eleições 2018

Ouvir as pessoas é o caminho para virar votos para Haddad, dizem militantes

Muitos deles têm ido às ruas para 'sentar e conversar' com a população que ainda não definiu seu voto. E acreditam em virada histórica no domingo

Roberto Parizotti/CUT

Manifestantes caminharam pelo centro de São Paulo e encerraram a mobilização na escadaria da Praça da Sé

São Paulo – A menos de 40 horas da mais importante eleição presidencial desde a redemocratização, defensores do candidato do PT, Fernando Haddad, estão animados com o resultado de “sentar e conversar” com pessoas que ainda estão em dúvida sobre como votar no próximo domingo (28). “A gente sempre leva uma plaquinha e põe uma pergunta, sobre saúde ou educação, por exemplo, para chamar atenção. E temos usado bastante de apresentar uma proposta e perguntar o que ela acha, para só depois revelar qual o candidato que apresentou aquilo. Assim você deixa a própria pessoa chegar a uma conclusão. Não adianta querer impor um voto”, explica Tiago Maeda.

Nesta sexta-feira (26), durante caminhada da campanha de Haddad no centro da capital paulista, vários desses pequenos grupos, formados, muitas vezes, de maneira informal, procuraram pessoas dispostas a conversar sobre a eleição. Muitos dos que param pedem adesivos ou folhetos, mas alguns querem ouvir o que os militantes do diálogo têm a dizer. A ideia deles é buscar os votos antipetistas, de pessoas que, no geral, nem querem dialogar. Para isso, buscam caminhos alternativos, usando materiais que não fazem referência direta à campanha e materiais comparativos entre os candidatos.

“O antipetismo de muitas pessoas parece meio irracional, mas tem algum sentimento de algo que a pessoa viveu, viu, que é verdadeiro. Tem que entender a dor, deixar ela soltar a raiva. E depois que ela disser, que você ouvir, entender a dor, o que ela está buscando. E daí mostramos que um candidato tem propostas para tudo aquilo que preocupa as pessoas. E o outro não”, diz Maeda.

Essa escuta é o caminho para as mais diversas abordagens que os militantes podem fazer, já que cada pessoa se preocupa com um tema. O tema mais recorrente, porém, ainda são as fake news. “Muita gente fala do ‘kit gay’, da camisa da Manuela ‘Jesus é Travesti’. Eu tenho tentado chegar bem neutro, sem adesivos, conversar com as pessoas de forma franca. Entender as dúvidas, o que ela não gosta no candidato, nas propostas, para iniciar o diálogo”, explica o militante Rafael Alves da Silva.

RBA
Praça da Sé em ato pela virada

Para ele, a situação é muito diferente do primeiro turno e o sentimento é de “virada“. “Esse sentimento está forte, sim. Participei das mobilizações no primeiro turno e agora tem sido muito diferente. Eu tenho circulado São Paulo. Sobretudo nas periferias, as pessoas ainda estão bastante indecisas, querem conversar. Claro que não se muda o voto imediatamente. A pessoa vai refletir, vai conversar com outras pessoas, um familiar, um amigo. Mas é muito claro o sentimento de que a eleição não está decidida.”

Argumentos

Luciana Souza também percebeu que o ponto mais crítico são as notícias falsas. “As pessoas acreditam muito nas fake news. Que o PT quebrou o Brasil, que vamos virar uma Venezuela. Quando a gente explica que não tem como isso acontecer, que existem muitas diferenças entre Brasil e Venezuela, as pessoas começam a compreender um pouco. A conversa expondo os problemas de propostas e o preconceito dele tem sido o caminho. Eu acredito na virada”, afirma.

Mesmo a tensão dos últimos dias está sendo superada nas conversas, segundo Luciana. “Parece que a eleição saiu um pouco do virtual, para conversas em faculdades, nas ruas, nos botecos. Uns dias atrás, eu fui comprar um suco em um bar e estavam falando de política. Confesso que fiquei um pouco tensa. Mas comecei a conversar, falar sobre coisas que o Bolsonaro defendia, quem foi o Ustra. E as pessoas começam a se abrir um pouco, compreender.”

Liege Rocha ressaltou que os questionamentos sobre algumas falas do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, também são importantes. “Alguns param para conversar e quando a gente começa a argumentar, contestar algumas falas do adversário, principalmente sobre as mulheres, a gente percebe que eles param para pensar um pouco. Dizer que mulher tem que ganhar menos, criança tem de ter educação a distância. E a mãe, vai fazer o quê? Vai largar o emprego? A gente sente que existe um movimento, pelo Brasil afora, de que é importante dar continuidade às conquistas que tivemos.”