Reta final

Para analistas, segundo turno entre Dilma e Marina é imprevisível

Governistas apostam em apoios e projetos realizados e PSB em igual tempo de TV no segundo turno. PSDB ainda acredita em virada

Analistas políticos e líderes partidários veem cenário consolidado de disputa entre Dilma e Marina

São Paulo – Na opinião de analistas políticos e lideranças ligadas ao PT e ao PSB, o cenário da eleição presidencial de 2014, em seu primeiro turno, está consolidado e não há mais perspectivas de mudanças ou surpresas que possam colocar o tucano Aécio Neves no segundo. Se as pesquisas não mentem, Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) são consideradas certas na disputa de um segundo turno que se prevê muito equilibrado. Levantamento divulgado hoje pelo Ibope mostra a presidenta na liderança, com 39%, seguida por Marina, que tem 31%, e Aécio Neves estacionado em 15%.

O PSDB, pelo menos publicamente, trabalha com a ideia de que, passada a onda de choque e comoção provocados pela morte de Eduardo Campos, dia 13 de agosto, que alavancou a candidatura de Marina Silva à cabeça de chapa do PSB e sua ascensão nas pesquisas, haverá na reta final uma retomada da razão por parte da população, que perceberá que Marina não tem quadros para governar e que a gestão Dilma se esgotou.

Mas a expectativa de que Marina se revele um fenômeno semelhante a Celso Russomanno, que às vésperas da eleição para a prefeitura de São Paulo, em 2012, era dado como certo no segundo turno e acabou ficando fora, é irreal, na opinião do cientista político Vitor Marchetti, professor da Universidade Federal do ABC. “Não vejo qualquer chance de isso acontecer. A Marina tem um recall grande, em 2010 teve mais de 20 milhões de votos. Ela está num patamar consistente em relação à última eleição. É muito diferente do fenômeno Russomanno, que tentava surfar na onda da novidade mas não tinha substância.”

Além do “recallde 2010, outro dado a ser considerado como aspecto favorável a Marina, na opinião de Marchetti, é o crescimento do PSB nas eleições municipais de 2012. Na época, o partido de Eduardo Campos ganhou 132 prefeituras a mais em relação a 2008, saltando de 310 para 442 prefeitos, o que representa crescimento de 42,5% em quatro anos.

Para Maria do Socorro Sousa Braga, cientista política da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), embora tenha defecções em relação ao apoio a Dilma, o PMDB do vice presidente e candidato à reeleição, Michel Temer, é um fator que pode desequilibrar no segundo turno, caso Dilma e Marina confirmem o favoritismo. “Por mais que haja divisão e racha, o PMDB e o PT são os partidos com maior capilaridade no país inteiro, principalmente em cidades médias e pequenas”, avalia.

Em agosto, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) declarou que apoiaria Aécio Neves. Durante seu governo, Dilma teve grandes dificuldades com os comandados do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líder do partido na Câmara. E, em São Paulo, o candidato peemedebista ao governo do estado, Paulo Skaf, tem se esquivado de declarar que apoia Dilma, apesar de seu partido ser da base de apoio no Congresso. No início do mês, Temer colocou panos quentes na postura de Skaf. “Falam tanto que ele é contra a candidatura, mas quando ele diz ‘eu voto em Michel Temer’ é porque ele vota na Dilma”, afirmou.

Apesar de ter perdido 177 prefeituras em 2012, o PMDB é o partido que elegeu o maior número de prefeitos no país e o PT chegou em terceiro lugar, atrás do PSDB. A legenda de Temer ganhou 1.024 cidades nas últimas eleições e a de Dilma Rousseff venceu em 635. No total, ambos os partidos venceram em 1.659 municípios. O PSDB conseguiu fazer 702 prefeitos em 2012 e, junto com o PSB, conquistou 1.144 municípios.

Maria do Socorro acredita que a petista ainda tem outro trunfo: “a candidatura de Dilma tem maior entrada nos setores populares, que ainda é maioria do eleitorado”. Para ela, os programas sociais como o Mais Médicos e o aumento do salário mínimo são exemplos de políticas que sustentam a candidatura nas classes mais baixas. Mas a cientista política não vê facilidades para a candidata governista e acredita que, no segundo turno, provavelmente o eleitorado do PSDB vai apoiar majoritariamente Marina. “Vai ser todo mundo contra o governo. Marina vai ficar muito forte se conseguir o apoio do PSDB, inclusive para governar.”

Aliados das duas líderes defendem as candidatas com argumentos cautelosos, mas otimistas. Para o deputado Vicente Paulo da Silva (PT-SP),o Vicentinho, líder do PT na Câmara, a morte de Eduardo Campos foi essencial para a subida de Marina, mas a fase está passando. “Eles usaram muito o emocional depois do trágico acidente. Mas agora a população está refletindo e por isso a Dilma está crescendo novamente”, diz o parlamentar. Ele concorda que o segundo turno entre Dilma e Marina é a tendência e acredita em um embate duro. “É uma das eleições mais difíceis para nós. Vamos terminar o primeiro turno bem na frente, mas o segundo turno vai ser outra história”, prevê.

Para o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), com tempos iguais na propaganda eleitoral na TV no segundo turno, sua candidata deve equilibrar a disputa com a presidenta. Para ele, a curva ascendente de Dilma Rousseff nas últimas pesquisas era esperada. “Com um minuto e 40 e levando a quantidade de pancada que Marina está levando, e Dilma com 11 minutos, e dando a pancada que está dando, e usando a máquina, a gente imaginou que ela poderia recuperar essa tendência de crescimento.”

Delgado vê estabilização no quadro, com Dilma mantendo a liderança até o fim do primeiro turno, Marina equilibrada entre 30 e 34 pontos percentuais e Aécio em cerca de 15. “No segundo turno, com o tempo de TV igual, acaba a distorção e aí é uma contra a outra.”

Aliado próximo de Aécio Neves e considerado seu braço direito no estado, o deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB em Minas, avalia que os 15% atribuídos pela pesquisa a Aécio são fruto de circunstâncias imprevistas, mas acredita na reversão do quadro.

Três ondas

Pestana avalia que o processo eleitoral foi marcado por “três ondas”. A primeira teria sido marcada pela “arrogância” de João Santana, o marqueteiro responsável pela campanha de Dilma, que no final do ano passado previu a vitória da presidenta no primeiro turno. A segunda, na opinião de Pestana, foi a trágica morte de Eduardo Campos, que catapultou Marina. E a terceira, que está por vir, seria um momento de razão, no qual a população perceberá que Marina não tem quadros para governar e a presidenta será derrotada pela rejeição.

Para o analista Vitor Marchetti, não haverá surpresas muito grandes até a eleição em primeiro turno e a reta final antes do dia 5 de outubro já é uma prévia da disputa final. “Veremos Dilma e Marina concentrando o debate, antecipando os argumentos do segundo turno, o que já tem acontecido. Acusação de ambas as partes, temas como financiamento de banco à campanha de Marina, independência do Banco Central etc. A tendência é que isso se mantenha.”

Já o duelo decisivo é imprevisível, na visão de Marchetti. “O segundo turno é uma grande incógnita. Hoje ninguém pode apostar em quem sai na frente. Acredito que as duas saem rigorosamente empatadas, com uma margem muito pequena de conquista de eleitores. Acho que essa eleição tende a ser decidida por muito poucos votos.”