Rumos

PSB começa debate sobre posição no segundo turno, com tendência pró-Aécio

Marina e Beto Albuquerque sinalizam apoio ao tucano, enquanto Amaral e Erundina pregam que debate seja feito dentro do partido. Giannetti se diz a favor do PSDB e Neca Setúbal evoca sentimento de mudança

Alice Vergueiro/Futura Press/Folhapress

Beto, “gaúcho”, diz não ter disposição para esquecer críticas do PT contra ele e Marina

São Paulo – A principal questão a ser respondida após o primeiro turno da eleição presidencial é para onde vai o PSB de Roberto Amaral, Beto Albuquerque e Luiza Erundina no segundo turno. A escolha do partido e da coligação (PSB, PPS, PPL, PHS, PRP e PSL) entre Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) vai ser firmada após reuniões a partir de terça ou quarta-feira.

Mas algumas indicações já são claras. Vice de Marina, o deputado federal pelo Rio Grande do Sul, Beto Albuquerque, internamente deve defender o apoio a Aécio. Embora tenha usado o clichê de que sua posição será a do partido, sua ressalva indica que não será a favor de Dilma. “Minha posição é a do PSB, mas não sou um cara de esquecer ofensas e calúnias. Eu sou gaúcho”, disse. “Eu teria muita dificuldade em apoiar, estou falando pessoalmente, e em votar numa candidatura que desferiu todo tipo de golpe para chegar onde está hoje, que é a candidatura da Dilma.”

Aliado ao vice de Marina nesse posicionamento, o economista Eduardo Giannetti não disfarça. “Pessoalmente tenho minha posição. Vou apoiar Aécio. O caminho que o país está indo economicamente é um equívoco”, disse.

O presidente do partido, Roberto Amaral, considerou que o resultado foi surpreendente e atribuiu a derrota da candidatura ao reduzido tempo de TV e ao tamanho das máquinas do governo e de PSDB e PT.

Na coletiva à imprensa, jornalistas insistiram em que Marina respondesse como foi para ela ter “apanhado de ex-colegas”do PT. “Estamos no segundo turno com o nosso programa e os nossos valores”, desconversou. Mas a fala de ex-ministra do Meio Ambiente foi interpretada como um aceno ao posicionamento pró-Aécio, ao insistir na necessidade de mudança.

Sua mentora, Neca Setúbal, declarou, ao chegar pouco antes de Marina ao evento, que a proposta é de mudança, mas que não considera que as agressões devam ser o fator principal para balizar ou definir o posicionamento. “Propusemos à sociedade um projeto de mudança em relação ao governo que está aí, ao tipo de política do atual governo. Mas não vamos reduzir isso às agressões. Acho que as agressões fizeram parte de uma campanha, mas não tem a ver com o que era pauta e o cerne do nosso programa”, afirmou Neca.

Reeleita deputada federal pelo PSB paulista, Luiza Erundina se manifestou dizendo ser precipitado tomar decisões individuais. Segundo ela, o ideal seria que se chegasse a um consenso entre os partidos da coligação. “Se surgir a possibilidade de uma posição unitária, excelente. Senão, cada um seguiria a sua orientação. Eu não pretendo me posicionar a respeito sem ouvir a direção partidária que deve se reunir entre terça e quarta-feira.”

Questionada sobre o fato de ser difícil vê-la apoiar uma candidatura tucana, Erundina despistou. “Vamos ouvir primeiro o que o partido diz, pra que seja não uma  posição isolada, porque sou daquelas que acha que a política é uma ação de sujeitos coletivos. Vou disputar posições no partido, vou seguir a posição da maioria, que não sei qual será.”

Marina chegou ao comitê montado na Lapa, zona oeste de São Paulo, às 21h40, acompanhada de seu vice Beto Albuquerque. Sua expressão era sorridente e de aparente tranquilidade, após os aplausos e do coro da plateia gritando seu nome. “Os brasileiros já não querem ser apenas espectadores da política”, disse a terceira colocada no primeiro turno. “O programa de governo é a base do diálogo para o segundo turno.”

O clima no bem-estruturado setor de eventos no condomínio comercial já era de conformismo e resignação muito antes da chegada da candidata, dada como favorita nas semanas subsequentes à morte de Eduardo Campos no dia 13 de agosto, mas com forte queda nas últimas semanas.

Logo após a divulgação de pesquisa de boca de urna do Ibope, por volta das 19 horas, militantes já comentavam em rodas de conversas discretas as impressões da eleição. “Faltou muito material de campanha”, observou um deles. “No segundo turno não vou votar nem em Dilma nem em Aécio”, garantiu seu interlocutor.

Ao responder sobre ataques, Marina fez novamente o papel de pessoa “do bem” que norteia o marketing da Rede Sustentabilidade. “Meu objetivo não era destruir a Dilma ou o Aécio, o PT e o PSDB.”