Reta final

Amarildo, milícias, corrupção: em debate no Rio, todos contra Pezão

Candidato à reeleição é questionado sobre falhas da gestão Cabral, relações com a construtora Delta, valor da reforma do Maracanã, problemas na segurança e violência policial

Inácio Teixeira/Coperphoto/Fotos Públicas

O ex-governador Garotinho e o atual, Pezão, durante debate na Globo: ensaios para o segundo turno

Rio de Janeiro – “Pezão, cadê o Amarildo?”. A pergunta sobre o paradeiro do corpo do pedreiro assassinado por policiais da UPP da Rocinha, feita pelo candidato do Psol ao governo do Rio de Janeiro, Tarcísio Mota, dá o tom do que foi na noite de ontem (30) o último debate na televisão entre os cinco principais postulantes ao Palácio Guanabara. Por quase duas horas, o governador e candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão, do PMDB, foi o alvo preferencial de críticas desferidas também pelos adversários Lindberg Farias (PT), Marcello Crivella (PRB) e Anthony Garotinho (PR). Líder nas pesquisas, Pezão desempenhou o papel de equilibrista entre as diversas críticas ao governo de Sérgio Cabral, de quem foi vice por sete anos e meio.

Com Lindberg e Crivella atuando em dobradinha e utilizando as regras do debate para obrigar o governador a ouvir réplicas e tréplicas dos adversários sem poder intervir em algumas discussões, as críticas a Pezão começaram logo na primeira pergunta do debate, quando, após o petista prometer “reativar o projeto dos Cieps de Brizola e Darcy Ribeiro”, Crivella qualificou o PMDB como “o coveiro do melhor projeto de educação que o Rio já teve, que foram os Cieps”.

Quando o tema foi transportes, com Garotinho perguntando a Lindberg, nova sessão: “O transporte no Rio está um caos. Os trens quebram todo dia, barcas e metrô estão superlotados e as empresas de ônibus fazem o que querem. O estado tinha que fiscalizar, mas não fiscaliza. A agência reguladora não fiscaliza nada porque Cabral e Pezão indicaram para sua composição gente do PMDB, deputado, chefe de gabinete… Até o tesoureiro do PMDB foi indicado para fiscalizar as empresas de ônibus. O tesoureiro que, em época de campanha, vai pedir dinheiro a essas mesmas empresas”, disse o candidato do PT.

Pezão também sofreu no embate direto. A relação do governo do PMDB com a construtora Delta, do empresário Fernando Cavendish e investigada em uma CPI por suas ligações com o contraventor Carlinhos Cachoeira, foi trazida ao debate por Crivella. O candidato do PRB, ao mencionar uma célebre foto que mostra o empresário e integrantes do primeiro escalão do governo estadual em um restaurante de luxo em Paris, pediu explicações ao governador sobre a “orgia dos guardanapos”. O “superfaturamento do Maracanã” também foi citado por Crivella, que indagou: “Você não sabia de nada disso, Pezão? Se sabia, por que não denunciou?”

Quando o assunto foi segurança pública, Pezão, além de ouvir a cobrança sobre o pedreiro Amarildo, foi criticado pelos adversários pela “conivência do governo com a expansão das milícias” ou pelos novos casos de corrupção envolvendo o comando da Polícia Militar no Rio. Não faltaram críticas ao governador também em outros temas, como a política de remoções de comunidades para as Olimpíadas ou o financiamento de campanha: “Tendo Amil e Bradesco Saúde entre os principais doadores de campanha, como o senhor poderá defender a saúde pública?”, indagou Tarcísio Mota.

Nas cordas

Em relação à segurança pública, citando o nome das maiores comunidades onde foram instaladas as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), Pezão disse: “Eu me orgulho de ter participado de um governo que, pela primeira vez em 30 anos, entrou nas comunidades e liberou mais de 450 mil pessoas dentro de Manguinhos, da Rocinha, do Alemão, do Pavão-Pavãozinho, do Cantagalo, de toda a Tijuca, do Batam e da Vila Kennedy.”

Pezão também usou os números para defender o governo nas áreas de saúde – “Eu participei de um governo que criou as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) que atenderam mais de 24 milhões de pessoas e distribuíram mais de 120 milhões de remédios” – e da economia: “Nosso governo trouxe 326 mil empresas pra o estado e abriu 1,16 milhão de postos de trabalho com carteira assinada.”

Ao questionamento sobre o paradeiro de Amarildo, retrucou: “Se teve um governo que investiu na elucidação de crimes e desaparecimentos, foi o nosso. As câmeras que detectaram o desaparecimento do Amarildo fomos nós que colocamos dentro da comunidade. Nesse estado, sumiam diversos Amarildos por dia e ninguém ficava nem sabendo. Numa cidade com 101 mil habitantes como é a Rocinha, o chefe do tráfico é que determinava quem subia e quem descia. Hoje, lá tem até delegacia”, disse.

“Cabrão”

Mesmo sem estar presente, o ex-governador Sérgio Cabral acabou se tornando o sexto participante do debate, com os adversários de Luiz Fernando Pezão em todo momento buscando associar os dois: “Os escândalos no governo estadual levaram um milhão de pessoas às ruas do Rio para gritar ‘Fora Cabral’. Votar no Pezão é votar no Cabral. Cabral é Pezão e Pezão é Cabral”, disse Marcelo Crivella.

Os momentos mais engraçados do debate se deram durante as citações ao ex-governador. Mota provocou risos até em Pezão quando disse que Anthony Garotinho não podia atacar Cabral, pois também tinha “atitudes cabralinas”. Já o petista Lindberg Farias levou parte da plateia no estúdio às gargalhadas: “O senhor se parece tanto com o Cabral que não deveria se chamar Pezão, deveria se chamar Cabrão”, disse. Lindberg também associou Pezão, Cabral e Garotinho: “Vocês todos se parecem muito. O Pezão foi braço direito do Garotinho, foi secretário da Rosinha e foi indicado pelo Garotinho ao Sérgio Cabral”, disse.