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Aposta em Aécio e medo de Dilma mantêm mercado financeiro ‘volátil’

Avaliação de que candidato do PSDB pode vencer anima 'investidores', que ganham com 'volatilidade' da bolsa e esperam novas pesquisas e notícias para alimentar negócios

Brazil Photo Press/Folhapress

Em setembro, o Ibovespa sofreu desvalorização de 11,7%, configurando a maior queda desde maio de 2012 (11,86%)

São Paulo – O mercado financeiro vai seguir oscilando com altos e baixos nas próximas semanas. O humor dos investidores e especuladores vai acompanhar o ritmo das pesquisas e os principais lances no tabuleiro da sucessão presidencial. O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), termômetro principal das apostas do mercado, fechou em alta, na terça-feira (8), pelo quarto dia consecutivo. Já nesta quarta-feira (9), a série foi quebrada com fechamento em baixa de 0,66%. O pregão fechou antes do anúncio do PSB de apoiar o candidato tucano ao Palácio do Planalto, no final da tarde.

Durante todo o dia, o pregão foi influenciado por rumores. Uma revista semanal divulgaria denúncias que afetariam Aécio e pesquisas indicariam que Dilma estaria na frente. Outras especulações davam conta de que trackings de PT e PSDB mostrariam pequena vantagem do tucano. O site da revista Época divulgou pesquisa de um instituto desconhecido, Paraná Pesquisas, segundo o qual Aécio Neves teria vantagem de 54% a 46%. Do mundo real, o mercado aguardou ansioso a divulgação de ata do Federal Reserve (o banco central norte-americano) que seria indicativa da taxa de juros para 2015. O Fed não indicou, pelo menos no momento, que pretenda subir os juros, o que tranquilizou os investidores quanto a esse aspecto.

A semana começou em meio à euforia do mercado, com a ascensão inesperada do tucano Aécio Neves e sua votação, principalmente em São Paulo.

Segundo o consultor Raphael Juan, gestor da BBT Asset, é equivocado atribuir a chamada “volatilidade” do mercado em agosto e setembro apenas ao fator eleitoral. Em setembro, o Ibovespa sofreu desvalorização de 11,7%, configurando a maior queda desde maio de 2012 (11,86%). Em agosto, pelo contrário, o ganho havia sido de 9,78%, no caso já sob influência da entrada de Marina na corrida eleitoral.

“Apurar essa volatilidade de agosto e setembro puramente pela eleição não é correto. Porque houve itens tão ou mais importantes, como a política monetária americana”, diz Juan. Segundo ele, existem alguns fatores relevantes no cenário para explicar o sobe e desce dos dois meses anteriores. A política norte-americana, que ainda não definiu se aumenta ou não a taxa de juros para 2015, a crise europeia, a preocupação com conflitos geopolíticos (Síria, Rússia, Ucrânia, Iraque) e com incertezas sobre economia chinesa são outros componentes, na opinião do consultor.

Uma semana antes do primeiro turno, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez análise semelhante ao dizer que as eleições eram “uma pequena parte da flutuação” da queda na bolsa, àquela altura atribuída ao favoritismo de Dilma e à possibilidade de sua vitória no primeiro turno.

Mas, em outubro, as oscilações e “nervosismo” são mesmo consequência da eleição. “O mercado já havia previsto uma vitória da Dilma, e veio uma surpresa extremamente positiva para ele”, explica Juan. “O mercado está totalmente torcedor, em linha, com Aécio, porque a política econômica do Aécio é muito mais assertiva do que a de Dilma, que mostrou que nos últimos anos o país está adotando políticas econômicas que estão se justificando em uma crise.”

Os investidores acusam o governo de ser intervencionista e citam os casos das empresas elétricas e Petrobras como simbólicos. As ações da Petrobras, especialmente, refletem os movimentos das eleições, subindo com a ascensão de Aécio. “O mercado não quer um governo fazendo microeconomia, segurando preço da gasolina, quer um governo que crie ambiente macroeconômico estável, para que possa se desenvolver. O mercado não gosta do governo não porque não goste do PT, mas porque as ações do governo são errôneas”, analisa Raphael Juan.

