agora vai?

Para especialista, Dilma deve encaminhar pautas sociais para o Congresso neste ano

Professora de Ciências Políticas da UFSCar avalia que mídia foi a principal derrotada e que presidenta terá de equilibrar as demandas dos movimentos e do PMDB, dois atores importantes na reeleição

Paulo Pinto/Fotos Públicas

‘Esta campanha mostrou mais do que nunca que é preciso fazer a regulamentação da mídia’, diz Maria do Socorro Sousa

São Paulo – A presidenta reeleita Dilma Rousseff (PT) deve encaminhar ainda este ano ao Congresso Nacional projetos para avançar nas pautas sociais, como a criminalização da homofobia e a legalização do aborto, já que no ano que vem, com a vitória expressiva de parlamentares conservadores, será mais difícil encaminhar os temas, de acordo com a professora de Ciências Políticas da Universidade Federal de São Paulo (UFScar), Maria do Socorro Sousa. Segundo a especialista, essas pautas são históricas dos movimentos sociais, que fizeram a diferença para garantir a vitória apertada de Dilma no segundo turno. A petista terminou com 51,6% dos votos contra 43,4% de Aécio Neves (PSDB).

“Seria excepcional encaminhar essas pautas sociais ainda este ano para o Congresso Nacional, com o poder majoritário das urnas. Com essa bancada que hoje ainda apoia o Executivo seria possível avançar. A população que votou nela e os movimentos sociais acreditam que essas mudanças são fundamentais. O eleitorado ia se fortalecer e ela começaria um novo mandato mais fortalecida com esses segmentos”, avalia a especialista.

Maria do Socorro não acredita que, mesmo com uma base reduzida na próxima legislatura, a presidenta encontrará pela frente grande dificuldade de governar, já que deve reforçar as alianças. “Mas em matéria de direitos morais sem dúvida será mais difícil, por mais que os novos parlamentares apoiem o governo. Com a eleição da ‘bancada da bala’ e com a força das igrejas na Câmara será difícil caminhar pautas relacionadas a segurança e direitos sociais. Por isso, é urgente encaminhar esses temas ainda neste ano”, afirma. “A princípio, a presidenta terá uma base restrita, mas que crescerá ao longo da legislatura, com as alianças.

A professora reforça que os movimentos sociais foram fundamentais para garantir a vitória de Dilma e que eles esperam uma reaproximação da presidenta com as bases. “O impacto da militância de diferentes setores foi muito importante nestas eleições. Estava tudo difuso, mas agora parece que a militância acordou. Ela percebeu isso e ao meu ver já estava com uma postura diferente no final da campanha. Pelo discurso final ela se mostrou aberta ao diálogo e a atender essas demandas.”

Apesar da necessidade de reforçar o diálogo com os movimentos sociais, Maria do Socorro avalia que o novo governo Dilma não poderá enfraquecer alianças políticas, entre elas com o PMDB, partido que mais elegeu prefeitos em 2012: 1.024 das 5.568 prefeituras no país (18,4% do total). “Ela dependeu dos movimentos sociais, em principal nas grandes cidades, mas também dependeu muito da capilaridade do PMDB, porque a maioria dos votos dela veio de cidades pequenas, onde o partido é muito influente. Ela terá que jogar com a demanda destes dois setores, mesmo com os conflitos de interesse. Será um mandato complexo deste ponto de vista.”

Na opinião da especialista quem saiu perdendo foi a mídia tradicional, que claramente investiu na tentativa de enfraquecer a campanha petista. Na última sexta-feira (24) a revista Veja adiantou a publicação de sua capa trazendo denúncias infundadas envolvendo a candidata Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso de corrupção na Petrobras. A Editora Abril, responsável pela publicação, foi condenada no início da noite de sábado (25) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por crime eleitoral, mas não publicou direito de resposta com o mesmo espaço de destaque que deu paras as denúncias.

O Jornal Nacional escolheu repercutir a matéria também no sábado, de forma que um possível direito de resposta para o Partido dos Trabalhadores só saísse após as eleições. Ainda no sábado, depois da notícia que o doleiro Alberto Youssef foi internado em um hospital, boatos começaram a circular nas redes sociais afirmando que ele havia sido envenenado e estava morto. A Polícia Federal, no entanto, negou a suspeita por meio de nota.

“A vitória de Dilma expressou a derrota da mídia tradicional. A mídia já tinha perdido em 2006, quando o Lula foi reeleito e o resultado de ontem leva a mesma avaliação. Está na hora de fazer uma reforma na comunicação para rever os monopólios. Ela teria que brigar para conseguir apoio para fazer algo dessa natureza”, diz. “Esta campanha demonstrou mais do que nunca que é preciso fazer a regulamentação da mídia. Eu penso que esse é o principal temor da grande imprensa.”