Distribuição de renda é a saída para melhorar desempenho das economias em crise, diz agência da ONU

São Paulo – As desigualdades de renda e riqueza em todo o mundo não são um produto inevitável da globalização, argumenta relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e […]

São Paulo – As desigualdades de renda e riqueza em todo o mundo não são um produto inevitável da globalização, argumenta relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês). A crescente concentração de renda limita o potencial econômico das nações ao diminuir a procura de bens e serviços e ao reduzir as perspectivas educacionais e a mobilidade social de suas populações, diz o estudo intitulado “Políticas para o crescimento inclusivo e equilibrado”, divulgado hoje (12). “Os resultados podem e devem ser revertidos pela intervenção do governo por meio de fiscalização e da criação de políticas para o mercado de trabalho”, afirma o texto.

Por conta do grande avanço da globalização ao longo deste período de 30 anos, vários economistas têm argumentado que as disparidades crescentes de renda são o resultado necessariamente do comércio internacional rapidamente crescente e dos fluxos financeiros, e de avanços rápidos na tecnologia.

O relatório observa que metas pela redução da desigualdade são válidas, não só por razões de justiça e bem-estar social, mas porque melhoram o desempenho econômico. De acordo com o relatório, famílias de baixa e média renda empenham proporções muito maiores de seus salários em consumo, avalia o documento – e o consumo cria a demanda que impulsiona as economias modernas.

“A excessiva concentração de renda foi um dos fatores que levaram à crise global, uma vez que esteve relacionada a incentivos perversos para pessoas com altos ganhos e ao endividamento elevado em outras faixas salariais”, diz o relatório. O texto prevê que não haverá uma recuperação significativa da recessão até que os grupos de baixa e média renda alcancem recursos suficientes para gastar em consumo.

Nos países desenvolvidos, as desigualdades crescentes resultaram, em parte, das mudanças de comportamento no setor corporativo. Ao invés de reagir a uma maior concorrência internacional por meio de melhoria de produtividade do investimento, as empresas tendem a criar lucros ao deslocar sua produção para países de baixos salários. Grande parte dos lucros resultantes foram utilizados para pagamentos de dividendos e a recompra de ações para maximizar o valor do acionista. Como resultado, a contenção salarial nacional tem sido acompanhada por ações de rendimento crescentes entre os grupos de alta renda. Nas economias em desenvolvimento, os resultados distributivos da globalização e das inovações tecnológicas são dependentes das alterações nas estruturas de produção, afirma o relatório.

No entanto, quando a globalização liderada pelas finanças conduz à prematura desindustrialização e às crises, como na América Latina, as oportunidades de trabalho se deslocam da indústria para as atividades menos produtivas ou os trabalhadores desempregados tendem a diminuir os níveis salariais e aumentar as desigualdades de renda. Crises financeiras e privatizações prolongadas de empresas estatais também alteraram a estrutura das empresas, resultando no aumento da riqueza e da concentração de renda, concluiu o relatório.