Lá e cá

Em baixa, Marina Silva desiste de criar partido próprio em 2014 e acena à direita

Em uma semana, candidata do PSB autoriza material conjunto com Alckmin em São Paulo, sobe no palanque do clã Bornhausen em Santa Catarina e desiste de criar a Rede Sustentabilidade ainda neste ano

vagner campos/msilva online

Ex-ministra foi pressionada a cumprir acordos firmados por Campos, inclusive o apoio velado à candidatura de Serra

São Paulo – A candidata a presidente pelo PSB, Marina Silva, está em baixa nas pesquisas eleitorais: após um mês e meio de crescimento constante na preferência dos eleitores, em especial os indecisos ou que migraram do campo de apoio ao tucano Aécio Neves após a entrada da ex-ministra na disputa, a tendência se inverteu. Hoje, diferentes levantamentos mostram a candidata estagnada ou em tendência de queda; e se, em um primeiro momento, Marina era favorita para vencer um eventual segundo turno contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), hoje aparece empatada ou atrás nas pesquisas.

O movimento, aparentemente, é de refluxo dos eleitores tucanos e conservadores: enquanto Marina cai, Aécio, hoje no terceiro lugar da preferência do eleitorado, recobra o fôlego e dá sinais de crescimento, em especial nas regiões Sul e Sudeste. E, para conter a sangria, a campanha de Marina investe nesse público: no início da semana começou a veicular em todo o estado de São Paulo o material conjunto de campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) para governador e Marina para presidente. Aliança inicialmente rejeitada pela candidata, que diz considerar o governador de São Paulo um representante da “velha política”, acabou viabilizando-se por pressão de seu atual partido, o PSB, aliado histórico dos tucanos no estado de São Paulo e que indicou o candidato a vice na chapa de Alckmin, o deputado federal Márcio França.

As alianças embaralhadas aproximam Marina e Alckmin há tempos: desde agosto, os candidatos a deputado federal do PPS, partido aliado de Marina na disputa a presidente e de Alckmin na disputa a governador de São Paulo, aparecem na propaganda de TV pedindo votos para Marina e Alckmin.

A princípio, a situação parecia problemática: Duarte Nogueira, presidente do PSDB de São Paulo, chegou a dizer que se tratava de “engano”, uma vez que o material do PPS e dos tucanos é produzido pela mesma empresa, e Roberto Freire, presidente nacional do PPS e um dos candidatos com material “misto” de TV, acusou o PSDB de agir de “má-fé”. As inserções de TV, no entanto, nunca foram alteradas, e seguem sendo veiculadas normalmente.

O candidato a vice-presidente de Marina, Beto Albuquerque, também apareceu em pessoa em vídeo da campanha de Alckmin para dizer que o tucano “tem nosso (do PSB) respeito e nosso apoio”, já que Eduardo Campos, candidato a presidente pelo PSB até 13 de agosto, quando morreu em um desastre aéreo, via em Alckmin “um exemplo”. Já à época da morte de Campos e da definição de Marina como candidata, houve mudança de posição: a ex-ministra foi pressionada a cumprir acordos regionais firmados por Campos, inclusive o apoio velado à candidatura de José Serra (PSDB) a senador, em detrimento do apoio oferecido inicialmente a Eduardo Suplicy (PT). Nos bastidores, ambos são cotados para integrar um eventual ministério de Marina Silva.

Marina é candidata pelo PSB, mas representa, na verdade, a Rede Sustentabilidade, partido que tentou criar em 2013 a tempo de concorrer às eleições e que não foi oficializado por não atingir o número de assinaturas exigido pela legislação eleitoral. Por isso, trata em separado os acordos políticos firmados pelo partido em que está filiada atualmente e os compromissos da militância da nova legenda. A previsão era concluir o processo de criação da Rede ainda em 2014, mas, segundo o coordenador nacional da legenda, os planos foram postergados para 2015, como forma de mostrar “gratidão” à sigla que emprestou aos “sonháticos” de Marina a base legal e institucional para a candidatura atual.

Ontem (23), em Santa Catarina, Marina realizou novo gesto de aproximação com as forças mais conservadoras que orbitam sua candidatura: subiu no palanque de Paulo Bornhausen, candidato a senador pelo PSB. Ele é filho e herdeiro político de Jorge Bornhausen, governador biônico do estado durante a ditadura civil-militar (1964-1985) e liderança do PFL e do DEM até 2011, quando aposentou-se. O filho também militou pelo PFL e pelo DEM, até ser convidado ao PSB por Eduardo Campos.

Lá, Marina elogiou as políticas ambientais de Santa Catarina, onde deputados estaduais irritados com a rigidez do Novo Código Florestal (considerado pelo movimento ambientalista, pelo contrário, excessivamente frouxo) tentaram criar, em 2009, um código florestal estadual próprio, que permitia mais desmatamento; a medida foi considerada inconstitucional.

No que diz respeito à sustentabilidade, o estado é conhecido ainda por ter permitido a construção de um Shopping Iguatemi, do grupo empresarial de propriedade de Tasso Jereissati, do PSDB do Ceará, sobre um mangue no bairro Santa Mônica. O shopping segue construído sobre zona de proteção ambiental e em operação. Bornhausen, que foi secretário de Desenvolvimento Sustentável do estado nos últimos três anos, destaca em sua biografia no site de campanha a atração de uma fábrica da montadora BMW para o estado como principal ação de sua gestão.

A proximidade entre PSB e políticos ligados ao DEM também é antiga: em 2011, quando o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab liderou o racha no partido que levou à criação do PSD, pelo qual hoje concorre a senador, o PSB cogitou fundir-se com a nova sigla, somando a suas fileiras os conservadores descontentes com o insucesso eleitoral do PFL e do DEM depois que passaram a ser oposição, com a eleição a presidente de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2003.

Nesse arranjo, o novo partido de Kassab serviria apenas como “ponte” entre o DEM e o PSB: como a lei proíbe que parlamentares que trocarem de partido mantenham suas cadeiras nos parlamentos, mas permite a mudança no caso de novas legendas (caso do PSD à época), a fusão serviria para “driblar” as restrições legais. A manobra, que poderia ser mal recebida pela opinião pública, acabou não sendo realizada.