Corte no orçamento não tem efeito sobre a inflação, critica especialista

Amir Khair critica redução de despesas do setor público para controlar variação de preços. Ele analisa que impacto será pequeno e ataca política monetária do país: 'O BC não é uma ilha'

São Paulo – O impacto do corte de R$ 10 bilhões no orçamento da União anunciado nesta quinta-feira (13) pelo governo federal será pequeno para o controle da inflação, analisa Amir Khair. O especialista em finanças públicas sustenta que a medida tem efeito psicológico e atende a demandas do mercado financeiro, interessado em elevação na taxa básica de juros da economia.

“O impacto será quase nulo”, vaticina Khair. “Não é o setor público que provoca o aquecimento da demanda, mas o consumo das famílias, movido pelo crescimento forte da massa salarial – que não vai parar de crescer – mais o crédito”, resume. Por isso, ele qualifica o corte no orçamento como uma tentativa de “enxugar gelo”.

Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o montante de restrições ao orçamento elevariam a R$ 31,8 bilhões o volume bloqueado. Outra parte já havia sido contingenciada em março.

Khair explica que a medida atende a interesses de analistas do mercado financeiro, principalmente os ligados a bancos. Esses agentes ganhariam, segundo a análise do especialista, tanto em operações de tesouraria – compra de títulos da dívida pública, remunerados pela taxa básica de juros – quanto elevando o juro dos empréstimos às famílias e às empresas.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por definir a taxa básica de juros da economia – a Selic – houve o primeiro aumento em 19 meses. O motivo da elevação foi o risco de que a inflação ultrapasse a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Nas atas das últimas reuniões do Copom, há alertas em relação à elevação das despesas correntes do setor público, o que poderia gerar problemas fiscais nos próximos anos, com prejuízo para o controle da variação de preços.

Amir Khair não considera que o corte no orçamento seja uma resposta eficaz ao Banco Central para evitar novas elevações de juros, porque ele vê a estratégia da autoridade monetária como suicida. “O Copom mira a inflação, quando fala do componente fiscal, refere-se ao aumento de demanda gerado. O que esquecem – ou não sabem – é que quando se aumenta a Selic, cria-se uma despesa”, detalha.

O que o especialista aponta é que os juros, ao mesmo tempo em que definem a correção da dívida pública, juntam-se às despesas correntes e aos investimentos na contabilidade do setor. Os juros entram na conta porque o setor é normalmente deficitário e precisa obter recursos emitindo títulos. Aumentar a taxa de juros significa elevar o próprio gasto.

“O Brasil é uma espécie de cassino internacional em que os investidores recebem altas taxas de juros com alta liquidez, porque o risco é baixo. Com isso, o país vai se empobrecendo, já que os juros consomem parte das riquezas, impede que se reduza impostos e que faça mais investimentos”, analisa.

Por causa disso, Khair acredita que o candidato vencedor das eleições presidenciais deste ano terá de alterar a política monetária. “O Banco Central vai ter de se enquadrar, porque ele não é uma ilha, precisa ter limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal”, sentencia.