Rejane assume e não teme o desafio da Prefeitura

“Devo tentar fazer o melhor para essa população que tanto precisa”

(Foto: Enio Lourenço)

Um mês à frente da Prefeitura, Rejane Maria Silva (PP) se depara com “problemas maiores do que imaginava”. Em entrevista exclusiva ao jornal Brasil Atual, a nova prefeita conta quais foram seus primeiros atos e o que está fazendo para resolver as dificuldades emergenciais, com destaque para a limpeza pública. A nova administradora também busca parcerias para continuar as obras e gerar empregos na cidade.

Qual foi o seu primeiro ato oficial na Prefeitura?

Foi convocar os funcionários públicos municipais e fazer a minha apresentação e da equipe de trabalho nomeada. Nesse encontro, eu pedi a ajuda de todos e apresentei as propostas de trabalho área por área.

A senhora sabia que o salários dos servidores estava atrasado?

Isso não entrou em questão. Realmente houve atraso no pagamento dos salários dos servidores, mas trabalhamos muito para juntar os recursos e pagá-los. Era a nossa prioridade. De fato, eles deveriam receber o salário até o quinto dia útil de janeiro, mas o pagamento de dezembro atrasou e só conseguimos fazê-lo no dia 11. Nós assumimos a Prefeitura sem nenhum dinheiro em caixa. O dinheiro não existe no nosso primeiro momento na cidade.

Qual é a dívida da cidade?

A dívida de 2012 está sendo levantada. Os números não foram fechados na contabilidade. E eu só vou ter uma posição real quando eles acabarem esse trabalho Aí vou saber qual é o montante a ser pago. A gente sabe que existem dívidas, mas não sabe o tamanho delas. Ainda não posso falar de valores a serem pagos pelo município.

E os compromissos assumidos na gestão anterior?

Fizemos reuniões com todos os empreiteiros de obras e todas as empresas ganhadoras das licitações públicas. Chamamos uma a uma e negociamos para dar continuidade às obras paradas. Aquelas que não retornarem aos compromissos, nós vamos notificar, rescindir o contrato, aplicar multa, tudo conforme a lei indica fazer.

(Fotos: Enio Lourenço)O aterro sanitário está interditado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Na campanha, a senhora evidenciou o problema do lixo – coleta, varredura, limpeza, manutenção. Que providências serão tomadas?

Eu já tinha ciência de que o aterro sanitário estava com sérios problemas desde outubro. Assim que ganhei a eleição, fui a Registro ver o processo junto à Cetesb, que corre na Secretaria de Meio Ambiente do Estado. São vários os problemas no local. O embargo do aterro sanitário ocorreu em novembro, pois não existia a conservação e a manutenção do espaço, exigidas por lei. Existe também o problema de desmatamento, que foi feito de forma ilegal. Por isso, estamos pagando uma multa de 
R$ 1.000,00 por dia. Então, sob a orientação da Cetesb, o procedimento a ser tomado será o transbordo. O lixo coletado não vai mais ficar na cidade, pelo menos nessa situação emergencial de 90 dias, até fazermos um estudo para ver se o aterro tem recuperação.

Em quanto o transbordo vai onerar os cofres da Prefeitura?

Eu fiz todos os cálculos possíveis e imagináveis, além de vários orçamentos para ver se tínhamos condições de arcar com as despesas do transbordo do lixo. Pra começar, a multa de R$ 1.000,00 por dia resulta em R$ 30.000,00 por mês, sem considerar nenhum serviço realizado. Itariri está sem caminhão adequado para fazer a coleta, pois ele está quebrado desde o ano passado. Já o mandei para o conserto, mas no momento estamos sem o veículo. Existem ainda as despesas com os operadores, com o pessoal que faz a coleta, com os motoristas, gastos com combustível, etc. Acrescentando a tudo isso as irregularidades que havia no trabalho – o motorista trabalhava sem uniforme e sem o equipamento necessário –, vimos que são “n” problemas. Então, a empresa terceirizada Transpolix Ambiental vai coletar o lixo de Itariri, com os seus funcionários e o seu caminhão, e levá-lo para Mauá. A coleta de lixo vai ser de inteira responsabilidade dessa empresa, mas terá o nosso acompanhamento. As exigências são sempre do governo municipal e nós é que vamos determinar o que queremos.

E a varredura e limpeza das ruas da cidade?

