Crédito cresce 8 vezes mais no banco público que no privado

Ministro Guido Mantega mostra dados do Banco Central para afirmar que o sistema financeiro estatal é eficiente agente de política econômica e contribui para o desenvolvimento

São Paulo – Os bancos públicos estão ajudando o Brasil a enfrentar a crise internacional e ainda são um importante instrumento para o governo federal intervir na economia e até mesmo para regular o sistema financeiro nacional. A afirmação é do ministro da Fazenda, Guido Mantega, feita esta semana durante o seminário sobre bancos públicos realizado em São Paulo pelo jornal Valor Econômico.

Segundo dados do Banco Central, apresentados por Mantega, enquanto os privados elevaram suas carteiras de crédito em 2,5% desde o início da crise, entre setembro do ano passado e abril, os públicos registraram evolução de 19,5%.

“Além do volume, os bancos estatais oferecem as menores taxas. Os spreads continuam exagerados, mas temos conseguido reduzir as taxas com os bancos públicos. Em resumo, o sistema financeiro estatal é um eficiente agente de política econômica, fomenta a concorrência no setor e contribui para o desenvolvimento do Brasil. Aliás, as economias que menos sofrem com a crise são as que têm sistema econômico estável e uma forte participação dos bancos públicos”, disse o ministro.

Além de destacar que “são os bancos públicos que estão sustentando o aumento do crédito nesta crise”, Mantega afirmou que se o Brasil dependesse dos bancos privados, estaria numa condição pior. “Se havia alguma dúvida com relação à importância dos bancos públicos, a crise deixou clara essa importância”, destacou.

O ministro disse ainda que, além de elevar os empréstimos, os bancos públicos atendem segmentos esquecidos pelos privados, o que contribui para o desenvolvimento econômico e social do país. Ele citou os investimentos feitos pelo BNDES, o financiamento à agricultura e ao comércio promovido pelo Banco do Brasil, os empréstimos para habitação da Caixa Econômica Federal e a política de desenvolvimento regional do Banco do Nordeste e do Banco da Amazônia.

“Os bancos públicos são poderosos instrumentos de política econômica e de política anticíclica. A participação do governo federal na economia aumentou muito na administração de Lula e isso não seria possível sem os bancos públicos. Em 2002, por exemplo, o volume de crédito em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) girava em torno dos 20%. Hoje representa mais de 40%, o dobro”, detalhou, explicando que o sistema financeiro estatal tem objetivos diferentes do privado e, ainda assim, os bancos públicos brasileiros são os mais rentáveis do mundo.

Perfil diferenciado

A Caixa Econômica Federal é destaque no financiamento à habitação. Principalmente após o início da crise. Até então, o crédito imobiliário andava no mesmo patamar de crescimento, na casa dos 30%. A partir do agravamento das turbulências externas, em setembro, a Caixa passou a elevar as concessões, que atingiram um ritmo de crescimento de 46,7%, em abril. Por outro lado, os bancos privados desaceleraram e registram avanço médio de 22,3% no mesmo mês.

Para a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, também presente ao evento, o papel dos bancos públicos é mais importante hoje no Brasil, pois o fortalecimento dessas instituições ocorre ao mesmo tempo em que os bancos privados reduzem o desembolso de crédito. “Hoje combatemos a crise gerando liquidez e crédito e reduzindo o spread e os juros. Essa resposta à crise só foi possível por decisões tomadas anteriormente, com o amplo processo de fortalecimento dos bancos públicos feito pelo governo federal. Houve aumento da governança e melhora da gestão. Se fosse em 2003, não teríamos condições de responder dessa forma”, afirmou.