Novo governador

Pernambuco: Câmara, afilhado de Campos, confirma virada e vence eleição

Mudança do quadro eleitoral ocorreu após morte do ex-governador. Até então, Armando Monteiro liderava pesquisas com folga

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São Paulo – O candidato do PSB ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, confirmou a virada das últimas semanas e venceu as eleições. Afilhado político de Eduardo Campos e ex-secretário estadual de Administração, do Turismo e da Fazenda, ele teve 68,17% dos votos válidos, com 98,88% das urnas apuradas, ante 30,98% de Armando Monteiro (PTB), que vinha liderando as pesquisas até pouco tempo atrás. O ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi ultrapassado após a morte de Campos, ocorrida em 13 de agosto.

Segundo os dados ainda parciais, Câmara tem 2,97 milhões de votos votos e Monteiro, 1,35 milhão. Em seguida, aparecem Zé Miguel (Psol), com 0,6%, Jair Pedro (PSTU), 0,1%, Miguel Anacleto (PCB), 0,07% e Pantaleão (PCO), com 0,04%.

Paulo Henrique Saraiva Câmara nasceu em Recife em agosto de 1972. Formou-se em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Pernambuco, tendo ainda obtido título de pós-graduação em contabilidade e controladoria governamental e mestre em gestão pública, todos pela mesma instituição. É casado com Ana Luiza Câmara, prima de primeiro grau de Eduardo Campos.

A onda que virou as eleições pernambucanas e engoliu políticos bons de voto começou após a morte do presidenciável Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco e queridíssimo no estado. A presença do político morto nas campanhas eleitorais socialistas foi maciça, transformando a comoção do pernambucano em voto nas urnas.

Para o cientista político Adriano Oliveira, professor e coordenador do Núcleo de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), a morte trágica de Eduardo Campos possibilitou forte comoção que, em seguida, transformou-se em comoção eleitoral. “Ou seja, o candidato de Eduardo conquistou eleitores rapidamente, já que a morte trágica do governador permitiu que Paulo se tornasse conhecido”, avalia.

 

O especialista pondera, no entanto, que a comoção eleitoral não substituiu o “eduardismo”, o qual já existia. “A comoção eleitoral acelerou o processo que tornou Paulo Câmara conhecido. Mas ele teria um crescimento eleitoral graças ao eduardismo. Paulo Câmara defendeu o legado de Eduardo Campos e a continuidade é a essência da eleição deste ano em Pernambuco”, explica.

 

O professor diz que em todas as pesquisas que trabalhou, pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau, verificou, ao longo do ano, o desejo de continuidade do eleitor. “Constatei, no decorrer da trajetória eleitoral, que o eleitor desejava continuidade em virtude do eduardismo. Portanto, se o eleitor desejava continuidade, era óbvio que Paulo Câmara conquistaria eleitores à medida que fosse reconhecido pelas pessoas como o candidato que tinha o apoio de Eduardo Campos”, analisa.

Para ele, houve, também, sérios erros dos adversários. “A aliança entre PTB e PT foi um erro, pois enfraqueceu a possibilidade da realização do segundo turno. O PT comete equívocos estratégicos desde 2012, quando optou por retirar João da Costa da disputa para a reeleição de prefeito do Recife. Com isto, permitiu a consolidação do eduardismo na capital pernambucana. E o PT errou agora, ao não escolher João Paulo para ser candidato a governador. Portanto, PTB e PT contribuíram decisivamente para o fortalecimento de Paulo Câmara”, sentencia.

O desconhecido Paulo Câmara

Até o início da campanha eleitoral, em julho, Paulo Henrique Saraiva Câmara era um ilustre desconhecido dos pernambucanos. Formado em Ciências Econômicas, fez carreira no setor público e, em 2007, foi convidado pelo então governador Eduardo Campos para a Secretaria Estadual de Administração. Passou por outras pastas até chegar à Secretaria da Fazenda de Pernambuco, cargo que deixou para disputar o Governo do Estado, em abril deste ano.

A escolha de Paulo Câmara para disputar o Governo do Estado foi bancada pelo próprio Eduardo Campos, que encontrou resistência dentro do partido e entre os aliados. Segundo o noticiário local da época, em janeiro deste ano, Paulo nem teria participado das negociações em torno do seu nome, sendo simplesmente comunicado por Campos de que seria o candidato.

Nos meses seguintes, Paulo, junto com Eduardo Campos, iniciaram um trabalho para a vencer a barreira do desconhecimento do candidato e o fato de não ter sido uma unanimidade. Campos acreditava que iria reeditar o sucesso que teve nas eleições de 2012, quando elegeu prefeito do Recife outro desconhecido, o então secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Geraldo Julio. Na ocasião, o socialista foi eleito no primeiro turno com pouco mais de 1,5% dos votos.

A virada

Nas primeiras pesquisas divulgadas no início da campanha eleitoral, em julho, Armando Monteiro caminhava para vencer as eleições no primeiro turno. Ele tinha cerca de 45% das intenções de voto contra apenas 10% de Paulo Câmara. No dia do acidente, 13 de agosto, o candidato de Campos estava 34 pontos atrás do adversário.

O PSB soube explorar a comoção causada pela morte de Eduardo Campos em Pernambuco. Nas campanhas, o líder morto aparecia tanto quanto o candidato oficial, dos jingles aos panfletos, de bonecos gigantes aos discursos.

Armando Monteiro chegou a propor para Paulo Câmara um “pacto de campanha limpa”, para retirar das ruas as propagandas feitas com cavaletes e bandeiras presas a bases de concreto. O socialista recusou a proposta, mas Monteiro decidiu retirar grande parte da sua propaganda. Com isso, a campanha de Paulo Câmara tinha visivelmente mais volume nas ruas do Recife do que a de Monteiro.

A cada pesquisa, Paulo Câmara crescia e Monteiro caia. A virada veio em 10 de setembro e a partir daí o socialista só ampliou a vantagem. O concorrente pela chapa ao Senado, Fernando Bezerra, levou mais tempo, mas reverteu a vantagem de João Paulo nas vésperas das eleições.

Além da propaganda, a coligação contou com a família de Campos como cabo eleitoral. A viúva Renata apareceu no horário eleitoral gratuito e participou de comícios em apoio aos candidatos do PSB. Os filhos mais velhos, João, de 20 anos, e Pedro, de 18, revezaram-se nos palanques e apareciam nas campanhas com status de estrelas.

Assim, o senador, ex-deputado e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, na política desde 1990, perdeu as eleições para um novato, cujo principal cabo eleitoral foi um político morto.

Eleito, Paulo Câmara terá pela frente uma série de promessas de campanha para concretizar. Entre elas, dobrar o salário dos professores da rede estadual, implantar o passe livre para estudantes e o bilhete único, construir pelo menos uma escola de tempo integral em cada um os 185 municípios pernambucanos e mais quatro novos novos hospitais, além de 20 mil casas populares.