Todos contra Dilma

Caiado diz que estará ‘maravilhosamente bem’ em aliança com Marina Silva

Para parlamentar do DEM e um dos principais líderes ruralistas no Congresso, divergências com candidata derrotada do PSB à presidência foram superadas e, hoje, 'processo é de total convergência'

Gustavo Lima/Câmara dos Deputados 20/08/2013/Fotos Públicas

Há um ano, Marina afirmou que não haveria lugar para Caiado numa aliança entre PSB de Campos e Rede

São Paulo – Se a candidata derrotada do PSB, Marina Silva, oficializar o apoio ao tucano Aécio Neves contra a reeleição de Dilma Rousseff (PT), o “todos contra Dilma” unirá no mesmo palanque o deputado ruralista e senador eleito Ronaldo Caiado (DEM-GO) à ex-ministra do meio-ambiente e ex-militante de direitos de trabalhadores rurais e indígenas.

Caiado garantiu à RBA que estará “maravilhosamente bem ao lado” de Marina. “Não tem nenhuma discussão mais entre nós. Agora já está tudo entendido e o processo é de total convergência”, afirmou o deputado, ao ser indagado como conviveria na mesma aliança com ela.

Há exatamente um ano, em 9 de outubro de 2013, em entrevista ao jornal O Globo, Marina Silva afirmou que não haveria lugar para Caiado numa aliança entre o PSB de Eduardo Campos e sua Rede Sustentabilidade. “Se prosperar a contribuição da Rede (com o PSB), é óbvio que o Caiado não se sentirá confortável nesse quadro, e imagino que ele já esteja se preparando para ir para a candidatura do Aécio. Porque, obviamente, na cultura da Rede não há lugar para um inimigo histórico dos trabalhadores rurais, das comunidades indígenas e para quem articulou a derrota do Código Florestal”, declarou Marina à época.

Então pré-candidato oficial do PSB à presidência, Campos foi obrigado a recuar de entendimentos com Caiado para não perder o apoio de Marina. “Não há nenhuma aliança com Ronaldo Caiado nesse conjunto do PSB e da Rede”, afirmou Campos na ocasião.

Marina Silva deve anunciar sua decisão oficial sobre o segundo turno amanhã. Na tarde de hoje ela publicou uma nota, em sua página no Facebook, em que pede “a cada um” dos partidos de sua coligação que “reafirme a necessidade de mudanças” e “repudie o continuísmo que fragiliza a democracia”.

Ontem (8), o PSB anunciou oficialmente apoiar a candidatura tucana, assim como o candidato derrotado à presidência pelo PV, Eduardo Jorge.

Reformas e preconceito

Na terça-feira, Caiado se reuniu com dirigentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, onde conversou sobre reformas, com destaque para a tributária e a política.

Indagado sobre sua opinião a respeito do sistema tributário brasileiro, considerado regressivo (ao não tributar mais dos mais ricos) e um entrave à distribuição de renda no Brasil, Caiado disse discordar, por exemplo, da regulamentação do imposto sobre grandes fortunas, previsto na Constituição de 1988 e nunca regulamentado. “Você não deve condenar o cidadão que ganha. Esse é um pensamento preconceituoso. Temos que acabar com essa tese. Não é isso. Você deve tirar cada vez mais o cidadão da dependência do Estado”, esclareceu, em consonância com o projeto neoliberal tucano de diminuir o Estado.

“Nós temos uma linha de pensamento. Não é essa linha (do governo Dilma Rousseff), em que o Brasil progride, jogando rico contra pobre, branco contra negro, branco contra índio, índio contra negro. Isso não é visão de estadista, isso é visão de populista. Temos outra visão e outro conceito”, disse o parlamentar.

Na verdade, a divisão entre ricos e pobres, “desinformados” e esclarecidos, nordestinos e brancos do sul e sudeste tem sido disseminada por eleitores de Aécio Neves, assim como ocorreu na eleição de 2010 por parte dos eleitores de José Serra. Desta vez, o ponto de explosão foram entrevistas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que afirmou que “o PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados”.

Na noite de domingo (5), após o primeiro turno, que revelou mais uma vez votação consagradora de Dilma no Nordeste, manifestações racistas proliferaram nas redes sociais. Num post em sua página no Facebook, a auditora fiscal do Trabalho Ingrid Berger escreveu: “Desculpem os nordestinos, mas essa região merecia uma bomba como em Nagasaki, para nunca mais nascer uma flor nos próximos 70 anos”. Ela foi denunciada na Ouvidoria do Ministério Público do Trabalho (MTE).

Também no Facebook, o ex-presidente Lula lamentou as manifestações. “É lamentável o preconceito que vem à tona depois de um processo democrático tão importante, como as eleições do último domingo. É um absurdo que o nordeste e os nordestinos sejam caracterizados como ignorantes ou desinformados por seus votos. Primeiro porque isso é fruto de preconceito lastimável, segundo porque mostra um desconhecimento profundo da atual situação do nordeste brasileiro”, escreveu.

Hoje, em campanha em Salvador (BA), Dilma ressaltou a diversidade cultural e étnica como uma das principais virtudes brasileiras. “Uma das maiores forças desse país é sua diversidade regional e cultural. Somos índios, negros, brancos, somos uma sociedade multicultural, uma sociedade diferente de todas as outras. Nós somos um povo vocacionado a ter menos preconceitos”, declarou a presidenta.

Sobre a reforma política, Ronaldo Caiado diz que “o único candidato que terá condições de realmente fazer uma reforma política é o Aécio”. Mas, perguntado sobre quais aspectos considera mais importantes numa reforma, desconversou. “Não, isso é outro assunto. Reforma política é uma coisa que todo mundo está de acordo. Na hora em que você redige uma lauda já tem mais de um milhão de problemas. Isso aí não dá para antecipar.”