Lucro fácil

O professor Giorgio Romano Schutte, coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, vê motivo mais imediato para os movimentos e oscilações da bolsa: o lucro fácil. “A Bolsa vira uma casa de apostas. São lucros especulativos. O investidor compra na baixa, começa a puxar o preço para cima, cria um clima de alta, muitos vão atrás dele, e aí ele vende na alta. Chega um momento em que esse ‘primeiro especulador’ sai fora e começa a vender, e faz lucro. Quem comprou primeiro vai vender e lucrar. É lamentável, mas a bolsa virou um bingo. Faltam três semanas para a eleição, e você vai ver muitas altas e baixas até lá”, diz Schutte.

Para ele, é importante diferenciar os projetos de Dilma e Aécio em termos de futuro do país. Segundo o professor, o projeto da presidenta “aponta o aprofundamento da luta contra as desigualdades”. A crise anunciada pelo “mercado” e seu candidato como entrave e prenúncio de um 2015 catastrófico, avalia, decorre do fato de que os especuladores não confiam mais no governo, por vários fatores.

“Toda a fase boa da economia internacional o Lula aproveitou ao máximo. Quando Dilma entrou veio o problema da forte valorização do dólar por causa do movimento de capitais internacionais. Para o Lula era uma marolinha, mas para a Dilma veio um tsunami”, aponta Schutte.

A expectativa da política americana e do Fed em relação aos juros em 2015 é um dos fatores para a tendência da alta do dólar em todo o mundo, não só no Brasil. Aqui, as eleições e a especulação agravam esse quadro. Em ata divulgada na tarde desta quarta-feira, o Fed colaborou para os mercados melhorarem o humor ao afastar, pelo menos temporariamente, a elevação dos juros no ano que vem, mas diz que a “economia do Brasil entrou em recessão”.

Para o professor da UFABC, há um componente menos objetivo para o mercado perder a confiança no governo do que as supostas barbeiragens da política econômica de Dilma Rousseff e do ministro Mantega. “O mercado tem ódio da Dilma porque ela tentou mexer em variáveis muito importantes, que eram mesmo para mexer, como juros.”

Uma das maiores fontes de renda dos especuladores do mercado financeiro são os juros altos. “É claro que o mercado sabe que, por trás dessa especulação, tem a ideia de que, se porventura Aécio ganhar, vai ser melhor para os investidores. Isso é fato.”

Ele vê ainda dificuldades significativas que Dilma terá de superar, além da crise internacional. “O país passa por uma transição.” Mas aponta para investimentos de grande importância em infraestrutura, feitos e em andamento, em uma região historicamente desprezada pelos governos brasileiros. “Os projetos existem, é muito importante dizer que o projeto da Dilma para o Nordeste não é o Bolsa Família. Existem enormes investimentos em infraestrutura na região. Pernambuco não tinha nada, agora tem dois grandes estaleiros (Atlântico Sul e Promar), que criaram milhares de empregos diretos e muitos mais indiretos.”

Schutte cita também a refinaria de Abreu e Lima, perto do Recife, projeto feito em parceria pela brasileira Petrobras e pela venezuelana PDVSA. “A crítica é de que está atrasado. Está, mas vai sair. A última refinaria no Nordeste é de 1980. Os investimentos em infraestrutura no Nordeste são enormes, especialmente em Pernambuco.”

Para o professor, a tendência é de que, com a concretização desses projetos, será iniciado um novo processo de crescimento com distribuição de renda, em caso de vitória de Dilma Rousseff. O resultado da eleição, porém, é imprevisível.

O mercado, acostumado a apostar, chegou a prever a possibilidade de vitória de Aécio ou Marina em 60% e até 70%. Mas agora mantém a cautela. “Está difícil prever qualquer coisa. São muitas variáveis sem definição. Achamos que Aécio tem 50% de chance de ganhar, e Dilma 50%. Ninguém previu Aécio no segundo turno. Ficou claro que as pesquisas eleitorais erraram drasticamente”, diz Raphael Juan, da BBT Asset.