O Velho Novo Mundo

A promotoria federal dos Estados Unidos vai investigar denúncias sobre os métodos de tortura usados pela CIA depois do 11 de setembro. Nas descrições das torturas, não há novidades: afogamentos, […]

A promotoria federal dos Estados Unidos vai investigar denúncias sobre os métodos de tortura usados pela CIA depois do 11 de setembro.

Nas descrições das torturas, não há novidades: afogamentos, sufocamentos, ameaças de estupro e outras torturas contra familiares dos prisioneiros em Guantánamo, simulação de fuzilamentos sumários, entre outras técnicas abomináveis.

A novidade está na admissão plana de que essas práticas passaram a ser “legais” durante o governo Bush – coisa que nem na ditadura brasileira aconteceu. A ditadura brasileira praticou tais torturas, mas não as reconhecia, e seus abomináveis defensores não reconhecem essa prática em público até hoje. Mas na administração de Bush elas foram legalizadas, o que leva os governantes de hoje a dizer que aqueles que agiram de “boa fé”, ou sob o comando de leis, não serão processados.

Entende-se: o governo de Barack Obama está tentando criar o clima de um novo acordo político em que tais práticas sejam abolidas em troca de passar o pano de pó sobre o passado convulso. Conceitualmente, não é muito diferente do que fez o governo brasileiro ao proclamar uma anista a meias, que anistiava o lado ditatorial de tudo o que tivesse praticado, em troca de uma readmissão mitigada dos banidos e torturados ( quanto aos mortos não há remissão possível) pelos seus agentes de plantão.

Hoje, fica a pergunta sobre se tal medida terá a eficácia esperada, que é a de absolver o futuro de tais práticas. Não há solução legal para o problema sem uma solução política, e o campo político norte-americano é frágil nesse sentido. Um fracasso do governo democrata no campo econômico, por exemplo,  trará de volta os falcões de McCain, e sabemos que isso significará a volta das práticas abomináveis e o fim das promessas de que campos de concentração como o de Guantánamo serão coisas do passado.

Embora as expectativas sobre as consequências legais das investigações não sejam animadoras, dada a promessa de que não haverá processos onde houver a sombra de uma cobertura das torturas por ordens superiores, há sempre a esperança de que a exposição dos fatos e atos cometidos possa despertar uma nova consciência política de que não só tais práticas devam ser banidas, mas também os governos que as sustentem.

Esse é o “Velho Mundo” que queremos superar. Um Velho Mundo que tem raízes no Novo também.