Brasil defende doação direta ao governo do Haiti

Mudança proposta pelo Itamaraty atende a um dos pedidos da população haitiana, que acusa haver pouco controle do dinheiro enviado a organizações não governamentais

A Minustah, forças de estabilização comandadas pelo Brasil e que atuam em comunidades como esta, é alvo de críticas da população haitiana (Foto: Marcello Casal Jr. Agência Brasil)

São Paulo – O Brasil defendeu, no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que o envio de ajuda humanitária ao Haiti seja feito diretamente ao governo daquele país. O Ministério das Relações Exteriores entende que o método atual, que prevê que o auxílio financeiro seja repassado a organizações não governamentais, não é o mais eficiente.

“Não é um problema que vá para organizações não governamentais. O problema é que como esse dinheiro não vai para o governo haitiano, termina por não reforçar a estrutura do governo”, defendeu durante uma reunião sobre o Haiti o embaixador Antônio Simões, subsecretário-geral do Itamaraty para América Latina e Caribe. “E mesmo a ação que vai pelas ONGs termina não sendo efetiva, porque o governo não tem estrutura para receber essa ação”, acrescentou.

As doações passaram a ser encaminhadas a um comitê de ONGs encabeçada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, após o terremoto de janeiro de 2010, que vitimou mais de duzentas mil pessoas. De acordo com a rádio ONU, Clinton mostrou-se favorável à posição brasileira durante a reunião de quarta-feira (6).

O Itamaraty atende, com isso, ao anseio de setores da população haitiana que veem nas organizações não governamentais um caminho para o desvio de verbas e para que não seja prestado o devido auxílio aos moradores. Esse foi um dos pontos abordados por Fignolé St Cyr, secretário-geral da Central Autônoma dos Trabalhadores do Haiti (CTAH), em visita ao Brasil, quando lembrou que há mais de um milhão de desabrigados por conta da tragédia do ano passado. 

Na última semana, o sindicalista teve audiência em Brasília com Maria do Rosário, titular da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. “Elas (as oganizações) recebem uma montanha de dinheiro, mas esse dinheiro ou retorna para os países de origem da ONG ou é utilizado pelas ONGs e seus membros. Não é revertido em benefício da população do Haiti”, afirmou durante conversa com jornalistas em São Paulo. 

Além disso, ele defende que as tropas da ONU comandadas pelo Brasil sejam retiradas de imediato da nação caribenha. Para Fignolé, o problema haitiano é de assistência humanitária, sendo necessário o envio de profissionais das áreas de saúde e de infraestrutura, a exemplo do que faz o governo cubano.

A mesma posição era defendida desde 2009 pelo brasileiro Ricardo Seitenfus, representante especial da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti até o começo deste ano. Seitenfus foi destituído do cargo após entrevista a um jornal francês na qual reiterava as críticas à atuação internacional no Haiti. Na ocasião, ele ponderou que queriam fazer da ilha caribenha uma plataforma de exportação para os Estados Unidos. 

“Provavelmente isso não tenha agradado a todo mundo, são 34 países-membros da OEA e é difícil agradar a tantos senhores, mas preferi agradar aos haitianos e à minha consciência”, explicou em entrevista à Rede Brasil Atual.