A Transpolix vai ser responsável apenas pela coleta de lixo. Para a limpeza das ruas da cidade e dos bairros, eu fiz outro orçamento para terceirizar a mão de obra e o material, porque o Departamento de Obras não dá conta do serviço. A empresa que vai atuar nessa área é a Nova Limpeza e Serviços Ltda. Assumimos a administração com a cidade muito suja. Enquanto não começar essa limpeza, essa faxina que eu tanto falei que íamos fazer, e a coleta de lixo decente, fica difícil sair às ruas e cumprimentar os munícipes. É claro que a gente não consegue chegar no dia 2 de janeiro e já ter toda a equipe trabalhando. Tem toda a parte burocrática, que demora muito para se estabelecer e às vezes o munícipe não entende. Mas estamos fazendo tudo dentro do permitido pela lei, para não ter problemas no futuro. A limpeza da cidade e a coleta de lixo estão dentro das prioridades a serem resolvidas já nas primeiras semanas.

O que vai acontecer com os funcionários públicos que trabalham na limpeza?

Eles serão reaproveitados em outros locais, que também têm necessidade de expediente como o cemitério, a rodoviária, os campos de futebol, as escolas municipais.

A senhora estabeleceu um prazo para a resolução do problema do lixo?

Vamos demorar pelo menos uns 15 dias para estabilizar os problemas do lixo, porque houve um acúmulo muito grande de resíduos não coletados na cidade. Alguns lugares ficaram muitos dias sem coleta. O caminhão estava quebrado e a coleta sendo feita por veículos não adequados, o que também fez piorar a situação. As empresas contratadas deverão levar também pelo menos uns 15 dias para se legalizar juridicamente. E, depois, também tem a questão da adaptação, pois os munícipes deverão ser informados dos dias de coleta de lixo, dos horários. Vai ser necessário um tempo, mas eu acredito que até o carnaval tudo deverá ser resolvido.

O que será feito na área da saúde?

Na última gestão existia uma empresa à frente da saúde municipal. A saúde é outro segmento que estudamos de forma minuciosa para não dar um “chute errado”. Ainda não definimos o que vamos fazer. Não sabemos se vamos abrir um concurso ou contratar uma empresa por meio de licitação para realizar os serviços de saúde. Estamos fazendo um estudo de impacto para ver qual opção é mais adequada à folha de pagamentos da Prefeitura. Não podemos pegar qualquer empresa nem ter um custo alto porque a nossa arrecadação é pequena. O dinheiro é pouco, não dá para sonhar muito.

E as medidas para a geração de emprego e renda?

Eu recebo muitos pedidos da população e é constrangedor porque a gente não tem como dar emprego pra todo mundo. Estou tentando a ajuda do governo estadual para trazer uma frente pública de trabalho, que talvez chegue em março, para amparar as pessoas que necessitam de trabalho. As frentes de trabalho têm duração de nove meses. As pessoas envolvidas recebem ajuda de custo e trabalham de segunda a quinta-feira. Nas sextas-feiras elas têm curso de capacitação profissional, pois a intenção do governo é preparar a pessoa, para que depois ela não precise mais da ajuda de custo e possa ficar independente. O governo do Estado oferece vários empregos na frente de trabalho. Em Itariri costuma-se empregar mão de obra na construção civil para as creches e escolas estaduais. Antigamente, a remuneração era de R$ 300,00. Hoje não sei o valor exato. Também não definimos a quantidade de vagas que serão criadas. Assinei o pedido por escrito e ainda não tive o retorno do governo estadual. Deveremos nos reunir com o governo do Estado em São Paulo para ter algo concreto até março.

O que mudou desde que a senhora assumiu a cadeira de prefeita e como encara esse desafio?

Sentar na cadeira da Prefeitura não significa nada para mim. O que vai me deixar satisfeita é resolver os problemas da cidade junto com a minha equipe, que são bem maiores do que eu imaginava. São muitos problemas para serem resolvidos já em caráter emergencial. Mas eu não fico assustada. Às vezes, fico um pouco preocupada, porque eu não posso perder convênios, não posso perder nada. A preocupação deve-se ao fato de que tudo depende do dinheiro e hoje nós não temos dinheiro em Itariri. Eu tenho conversado com os funcionários, com a equipe, para contermos despesas no que for possível, até de água, luz e telefone, porque R$ 1,00 vai fazer diferença. Nossa arrecadação é bem pequena. É a base do IPTU e de outros pequenos encargos que chegam a R$ 28 milhões ao ano, para uma população de 15.500 habitantes, com área rural muito extensa, a que devemos dar assistência. O índice de desemprego é muito grande, e o de problemas sociais também é muito elevado. Mas esse é o desafio, e foi isso o que me trouxe até aqui: tentar fazer o melhor para essa população que tanto precisa. Não adianta eu reclamar da arrecadação, se é isso que eu tenho. Devo trabalhar em cima e fazer a diferença.