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Sem surpreender, Copom anuncia sétima alta consecutiva e leva juros a 10,5%

Com isso, taxa básica atinge o maior nível em mais de dois anos. De abril até agora, elevação foi de 3,25 pontos percentuais

Bia Fanelli/Folhapress

Os diretores do Banco Central, em Brasília, vêm promovendo altas de juros desde abril de 2013

São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou na noite de hoje (15) uma nova elevação da taxa básica de juros, a sétima seguida. A alta foi de meio ponto percentual, para 10,5% ao ano, a maior taxa em dois anos, desde novembro de 2011 (11%). Com isso, a Selic subiu 3,25 pontos percentuais nos últimos nove meses.

A decisão foi unânime e sem viés, “dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros”, segundo comunicado divulgado pelo Copom imediatamente após a reunião, a primeira de 2014. A próxima será realizada em 25 e 26 de fevereiro. A maioria das apostas era de alta de 0,25, mas nos últimos dias também se consolidou a possibilidade de um aumento ainda maior.

“Este sétimo aumento consecutivo da Selic é totalmente injustificável. A inflação média anual obtida nos três últimos anos é a mais baixa desde o Plano Real”, reagiu o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro. “O Copom perdeu uma boa oportunidade para estancar a alta dos juros que só atende ao apetite insaciável do mercado financeiro e do capital especulativo e prejudica os trabalhadores e a sociedade brasileira”, acrescentou.

Segundo ele, “se a inflação está controlada, não há motivos que justifiquem o pessimismo sobre os rumos da economia em 2014, como alardeiam as vozes enlouquecidas do mercado para pressionar o governo e levar vantagens”.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) diz que o aumento era esperado diante do “acelerado ritmo da inflação em 2013” e acrescenta que o Copom não dá sinais sobre o fim do ciclo de altas. Para a entidade, isso depende “de uma política fiscal mais ativa no combate à inflação, com controle mais rigoroso dos gastos correntes”.

O ano “começa mal”, lamenta o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiesp) e do Centro das Indústrias do Estado (Ciesp), Paulo Skaf, para quem o Copom voltou a errar. A decisão indica, segundo ele, que “a esperada retomada da indústria ficará para depois”. “Precisamos nos libertar da política exclusiva de aumento de juros e ter como novo foco o crescimento econômico. A inflação precisa ser contida, mas é necessário buscar alternativas para combatê-la que não penalizem tanto a atividade econômica e a vida das empresas e das pessoas.”

“Mais uma vez o governo se curva aos interesses dos especuladores. As consequências da elevação da taxa são mais do que notórias: redução do consumo, da produção e do emprego”, afirmou, em nota, o presidente da Força Sindical, Miguel Torres. “A medida evidencia a falta de prioridade do governo com relação ao crescimento econômico e, sobretudo, com relação ao desenvolvimento econômico.” Para a central, “a política monetária precisa ser subordinada ao projeto de desenvolvimento do país, e não o contrário”. Torres avalia que a nova alta dos juros “agrava ainda mais o cenário, já pessimista, para 2014”.

O presidente da Força diz considerar o governo “errático”, ao reeditar medidas paliativas, sem um projeto de crescimento sustentado. “Combater a inflação é importante, sim. Mas, o governo persiste nos mesmos erros, tratando o crescimento econômico e a geração de empregos unicamente como retórica.”

Para o presidente da CTB, Adilson Araújo, o novo aumento “é uma afronta aos interesses do povo brasileiro e de sua classe trabalhadora”, em uma decisão que coloca “em xeque” o desenvolvimento do país.

Segundo cálculos da Anefac (associação de executivos de finanças), com a nova taxa básica os juros do cartão de crédito sobem para 9,41% ao mês ou 194,23% ao ano e os do cheque especial, para 8,01% ou 152,1%. O empréstimo pessoal em bancos vai a 3,24% ao mês (46,61% ao ano) e em financeiras, a 7,2% (130,32%). A taxa média praticada pelo mercado chega a 5,64% ao mês ou 93,17% ao ano.