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Documento ‘Pátria Educadora’ precisa ter PNE como base, dizem especialistas

Elaborado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), documento que relaciona ações para colocar em prática slogan do governo precisa de mais sintonia com o Plano Nacional de Educação (PNE)

Marcelo Camargo / ABr

Mangabeira Unger: Proposta preliminar do ‘Pátria Educadora’ começa a dar conteúdo a diretrizes do PNE

Brasília O documento Pátria Educadora: A Qualificação do Ensino Básico como Obra de Construção Nacional terá de ser modificado para que possa ser implementado no país, segundo entidades que atuam no setor. O documento, elaborado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) e apresentado a um grupo de especialistas em São Paulo e posteriormente debatido na Câmara dos Deputados, é uma versão preliminar. Mesmo assim, causou estranheza entre os que tiveram acesso a ele. Um dos motivos é não ter como base o Plano Nacional de Educação (PNE).

Para o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, o Pátria Educadora precisa contemplar o PNE, sancionado no ano passado, sem vetos, pela presidenta Dilma. O PNE prevê metas para a educação para os próximos dez anos, desde o ensino infantil à pós-graduação, incluindo a formação e valorização dos professores e a destinação de pelo menos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano para o setor no final da vigência.

“O documento ainda precisa ter diálogo com o PNE, essa era a nossa expectativa, quando Dilma anunciou o Pátria Educadora“, diz. “Para dar certo, o PNE depende fortemente da implementação inicial. Precisa que o projeto seja bem implantado, para continuar crescendo e esses quatro primeiros anos têm demandas centrais que precisam ser desenvolvidas para que dê certo”.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, concorda com Cara. “(O Pátria Educadora) é um documento muito complicado. Alguns temas não têm relação com o PNE. Propõe carreira para professores enquanto o PNE fala também dos demais profissionais”, diz.

O Pátria Educadora elenca uma série de ações para que o slogan do governo seja colocado em prática. Entre elas, está o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) online, a utilização de tecnologias, sobretudo vídeos e softwares interativos, em sala de aula, criação de centros de qualificação avançada para formar professores e a criação de uma variante do Programa Universidade para Todos (ProUni), o Profaped, que se destinará a conceder bolsas de estudo a estudantes que ingressem nos cursos de pedagogia e de licenciatura.

“Revisei o documento e a grande dúvida que ficou é: que lugar esse documento ocupa na política nacional de educação? Qual o propósito desse esforço fora do MEC (Ministério da Educação)?”, questiona a coordenadora-geral do movimento Todos pela Educação, Alejandra Velasco.

O documento foi enviado a especialistas por e-mail com uma mensagem do ministro da SAE, Mangabeira Unger, que diz que foi elaborado a pedido da presidenta Dilma Rousseff. Consta ainda que os diretores de escolas com desempenho insatisfatório receberiam apoio e orientação. Em último caso, seriam afastados e substituídos. O texto propõe também a criação de escolas federais de referência, as Escolas Anísio Teixeira, que servirão como “espaço privilegiado para o experimentalismo pedagógico”, diz o texto, voltada para “alunos com maior potencial”.

“Essa escolas teriam um processo de seleção rigorosa. A gente já sabe, já debateu, é ponto pacifico (entre especialistas) essa ideia de que escolas federais são ótimas. A gente sabe que são ótimas porque a clientela é ótima, porque os alunos já são selecionados. O professor médio não encontra essas condições. Como faz para lidar com diferentes perfis de alunos? Lidar com diferentes níveis de aprendizagem, com bagagem de nível socioeconômico? Essa é a dificuldade. Surpreende um pouco esse tipo de proposta”, analisa Alejandra.

Mangabeira escreveu aos especialistas e entidades alguns dias depois para esclarecer “algumas divergências”. Em relação ao PNE, diz que é uma “lei-arcabouço”. “(O PNE) fixa metas e define procedimentos. Invoca conceitos abstratos como o do regime de cooperação dentro da Federação sem dar-lhes conteúdo institucional. A proposta preliminar do Pátria Educadora começa a dar conteúdo a estas diretrizes. Demarca trajetória para transformá-las em realidade”.

Procurado, o MEC diz que está “debruçado sobre as metas do PNE”. “Qualquer contribuição é bem-vinda, seja da sociedade, governo, entidades”.