ENCONTRO CULTURA E JUVENTUDE

GOG e Emicida, ícones do rap, apoiam Dilma por diálogo e mudanças sociais

Genival Oliveira Gonçalves, mais conhecido por GOG, considerado um dos grandes poetas e ícones do estilo, e Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, participam de ato pró-Dilma em São Paulo

Ichiro Guerra / Dilma 13

Para GOG, voto em Dilma é estratégico, porque PT dialoga com movimentos sociais que buscam transformar o país

São Paulo – Duas gerações distintas do rap nacional estavam bem representadas no palco do “Encontro Cultura e Juventude: Periferia com Dilma”, que ocorreu ontem (20), na zona leste paulistana. De um lado Genival Oliveira Gonçalves, mais conhecido pelo seu nome artístico GOG, considerado um dos grandes poetas e ícones do estilo, e de outro Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, um dos mais talentosos rappers da geração mais contemporânea do estilo no país. Ao final do evento, que reuniu a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os dois artistas conversaram com a reportagem sobre as razões pelas quais apoiam a candidata à reeleição pelo PT.

“Meu voto, muito mais por ser pelo PT, é o de uma estratégia política, de manter um diálogo com o governo, entendeu? Nós não temos essa possibilidade com o outro governo, com o outro candidato. Até porque ele já deixou claro suas propostas, bem claro, enquanto a gente quer as ideias iluminadas pra que a gente possa enxergar”, declara GOG, um dos pioneiros do rap do Distrito Federal e um dos mais influentes compositores da geração que construiu e consolidou o gênero musical como uma das mais importantes manifestações culturais e críticas contemporâneas das periferias brasileiras.

“Rota no Brasil todo não é plano de governo para nós. Corrupção não pode pautar a discussão presidencial, até porque a corruptividade que gera a corrupção está em todo lugar. A gente tem que discutir o que é diferente nos governos. E, na realidade, mamãe não quer voltar a esquentar a barriga no fogão fazendo comida pra eles”, diz o rapper, nascido no Sobradinho, em 1965, e crescido no Guará, duas das principais cidades-satélites da capital federal, onde as condições de vida contrastam muito com a Brasília do Plano Piloto.

Há 20 anos, GOG lançou o álbum Dia a Dia da Periferia, no qual contém a faixa “Brasília Periferia”, cujos primeiros versos são “Aqui a visão já não é tão bela / Brasília periferia Santa Maria é o nome dela / Estupros, assaltos, fatos corriqueiros / Desempregados se embriagam o dia inteiro.” E qual é a “visão” 20 anos depois da emblemática canção que o renomado compositor brasiliense tem para sua realidade? “A visão ainda não está uma maravilha, a gente tem consciência disso. Tem muito problema para ser resolvido, mas pelo menos a gente pode continuar discutindo a mudança e as estratégias de ocupação desse espaço que não tá bom ainda.”

Emicida, que nasceu duas décadas depois de GOG, despontou como uma das grandes revelações das chamadas rinhas de Mcs (batalhas de rimas improvisadas) na periferia de São Paulo. “Eu acredito nessa chave que o PT virou há 12 anos e acredito que mais chaves como essas precisam continuar a ser viradas. Não é fácil e nunca é fácil, a meu ver, na dimensão do nosso país, mas acredito que tem uma grande mudança positiva que aconteceu, e que o Brasil precisa continuar mudando nesse caminho. Por isso que eu tô nessa noite aqui”, conta o rapper, criado no Jardim Fontalis, um dos bairros mais pobres da zona norte paulistana.

“Achei bonito, achei emocionante, estar com meus companheiros de luta, a rapaziada do hip hop, dos movimentos de cultura da (zona) leste, todos os zicas mesmo. A rapaziada que corre atrás de verdade, sem ganhar um centavo às vezes, só para que a cultura permaneça viva, igual eu corri durante muito tempo”, acrescenta Emicida, que viu sua carreira ganhar impulso com a divulgação na internet de EPs, mixtapes e videoclipes realizados de maneira independente, que o colocaram como um dos principais nomes do cenário musical atual brasileiro.

“Nesse momento, graças a Deus, eu tenho um pouco mais de exibição, de distribuição da minha arte, mas isso não desconectou meu coração do meu cérebro. E a coisa mais importante é estar aqui, pra que o pobre que vença não seja sortudo, né mano, pra que essa se torne a regra. Eu quero que isso continue acontecendo”, finalizou.