Em nota, nova reitora da PUC-SP apresenta propostas de gestão e cala sobre polêmica

Estudantes fazem ato que chamam de 'Enterro da democracia' na universidade, em resposta à decisão de cardeal

Os alunos consideram que Anna, menos votada na lista tríplice enviada ao cardeal, não tem condição de tomar posse (Foto: Diogo Moreira/Frame/Folhapress)

São Paulo – A nova reitora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a professora de Letras Anna Cintra, apresentou, em nota, propostas para sua gestão nos próximos anos. “Nosso plano de gestão visa principalmente a recuperar o prestígio e a posição de destaque que a Universidade ocupou em seus tempos áureos”, diz ela no texto. A nota, entretanto, não mencionou nada sobre a polêmica que a universidade vive há duas semanas, por conta de sua nomeação para o cargo. O problema começou depois que Anna, terceira colocada na votação feita pela comunidade, foi levada ao cargo máximo da entidade. Ela aceitou a decisão, mesmo tendo assinado compromisso prévio de que não tomaria posse caso não fosse a escolhida por alunos, funcionários e professores. 

Após dar entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no dia 14 deste mês, quando os estudantes iniciaram uma greve, Anna não se pronunciou mais sobre o movimento estudantil e se recusa a dialogar com os centros acadêmicos que o encabeçam. No dia anterior a este, ela foi oficializada na reitoria pelo cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, presidente da Fundação São Paulo (Fundasp), que mantém a universidade, sem a maioria dos votos dos estudantes, professores e funcionários. “A universidade vai acabar assumindo que a escolha é de quem pode escolher, que é o dono da casa, que é o chanceler, que tem o direito estatutário de escolha”, disse ela àquele jornal. 

O regimento da PUC-SP prevê que o presidente da Fundasp, que ocupa o cargo de Grão-Chanceler da universidade, escolha o reitor a partir de uma lista tríplice de candidatos ao cargo votados pela comunidade acadêmica, entre estudantes, professores e funcionários. O Grão-Chanceler pode escolher, por direito, qualquer um deles, já que a votação é considerada “consulta à comunidade”, no estatuto. Contudo, tradicionalmente, ele escolhe o mais votado. 

Estudantes, professores e funcionários que estão em greve consideram sua nomeação um atentado à democracia. Para eles, o cardeal a indicou porque ela é católica e orientará o ensino da instituição às filosofias da Igreja.

A nota sobre a gestão que Anna pretende fazer vem logo após um conflito entre o cardeal e o Conselho Universitário. Na última quarta-feira (28), o órgão colegiado, composto por professores e representantes do alunos e que é responsável pelo encaminhamento da lista tríplice ao clérigo, decidiu que a posse de Anna, marcada para hoje, fosse suspensa. Foi-lhe apresentado pelos centros acadêmicos um pedido de impugnação da candidatura da professora, e por 14 votos a 7 os conselheiros suspenderam a lista tríplice e nomearam o conselheiro Marcos Tarciso Masett como reitor interino. O Conselho Universitário considerou que a professora cometera uma quebra de decoro por quebrar a promessa de não assumir o cargo caso não fosse a mais votada.

No entanto, a Fundasp divulgou hoje (30) outra nota comunicando que o cardeal julgara a decisão do conselho nula de pleno direito e que ratificava a posse de Anna. Pela manhã, ela tentou entrar na reitoria, mas foi impedida por um cordão de alunos que chamavam-na de golpista. Anna, então, retirou-se da universidade. Segundo a Comissão de Imprensa do movimento estudantil, ainda não está decidido se os estudantes continuarão a impedi-la de entrar na reitoria em próximas tentativas.

A professora afirma que sua gestão procurará resgatar a excelência da PUC-SP, com base na autonomia acadêmica e na manutenção da instituição a serviço da sociedade. “Temos um plano específico para reforma do Campus Monte Alegre, onde estão instaladas as Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes (Faficla), de Economia Administração Contábeis e Atuária (FEA), de Direito, de Ciências Sociais e de Educação. Isso inclui a revitalização, modernização, ampliação e manutenção de acervo, informática, laboratórios de ensino e pesquisa. Além de um projeto de zeladoria de forma a conservar o patrimônio da PUC-SP.”

Segundo a nota, outro objetivo é ampliar a atratividade de cursos que representam a excelência da universidade e vêm perdendo visibilidade, como licenciatura, serviço social, letras, fonoaudiologia, fisioterapia e enfermagem. “Para pôr em prática as mudanças pretendidas, a nova reitoria necessitará revisar fluxos acadêmicos e administrativos, a fim de garantir autonomia às unidades (reitoria, setores acadêmicos, teatro, biblioteca etc.), e unificação dos processos, provendo mais agilidade”, diz o texto.

A despeito de ignorar a greve geral, Anna também afirma, no texto, que vai dialogar com a comunidade acadêmica durante sua gestão. “Levantaremos todas as informações da gestão anterior e criaremos os espaços de diálogo necessários tanto com a comunidade universitária quanto com a mantenedora Fundação São Paulo para planejar o percurso dos próximos quatro anos”, afirma.