Preços

Inflação preocupa e deve continuar elevada, mas sem ‘descontrole’

Mesmo com baixo crescimento, Banco Central deve continuar aumentando a taxa básica de juros para fazer a variação de preços se realinhar com o centro da meta anual, de 4,5%

Marcelo Camargo/ABr

Compras no supermercado: grupo Alimentação, com variação de 6,88%, foi dos que mais pressionou a inflação neste ano

São Paulo – A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), seguiu alta durante 2013, acima dos 6% anualizados, e deve seguir nessa toada ao longo do ano que se aproxima, segundo quase todas as previsões, com pressão no setor de serviços, o que faz com que as altas sejam mais sentidas no dia a dia. As apostas agora se dividem em relação a quando os preços podem começar a ceder. Aparentemente, não será tão cedo. Ao divulgar o seu relatório trimestral de inflação, no último dia 23, o Banco Central (BC) estimou que o IPCA continuará elevado em 2015, mas com possibilidade de iniciar um “longo período de declínio”, até chegar ao centro da meta (4,5%). E adianta que o Comitê de Política Monetária (Copom) “irá fazer o que for necessário” para que isso aconteça. Assim, é possível esperar novas altas de taxa básica de juros (Selic), apesar do cenário de baixo crescimento econômico – o próprio BC prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá 0,2% este ano.

Isso já será possível constatar na primeira reunião do Copom em 2015, marcada para 20 e 21 de janeiro. Desde abril de 2013, o Copom iniciou um ciclo de altas, com alguns intervalos. Nesse período, a taxa básica foi de 7,25% ao ano, seu menor nível histórico, para os atuais 11,75%. No relatório trimestral, o BC avalia que a inflação vai adquirir uma “composição sustentável”, por efeito da elevação dos juros, de uma política fiscal “mais contida” e moderação no crédito. Identifica tendência de “exaustão” de alguns processos de realinhamento de preços e acredita que haverá certa “moderação salarial”. Em seu cenário de mercado, prevê 6,4% para o IPCA este ano, 6% para 2015 e 4,9% em 2016.

A preocupação se justifica, mas o que houve com a inflação nos últimos tempos esteve longe de significar um “descontrole”, como insistiram a oposição e mesmo alguns analistas. Em artigo na Fundação Perseu Abramo, o economista Emilio Chernavsky, por exemplo, lembra que o IPCA deve completar em 2014 o seu 11º ano seguido dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (que tem 6,5% como teto, dois pontos acima do centro da meta) e é similar ao de outras economias emergentes.

Também é verdade que, na gestão Dilma, a inflação média é inferior ao do período Fernando Henrique Cardoso: 6,1% ao ano, de 2011 a 2013, ante 9,1% de 1995 a 2002 (e 5,8% sob Lula, de 2003 a 2010). Mas é preciso relativizar a comparação, à medida que nos anos 1990 o Brasil ainda tentava domar o dragão inflacionário – de 1986 a 1994, a inflação anual foi de 842,5%, em média, caindo para 9,1% no período 1995/2003 e 5,5% de 2004 a 2013. Ou seja, o país vem conseguindo vencer a guerra contra os preços, que às vezes sobem por razões sazonais ou por outras fontes de pressão. Mas o fato é que a última vez em que o IPCA fechou o ano acima de dois dígitos foi em 2002, último ano do governo FHC (12,53%). Ainda a favor de Dilma, pode-se dizer que ela recebeu um cenário internacional mais complicado.

Neste último ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff, o IPCA está acumulado em 5,58%, de janeiro a novembro. Deve fechar perto do teto, em torno de 6,4%, taxa semelhante à de 2011 (6,5%) e acima de 2012 (5,84%) e 2013 (5,91%).

Alguns itens exerceram maior pressão sobre a inflação. Enquanto o índice geral soma 5,58% no ano, o grupo Alimentação sobe 6,88%, com o item carnes, por exemplo, acumulando variação de 17,81% em 2014. O grupo Habitação tem alta de 8,25%, também acima da média, e apenas o item energia elétrica residencial chega a 16,46%. Neste começo de 2015, devem pesar mais preços de energia e de transporte, entre outros. O resultado final de 2014 será conhecido em 9 de janeiro.