Brasil na presidência

À frente do Mercosul, Lula defende acordo ‘equilibrado’ com União Europeia

Em um mundo cada vez mais desafiador, Lula afirmou que “nenhum país resolverá seus problemas sozinho”. Mas classificou exigências da União Europeia como “inaceitáveis” e defendeu resposta “rápida” do Mercosul

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
"Nossa opção regional deve ser a cooperação e a solidariedade", disse Lula durante cúpula do Mercosul na Argentina

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu nesta terça-feira (4) a presidência temporária do Mercosul. Durante a cúpula do bloco, em Puerto Iguazú, na Argentina, Lula se comprometeu a concluir o acordo do Mercosul com a União Europeia. No entanto, destacou que o acordo deve ser “equilibrado”, garantindo espaço para políticas de reindustrialização dos países sul-americanos.

Nesse sentido, o presidente brasileiro voltou a classificar como “inaceitáveis” as exigências adicionais dos europeus para fechar o acordo. Disse que parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções. E defendeu que o Mercosul apresente uma resposta “rápida e contundente”.

Os europeus querem incluir sanções aos países que não cumprirem as metas ambientais definidas no Acordo de Paris. Por outro lado, Lula quer manter fora do acordo as chamadas compras governamentais.

“É inadmissível abrir mão do poder de compra do Estado, um dos poucos instrumentos de política industrial que nos resta. Não temos interesse em acordos que nos condenem ao eterno papel de exportadores de matéria primas, minérios e petróleo”, afirmou.

Fortalecimento do Mercosul e moeda comum

Lula abriu o discurso alertando que o mundo está “cada vez mais complexo e desafiador”. Desse modo, afirmou que “nenhum país resolverá seus problemas sozinho”, nem pode permanecer alheio ao que chamou de “grandes dilemas da humanidade”.

“Não temos alternativa que não seja a união. Frente à crise climática, é preciso atuar coordenadamente na proteção de nossos biomas e na transição ecológica justa. Diante das guerras que trazem destruição, sofrimento e empobrecimento, cumpre falar de paz. Em um mundo cada vez mais pautado pela competição geopolítica, nossa opção regional deve ser a cooperação e a solidariedade”.

Assim, Lula prometeu aperfeiçoar a Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul e evitar que barreiras não tarifárias comprometam a fluidez do comércio. Citou também uma “agenda inacabada” nos setores automotivo e açucareiro, ainda excluídos do livre comércio entre os países do bloco. Além disso, afirmou que pretende concluir a oitava rodada de liberalização do comércio de serviços.

Disse que os países-membros devem “revisar e avançar nos acordos em negociação com o Canadá, a Coreia do Sul e Singapura”. Também buscar negociação com China, Indonésia, Vietnã e países da América Central e Caribe.

Lula afirmou ainda que a adoção de uma “moeda comum” para realizar operações de compensação entre os países do bloco contribuirá para reduzir custos e facilitar ainda mais a convergência. “Falo de uma moeda de referência específica para o comércio regional, que não eliminará as respectivas moedas nacionais”, explicou.

Além do comércio

Para o presidente brasileiro, assumir a presidência do Mercosul é uma “etapa essencial do reencontro do Brasil com a região”. Citando o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, Lula afirmou que “nossa integração vai bem além do que um projeto estritamente comercial”.

“O Mercosul não pode estar limitado à barganha do ‘quanto eu te vendo e quanto você vende pra mim’. É preciso recuperar uma agenda cidadã e inclusiva, de face humana, que gere benefícios tangíveis para amplos setores de nossas sociedades”, disse.


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