há “dúvidas sobre governança” do futuro governo.

Segundo o jornal, o primeiro discurso de Milei como presidente eleito teve um tom de “moderação inesperada” e ele evitou se referir aos seus “dois cavalos de batalha” durante a campanha: a dolarização da economia e o fechamento do Banco Central. Porém, o mercado financeiro vê a possibilidade de que o “libertário” possa ameaçar a estabilidade financeira.

As propostas de campanha mais polêmicas de Milei poderiam colapsar o mercado interno e ameaçar a estabilidade financeira, disse um representante da agência de crédito Moody’s citado pelo Clarín.

Futuro incerto

A agência chamou a atenção para um necessário consenso para implementar reformas propostas e ao mesmo tempo manter a governabilidade, diante de um Congresso dividido e as pressões sociais que estão à frente de Javier Milei.

Logo após a eleição, analistas já apontam ser possível que o presidente eleito tenha dificuldades para governar o país e terminar o mandato, considerando a história argentina nas últimas décadas.

Entre o final de 1999 e 2003, período em que a Argentina passou por grave crise econômica, o país teve nada menos do que cinco presidentes. Eles foram caindo um após o outro, até que Néstor Kirchner assumiu em maio de 2003 e deu início a uma hegemonia de 12 anos de peronismo.