déjà vu no Mercosul

Milei ratifica planos de fechar BC, privatizar, defender família tradicional e tem até superministra

Na sexta-feira, o gabinete do eleito divulgou comunicado para “esclarecer que, “ante os falsos rumores, o fechamento do Banco Central não é um assunto negociável”.

Reprodução/Youtube
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Fechamento do Banco Central "não é negociável", afirmou gabinete do presidente eleito nesta sexta

São Paulo – O período que antecede a posse do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, é uma espécie de déjà vu para os brasileiros que viveram o longo processo da eleição e governo de Jair Bolsonaro. Enquanto os setores progressistas do país vizinho assistem com angústia aos movimentos do eleito, os auxiliares mais próximos do “libertário”, e ele próprio, vão dando as prévias do que será o próximo governo, pelo menos segundo suas intenções.

Nessa sexta-feira (24), o gabinete do presidente eleito divulgou um comunicado para informar que, “ante os falsos rumores difundidos, desejamos esclarecer que o fechamento do Banco Central não é um assunto negociável”.

A futura “superministra” do Capital Humano, Sandra Pettovello, por exemplo, como o brasileiro Paulo Guedes, coordenará enorme espectro do Estado, as áreas mais sensíveis do governo. Sua pasta funde Desenvolvimento Social, Saúde, Educação e Trabalho, que serão todas reduzidas a secretarias. O discurso de Pettovello é muito conhecido dos brasileiros nos últimos anos: contra direitos, em defesa da família tradicional, redução total do Estado e defesa de que todos paguem pelas necessidades básicas. É quase uma Damares Alves rejuvenescida.

Sandra Pettovello é “uma mulher de convicções”, ironiza o jornal Página12. Ela “tem saudades da família como estrutura solar que proteja e contenha os problemas sociais”.  Além disso, “é especialista em mindfulness, crises e luto, vínculos e casais, reikista e neuropsicoeducadora”, informa ainda o diário.

Planos de ajuste contra o Estado

​Enquanto isso, Milei tem reafirmado seus planos de “ajuste”. Como a proposta de privatizar as empresas estatais. Enquanto não chega a hora, vai escolhendo a dedo o seu ministério antes da posse, em 10 de dezembro. Ele pretende reduzir o número de ministérios de 18 para oito.

Sua vice, Victoria Villarruel, disse também ontem que os ministros serão confirmados “a partir de 10 de dezembro” por Javier Milei. Porém, garantiu que “certamente” teria conversas com Patricia Bullrich, a candidata derrotada do partido do ex-presidente Mauricio Macri. Na verdade, Bullrich está virtualmente certa como futura ministra da Segurança.

Outro já confirmado é Osvaldo Giordano, o futuro chefe da Anses (o sistema da Previdência Social argentino), que pretende fazer “mudanças no sistema de pensão” do país. Ele agradeceu a nomeação e anunciou que irá realizar “mudanças no sistema para torná-lo mais justo e sustentável”.

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Peronismo e antiperonismo

Em entrevista ao coletivo Tiempo Argentino, o sociólogo Ezequiel Ipar,  diretor do Laboratório de Estudos sobre Democracia e Autoritarismo da Universidade Nacional de San Martín, comentou sobre o sistema político do país: “Temos um sistema em que a parte mais importante da oposição acaba aliada à extrema direita. Isto normalmente não acontece na maioria dos países europeus”, disse.

Essa característica é típica do país: a Argentina vive a eterna polarização entre peronismo e antiperonismo, o que a eleição de 2023 mais uma vez confirmou. “No segundo turno, não se enfrentava apenas Milei. Estavam Mauricio Macri, Patrícia Bullrich. Foi uma aliança poderosa. Foi praticamente toda a oposição institucional. Isso representava poder eleitoral e político”, salientou Ezequiel.

A Câmara dos Deputados argentina tem 257 parlamentares. São necessários 129 para formar maioria. Milei terá de aprender a negociar, se quiser governar. A coalizão de Maurício Macri, Juntos por el Cambio – da oposição institucional de que fala Ezequiel – deve emplacar pelo menos Patrícia Bullrich, a candidata derrotada, no Ministério.

Porém, o jornal Clarín aponta que o agrupamento de Macri está totalmente rachado. “Uma parte no próximo governo, outra definindo o posicionamento e ainda outra esperando a mudança de cenário para tentar se posicionar em um espaço de oposição”, informou a publicação, em matéria logo após a eleição.

“Assim estão os pedaços do que foi Juntos por el Cambio, já quebrado desde o anúncio do pacto de Mauricio Macri com Javier Milei e definitivamente rachado quando o resultado do segundo turno foi consumado”, acrescenta Clarín.

A configuração da Câmara de Deputados argentina assim ficou após as eleições gerais: