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Haddad quer menos juros; Lira e Pacheco cobram déficit zero

A representantes do mercado financeiro, Haddad afirmou que há muita “gordura monetária”. Lira e Pacheco defenderam déficit zero no ano que vem, mas suavizaram as cobranças

Diogo Zacarias/MF
Diogo Zacarias/MF

São Paulo – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender a redução na taxa básica de juros. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros (Selic) em meio ponto percentual, para 12,25%. Foi o terceiro corte seguido, levando a taxa ao menor nível em um ano e meio. Para Haddad, no entanto, ainda há “gordura monetária para queimar”.

“Nós estamos em um momento em que temos condições de fazer a economia crescer e temos muita gordura monetária ainda para queimar”, afirmou Haddad, durante evento promovido pelo banco BTG Pactual, em São Paulo, nesta segunda-feira (6).

De acordo com o ministro, as ações do governo vêm contribuindo para a redução da inflação, o que permite a queda da taxa de juros, abrindo mais espaço para o crescimento econômico. “Não está sendo baixada a inflação na marra, artificialmente. Está sendo feito um trabalho para que isso aconteça, já em um ciclo de cortes (dos juros), que, na minha opinião, vai continuar, porque nós vamos continuar trabalhando em parceria para continuar esse ciclo de cortes”, acrescentou.

Haddad estimou que o país fechará o ano com um crescimento de 3% do Produto Interno Bruto (PIB). A arrecadação, entretanto, não deve crescer “nem 1%”, devido a “meteoros” do passado que dificultam a receita do governo federal.

Ele se referiu a decisões do Congresso e da Justiça que causaram perdas de cerca de R$ 65 bilhões. Nesse sentido, ele afirmou que o resultado fiscal é um trabalho de “parceria”. E que o Legislativo e o Judiciário têm de entender as “repercussões” das suas decisões.

Lira e Pacheco pressionam

Também participaram do evento os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Pacheco disse que Haddad vem fazendo um “bom trabalho” à frente da equipe econômica. E disse que é preciso “muita cautela com os pronunciamentos de todos nós sobre economia” para evitar reações negativas do mercado financeiro.

Além disso, defendeu o equilíbrio das contas públicas, mas suavizou a cobrança. “A meta deve ser continuamente perseguida e buscada. Se lá na frente ela não for alcançada, é uma outra coisa. Mas não podemos deixar de ter a tônica do encaminhamento do combate ao déficit público”.

Na semana retrasada, durante um café da manhã no Palácio do Planalto, o presidente Lula disse que “dificilmente” cumprirá a meta de zerar o déficit primário no ano, causando alarido em setores da imprensa e do mercado.

Lira também classificou a fala de Lula como “natural”, mas disse que o Congresso não deve mudar as metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal. “Nosso foco é continuar trabalhando incansavelmente para atingir (a meta). Se não atingir, não é porque não quer, é porque não conseguiu mesmo. E, se não conseguir mesmo, tem as consequências do arcabouço que serão aplicadas.”

As regras do novo arcabouço fiscal preveem déficit fiscal zero já no ano que vem. Assim, com margem de tolerância de até 0,25 ponto percentual do PIB, o resultado primário poderá variar entre déficit de 0,25% a superávit de 0,25% em 2024. Nos últimos dias, notas na imprensa tradicional chegaram a especular sobre uma eventual mudança na meta.

“Eu não tive, particularmente, nenhuma conversa, nem com o presidente Lula, nem com o ministro Haddad e nem com ninguém da área do governo, que viesse me atestar que iam modificar o envio da meta. Não”, disse Lira.