Segundo turno

‘Churrascão da Gente Desinformada’ repudia FHC e critica mídia tradicional

Ato em São Paulo inspirado no Churrascão da Gente Diferenciada contou com apresentações musicais e manifestações contra apoio de meios de comunicação à candidatura Aécio

Danilo Ramos / RBA

Praça Roosevelt, centro da capital. Ato repudia preconceito demonstrado por FHC contra eleitores do PT

São Paulo – A Praça Roosevelt, na região central de São Paulo, começou a encher ontem (14), antes das 19h, horário em que estava marcado o Churrascão da Gente Desinformada. Organizado pelo coletivo Fora do Eixo, PT, PCdoB e UNE, o ato foi feito em repúdio à declaração do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, em entrevista recente ao portal UOL, de que o eleitor petista é “menos informado”.

Entre os presentes se viam muitas bandeiras da presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição, jovens, idosos e crianças. Centenas de pessoas, de movimentos sociais a artistas. Gente de diferentes regiões da cidade de São Paulo e do país.

Alguns foram até a praça por conta das apresentações musicais intercaladas com falas de apoio à campanha de Dilma e pela transmissão do primeiro debate do segundo turno entre os presidenciáveis na TV Bandeirantes. Outros estavam ali por não concordar com a declaração de FHC, nem com as propostas do tucano Aécio Neves.

A programação começou com a Liga do Funk, grupo com cerca de 50 integrantes de diferentes lugares da capital paulista. A apresentação garantiu a animação da plateia, já grande, que se mantinha colada ao pequeno palco, onde MCs se apertavam e revezavam o microfone.

“Quem quer que a esquerda ganhe?”, perguntou um deles. E logo emendou com uma exaltação à presidenta Dilma e o ‘clássico’ “eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, e poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar”. A agitação de alguns membros do grupo era grande e resultou em um som paralelo, logo atrás do palco. “O funk é 13”, canta um manifestante, em alusão ao número do PT nas eleições.

Thiago Biano, de 26 anos, morador do Grajaú, zona sul, e um dos DJs da Liga do Funk, diz que foi ao evento porque o grupo foi convidado, mas que não tem em quem votar. Ele  trabalha com desenvolvimento de sites e tem uma loja virtual de roupas. Conta que aprendeu tudo sozinho. Ao saber da declaração de FHC, ironizou: “Sou desinformado e voto nulo”.

Já MC Chava, de 19 anos, morador do Itaim Paulista, na zona leste, vai votar na candidata petista. Disse que não faz a escolha “com muita alegria”, mas por “falta de opção”. O MC comentou que não pode “se iludir”, que é preciso cobrar saúde, educação. Atrás dele, alguém no palco puxa a plateia: “Dilma-lá, brilha uma estrela”.

O MC disse que o governo do PT ajuda o funk, por meio de incentivos culturais, mas que ainda é pouco. Interessado em política, diz que Levy Fidelix, candidato do PRTB à Presidência no primeiro turno, foi machista com a candidata do Psol, Luciana Genro, durante debate. Para ele, a psolista foi a única a se preocupar em colocar em pauta o direitos das mulheres.

“Desinformado é o FHC”, disse Chava, que contou com orgulho que aprendeu praticamente sozinho webdesign, programação, desenvolvimento de software, entre outras habilidades, e já fez mais de 300 sites.

Sem água, com críticas

Aos poucos, a praça e os arredores foram tomados. Os bares também lotaram, mas estavam sem água. Segundo o funcionário de um dos estabelecimentos, todos os dias a água falta entre 20h e meia-noite.

Contudo, nem a “seca” conseguiu desanimar os participantes. No microfone, pessoas se revezaram para declarar votos e explicar motivos. Críticas à “postura elitista” do candidato Aécio Neves e da grande parcialidade da mídia tradicional foram constantes nos discursos.

“Disseram que seria dez minutos para cada candidato na propaganda eleitoral no segundo turno, mas não é isso que eu vejo. São 40 minutos pro Aécio e dez pra Dilma”, protestou um membro do movimento hip hop, que acredita que o “tempo a mais” de propaganda para Aécio é dado pela mídia tradicional.

Fernando Henrique foi lembrado novamente. Um ator nordestino que mora em São Paulo gritou: “Nordestino não é burro, nordestino quer qualidade de vida”.

MC Crespo cantou o resultado das eleições do poder Legislativo: “Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez, o Congresso é de vocês”.

A escritora negra Tula Pilar declarou o voto em Dilma. Mineira, reside em São Paulo há 20 anos. Foi empregada doméstica e conta que quase morou na rua depois que uma “patroa” a demitiu porque ela queria “muitos direitos”.

Tula foi do Sindicato das Domésticas na época da aprovação da PEC da categoria, emenda que garante direitos trabalhistas para profissionais da área. Ela contou orgulhosa que conseguiu completar o ensino médio na Educação de Jovens e Adultos (EJA), e que fez diversas capacitações.

A animação ao relembrar da própria história, rivalizou com a ansiedade para acompanhar o debate dos presidenciáveis. Tula se juntou ao número já bem reduzido de pessoas que continuavam na praça, mas que comemoravam e vaiavam como se assistissem a um jogo de futebol.

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