derrota bolsonarista

Comissão barra perseguição a professor que associou Bolsonaro à tortura

Rogério Correia (PT-MG) comemorou primeira derrota de Nikolas Ferreira (PL-MG) à frente da Comissão de Educação na Câmara: “Eles queriam criminalizar um professor que disse que o bolsonarismo é uma vertente do fascismo”

Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Para Tarcísio Motta (Psol-RJ) moção contra professor que asssociou à tortura serve para jogar famílias contra educadores

São Paulo – A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados derrubou nesta quarta-feira (27) uma moção de repúdio contra um professor de História que afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro “promove torturador e tortura”. O deputado Gustavo Gayer (PL-GO), que apresentou a moção, acusava Jadir Ribeiro Anchieta de cometer proselitismo em sala de aula. Foram 20 votos contra a proposta e 13 a favor.

O deputado Rogério Correia (PT-MG) comemorou a primeira derrota da ala bolsonarista liderada por Nikolas Ferreira, que preside a comissão. “Eles queriam criminalizar um professor que disse que o bolsonarismo é uma vertente do fascismo”, afirmou.

“Ele é professor de História, sabe o que está dizendo. E é a pura verdade”, disse Correia, pelas redes sociais. Para ele, a investida dos bolsonaristas ameaça a “liberdade de cátedra”. E mandou um recado a Nikolas: “Perdeu, mané. É melhor conduzir direito as reuniões da Comissão de Educação, ou perde o boné”.

O caso

Jadir Anchieta é professor de História em uma escola estadual na cidade de São Bonifácio (SC). Em 1º de março, ele respondeu a um aluno que disse sentir saudades de Bolsonaro. “A gente não pode sentir saudades de um cara que promove torturador e tortura”.

Ao mesmo tempo, o docente chamou Bolsonaro de “nazista e ladrão”. Outra aluna rebateu: “E o Lula que é ladrão, professor?”. Jadir disse então se tratar de “calúnia e difação”, já que não pesam condenações contra o atual presidente. Nesse sentido, alegou que sua prisão pela Lava Jato tratou-se de uma “armação do Judiciário”.

Além disso, ele ainda associou Bolsonaro ao movimento supremacista norte-americano Ku Klux Klan (KKK). E a outros líderes da extrema direita mundial, como Donald Trump e o presidente argentino, Javier Milei. Alunos registraram as discussões em sala e, posteriormente, os vídeos foram parar na imprensa local. Para Gustavo Gayer, Jadir seria um dos “militantes travestidos de professores que contribuem para a corrosão do sistema de educação brasileiro”.

Fatos corroboram as falas do professor

Os fatos, no entanto, corroboram com a abordagem do professor. Durante as eleições de 2018, por exemplo, David Duke – ex-líder e rosto mais conhecido da KKK – disse que Bolsonaro “soa como nós“, manifestando apoio aberto ao então candidato. Ao mesmo tempo, é publica a relação de Bolsonaro com o ex-presidente dos Estados Unidos – a quem já dedicou um “I love you” (eu te amo) – e Milei.

Além disso, são inúmeras as declarações de Bolsonaro, ainda como deputado, defendendo a tortura, como citou o professor. Do mesmo modo, na votação do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, saudou a memória do major Carlos Alberto Brilhante Ustra, o mais conhecido torturador da ditadura.

“Há espaço de supervisão e coordenação (nas escolas) que devem olhar, inclusive, e discutir os limites éticos de uma fala de um professor”, afirma Tarcísio Motta (Psol-RJ). “Essa moção não discute nada disso. Ela é um instrumento para jogar as famílias brasileiras contra os profissionais da educação.”

Proteção aos professores

A deputada Carol Dartora (PT-PR) foi além. Disse, por exemplo, que os professores não devem ter medo de dizer em sala de aula que Bolsonaro “foi um genocida”. Ela disse que o ex-presidente promoveu intencionalmente a morte de 600 mil brasileiros durante a pandemia. “O professor deve estar protegido para promover os conteúdos históricos.”

Já Fernanda Melchionna (Psol-RS) criticou os trabalhos de Nikolas à frente da Comissão de Educação. “É lamentável que essa comissão – claro, presidida por vossa excelência – só podia estar servindo de palco a discursos da extrema direita e fake news. A comissão poderia estar discutindo os 10 milhões de analfabetos que o nosso país ainda tem. Nas escolas públicas, 50% ainda não têm bibliotecas. Podia estar discutindo o piso nacional do magistério.”

O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), por sua vez, chegou a bater na mesa, em apoio a Gayer. “Vocês vão ter que aturar o conservadorismo nessa comissão”, bradou. Nikolas, no entanto, lamentou a derrota. “Acredito que ainda tem de haver uma mudança de composição da comissão para que haja um equilíbrio maior.”