Corte de juros pelo BC em agosto previa piora da crise externa, diz Tombini

Alexandre Tombini, presidente do Banco Central em reunião no Senado Federal (Foto: Wilson Dias/ ABr) São Paulo – A piora do cenário econômico externo havia sido prevista pelos membros do […]

Alexandre Tombini, presidente do Banco Central em reunião no Senado Federal (Foto: Wilson Dias/ ABr)

São Paulo – A piora do cenário econômico externo havia sido prevista pelos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), na reunião mais recente, em agosto. Alexandre Tombini, presidente da instituição, disse nesta terça-feira (27), no Senado, que enxerga menos pressão sobre a inflação nos próximos meses, em função da instabilidade internacional, o que abre mais espaço para cortes de juros.

Na ocasião reunião do Copom de agosto, houve corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica, a Selic, para 12% ao ano, em decisão que surpreendeu investidores do mercado financeiro e analistas ligados a bancos e à mídia. “O cenário internacional se tornou mais complexo no período recente, algo que nós já havíamos alertado (na ata do Copom)”, afirmou. 

Tombini disse não ter “bola de cristal”, mas considera que a interlocução permanente com autoridades monetárias de outros países permite uma visão privilegiada do cenário. Ao colocar a análise autônoma do BC sobre o cenário econômico brasileiro, ele reforça a ideia de que a condução da instituição mudou.

Desde a instalação do sistema de metas de inflação, em 1999, o Banco Central conduz decisões sobre a taxa de juros, tendo como principal referência a expectativa de bancos e do mercado financeiro – monitorada pelo boletim semanal Focus, publicado às segundas-feiras. A última reunião foi uma das raras vezes em que as projeções não foram acompanhadas pela decisão dos diretores do BC, que integram o Copom.

Declarações e sinais emitidos por membros do governo já indicavam a mudança e o afastamento em relação ao mercado. A onda de críticas após a redução de juros apontava para a perda de autonomia do Banco Central, embora economistas tenham lembrado que a política monetária – relacionada à taxa de juros e ao acompanhamento da variação do câmbio – precisa estar alinhada ao que prega o governo federal.

A próxima reunião do Copom está programada para 18 e 19 de outubro. Diante da nova postura do BC, parte do mercado já aposta em nova redução de 0,5 ponto percentual, o que levaria a Selic a 11,5% ao ano. O agravamento da crise da dívida soberana na Europa, especialmente na Grécia, onde o risco de moratória é considerado elevado, contribui para a revisão das projeções.

Inflação

Tombini afirma que a inflação no Brasil em 12 meses atingirá o seu pico no terceiro trimestre deste ano, para começar a recuar a partir do quarto trimestre. O centro da meta, de 4,5% ao ano, será alcançado apenas em 2012. Para este ano, a alta de preços ficará dentro da margem da meta de dois pontos percentuais para mais, segundo o presidente do Banco Central. Até agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 7,23%, acumulados em 12 meses.

“Estamos em uma boa trajetória para o controle da inflação”, disse Tombini. Ele afirma isso porque dados recentes de emprego, de uso da capacidade instalada e de confiança do empresariado indicam ritmo menor de crescimento da economia brasileira. Em um cenário assim, até pressões sazonais – como reajustes previstos em contratos de concessão de serviços públicos – tendem a ter menos impacto sobre a inflação.

A estabilidade das commodities (matérias-primas da agropecuária e da mineiração, com açúcar, soja, carne e minério de ferro, cotados em mercados internacionais) tem hoje efeito benigno para o controle de preços. O aumento nesses itens foi o principal causador da inflação entre o fim de 2010 e o começo deste ano.

Imposto sobre especulação

Na manhã desta terça, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo não vai rever a decisão de aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre derivativos cambiais – especialmente opções de compra e venda de dólares no mercado futuro. O início da vigência foi adiado duas vezes, o que despertou a expectativa de que haveria mudança de planos.

“Já tomamos as medidas necessárias e estamos fortalecendo a parte fiscal. Em relação ao dólar, houve exageros que foram coibidos e reduzidos. Portanto, não vamos nem temos previsão de mudar o IOF”, disse Mantega. De acordo com ele, não há nenhuma nova medida iminente.

Havia rumores de que a Fazenda e o Banco Central teriam divergências sobre a questão. O aumento da alíquota foi uma tentativa do governo à época de conter a negociação desses derivativos para diminuir o ritmo da valorização do real. Esse tipo de operação amplifica o efeito da especulação financeira, o que provoca oscilações maiores do que o esperado pelo volume de recursos negociados.

Como a tendência se reverteu, com alta do dólar, analistas enxergaram que a medida perderia sentido. No entanto, defensores da medida acreditam que ela pode conter variações também de desvalorização do real. A insatisfação do BC decorreria da necessidade de venda de reservas internacionais para fazer mais dólares circularem e reduzir o ritmo de valorização da moeda norte-americana.

Tombini, porém, descartou divergências com a Fazenda. “A medida sobre derivativos foi muito importante para o Brasil chegar neste momento de maior volatilidade dos mercados internacionais e menos apostas contra o dólar no nosso mercado, o que tornaria as coisas mais difíceis neste momento. Foi uma medida acertada”, afirmou.

Com informações da Agência Brasil e Reuters